“MORAL DA IDADE MÉDIA NO TERCEIRO MILÊNIO”, DE GUIMARÃES ROCHA

SOBRE O LIVRO “MORAL DA IDADE MÉDIA NO TERCEIRO MILÊNIO”, DE GUIMARÃES ROCHA

Por Gutemberg Honorato de Moura (*)

Desde a confirmação, pela ciência comum, de que o todo existente se transforma e desdobra ao infinito, entraram em agonia as idéias antigas que encobriam a morte com o véu do terror e do mistério.

Entraram em voga os excelentes conceitos da eternidade.

A vida tem a qualidade natural de continuar, mas a ignorância cuidou de transformar a morte em expectação pavorosa. Certas idéias sobre esse fenômeno acabaram produzindo, na humanidade, efeitos devastadores.

O conceito da morte como “o fim de tudo” ou “o abismo do nada”, é muito pobre.

Entretanto, a moral que garante ao homem o ingresso na serenidade, em vida ou na morte, é a mesma há muitos milhares de anos, para qualquer tipo de civilização, e dela se tem notícia, pelos legados dos povos, com o mesmo fundo, sempre, embora apresentada na linguagem de época.

O projeto deste livro faz justiça ao grande interesse despertado pela obra “Dante Vive (princípios educativos)”, publicada em Mato Grosso do Sul pelo escritor e poeta Guimarães Rocha. Aliás, a sua pós-graduação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul em 1996, ocorreu na nomenclatura Fundamentos da Educação, Concentração Filosofia. O então pós-graduando defendeu a tese exposta em sua monografia: “reflexões sobre a Obra de Dante Alighieri”. O trabalho obteve classificação “A”, com votos de louvor diante das turmas. A partir do êxito alcançado e difundido junto à comunidade acadêmica e observadores do mundo intelectual sul-mato-grossense, Guimarães Rocha publicou em 2001 o livro “Dante Vive (princípios educativos)”, que juntamente com outras 14 obras compôs a Coleção Recorde, constituída um feito inédito e inesquecível para os anais do universo cultural do nosso Estado e do País.

A repercussão da obra, embora apenas apresentando a síntese dos princípios educativos encontrados em Dante Alighieri (escritor e poeta considerado “A Alma da Idade Média”), motivou o início de um trabalho experimental junto à comunidade estudantil, que teve como primeiro público os alunos e convidados da Escola Estadual de 1º e 2º graus Padre João Greiner, em Campo Grande/MS. A obra “Moral da Idade Média no Terceiro Milênio” é um desdobramento da embrionária “Dante Vive”. Nela estão contidos, em estilo galopante e inovador, por paráfrases e encantadoras entrelinhas, os sublimes ensinamentos da imortal (e sempre atual) moralidade apreendida e difundida em oculto (alegorias) por Dante Alighieri, agora explicados em linguagem neoclássica e de fácil assimilação.

O despertar aqui proposto, em contraposição ao materialismo e ateísmo que assola o mundo intelectual, proporciona a retomada do cultivo dos valores em desgaste no seio da humanidade: compaixão, piedade, bondade, perdão, desprendimento, honestidade, serviço ao próximo. É à ausência dessas luzes, que podemos creditar tantos crimes e desatinos cometidos por indivíduos que, mesmo ilustrados por brilhantes conhecimentos, ostentando invejável currículo escolar, diplomas e honrarias, “repentinamente” apresentam inconsoláveis deformidades de caráter (chagas morais).

Com esta pioneira experiência de Mato Grosso do Sul, na delicada área da ciência (e da filosofia) da alma, queremos que, além de um “celeiro de farturas” e pólo de desenvolvimento, este Estado se notabilize pela sementeira de idéias transformadoras do mundo em que vivemos, no rumo de uma duradoura felicidade, fruto do autodescobrimento.

Temos com Guimarães Rocha, o prazer de refletir, meditar e compreender a existência, ao som de uma inédita canção de amor a Deus e à vida — revelada pela decodificação do teor secreto da obra de Dante Alighieri.

Aqui vigiamos a correlação entre plantar e colher, no terreno das atitudes; causa e efeito, ação e reação, no que tange à vida espiritual — que não guarda o céu e inferno apenas para a experiência “depois da morte”, mas, sim, também inferniza ou diviniza o homem aqui e agora, no mundo interior. Céu, Inferno e purgatório constituem as mais belas alegorias plantadas no mundo, para dar entendimentos, ao menos subliminares, a respeito dos diferentes estados da alma humana em qualquer plano imaginado.

Neste livro, mais uma vez nos deparamos com o caráter unitário de todas as coisas, quanto à essência divina que a tudo preside. Nada escapa a uma lei única que se desdobra em outras tantas leis – científicas e morais. Desde Hermes, há mais de cinco mil anos no Egito e em todos os tempos com os grandes vultos espirituais da humanidade, destacando-se Moisés com “Os Dez Mandamentos”, uma só fonte há, donde se extrai a compreensão de tudo quanto é divino, moral e consciencial a caminho da luz, do bem, do equilíbrio, da justiça, da harmonia, do amor em ritmo universal. Das antigas escolas secretas, temos hoje os livros e métodos de auto-ajuda, fórmulas de meditação e neofilosofias que ensinam o aprimoramento da percepção humana; as “escolas da fé” se multiplicam, as expansões do psiquismo assombram o mundo, entretanto a fonte – Deus – é a mesma. Também desse manancial se alimentou Dante Alighieri, repassando alegoricamente, dadas as limitações do seu tempo, uma cultura secreta que por intermédio desta obra ressurge à luz meridiana.

(*) Gutemberg Honorato de Moura

Jornalista, poeta

Guimarães Rocha
Enviado por Guimarães Rocha em 17/05/2006
Código do texto: T157917