O conceito de avaliação: mudar é preciso

O tema “avaliação da aprendizagem” é um assunto incessante na sociedade contemporânea, reflexo de debates e opiniões lançadas por educadores e profissionais da área da educação. Em seu artigo “Avaliação e Mudança: Necessidades e Resistências”, Júlio César Furtado expões ideias relevantes para a promoção de práticas educativas consistentes, que visem à aprendizagem significativa do alunado.

De acordo com o seu pensamento, o conceito de avaliação figura como uma incógnita que retoma as Cruzadas medievais. O questionamento acerca do ato de avaliar gira em torno da promoção da aprendizagem, na medida em que não haja apenas a transmissão pura do conhecimento, e sim o vislumbre e apreciação ao estudo e ao ensinar. Mas os primórdios da educação mostram o contrário. Documentos como o Ratio Studiorum e a Didática Magna de Comenius ilustram uma prática avaliativa imposta, rígida e descompromissada com a relação professor/aluno.

Faz-se necessário que a concepção do ato avaliativo se transforme. Assim, passaria a vincular-se com o processo constante de observação, que promova a realização de metas, o diagnóstico das imperfeições na aprendizagem do aluno e medidas que possam sanar estas dificuldades.

Avaliar de forma consciente e eficaz é resultado de uma prática voltada para o sucesso do aluno e para o promover de sua formação crítico-cidadã. Infelizmente, a avaliação que permeia a comunidade atual é herança de uma sociedade burguesa, na qual a competitividade é soberana e a classificação ganha caráter excludente, como mecanismos de manutenção dos mais “aptos” aos status sociais.

O ensino que se apresenta leva em consideração o estado em que se encontra o aluno e desconsidera sua trajetória de estudos quando o assunto é avaliar. Sendo assim, o processo avaliativo apresenta caráter inerte. Como resultado desse sistema, advém a alienação do discente e seu “insucesso” na vida profissional.

Afim de quebrantar este paradigma que assombra o processo de avaliação, é urgente perceber e efetivar uma nova postura do corpo docente acerca de suas práticas avaliativas. Desse modo, o professor verá que a prova como uma verificação, para constatar se seu trabalho está sendo eficiente no sentido de favorecer o sucesso de seu discente. O mito da avaliação “bicho-papão”, aos poucos, daria lugar à consciência esclarecida de um processo comprometido com a dinâmica ético-social.

Mas, para implementar esta nova visão sobre o avaliar, é preciso romper a ordem social vigente, na qual está pautada. Para tanto, o professor deve engajar-se na luta contra a resistência social (e escolar!) a esta necessidade de mudança. Avaliar reque incitar a prática docente; não somente o “passar conteúdo”, mas enxergar no outro a possibilidade de sua realização pessoal. E, ainda, deve voltar-se para a ética, para a construção da cidadania, centrada na aprendizagem coletiva e de qualidade, sem que haja exclusão.

Em última análise, mudar o preceito de avaliação exige a mudança de consciência referente ao cultivo de um ambiente social mais justo e igualitário. Este seria o objetivo da verdadeira avaliação: ser a matéria-prima na construção de uma sociedade baseada no bem-estar social, que garanta e respeite os direitos humanos e privilegie o ensino como forma de consolidação de novo conhecimento. A avaliação é o suporte da aprendizagem e, mediante sua consciente concretização, é possível impulsionar o ensino a outros horizontes.

Saulo Sozza
Enviado por Saulo Sozza em 31/01/2012
Código do texto: T3472196
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