As condicionais pelo viés semântico

O artigo “Uso(s) das orações condicionais” de Vanessa Pernas Ferreira e Violeta Virgínia Rodrigues aborda as condicionais sob as diferentes perspectivas apresentadas por grandes gramáticos do Língua Portuguesa. As autoras definem as condicionais, no âmbito das orações subordinadas adverbiais, como sendo “estruturas que tem valor de advérbio, exercem função sintática de adjunto adverbial, veiculam o conteúdo semântico ou a circunstâncias de condição e admitem tanto a forma desenvolvida quanto a reduzida”.

Desenvolvidas são as sentenças onde há a presença de um conector ligando a oração condicional à oração principal; e reduzidas são sentenças cujas orações apresentam-se justapostas sem a presença de conector algum.

Consoante Bechara (1992), as condicionais não só expressam condição , mas também podem trazer ideias de hipótese , eventualidade, concessão e tempo, e são, conforme Said Ali (1969), proposições que servem para exprimir um fato eventual , podendo denotar um acontecimento real ou aceito como real , entretanto em contradição com outro acontecimento. Este diz, também, que as condicionais são usadas nas argumentações com a intenção de persuadir o interlocutor.

Segundo cinco gramáticos citados pelas autoras, o uso de conectivos é um fator característico das orações subordinadas adverbiais desenvolvidas. Dentre um número expressivo de condicionais encontradas, notou-se que a conjunção se é a mais frequente, o que denota a preferencia do fante/escritor por tal conector. De acordo com Ferrari (2011), o se é um marcador de não-assertividade , ou seja, é utilizado quando a suposição não é afirmável.

Ao longo do artigo as autoras explicitam, mediante análise de corpus retirados de gêneros textuais, uma quantidade expressiva de conectores devidamente separados conforme seu conteúdo semântico encontrados nos gramáticos tradicionais, tais como: Cunha & Cintra (2001), Kury (2002) , Rocha Lima (2003) , Luft (1978), Bechara (1982) , Matos (2006,2007) entre outros.

Segundo explicitado pelas autoras do artigo, Barreto (1999) afirma que “os processos de gramaticalização experimentados pelas conjunções não atingem itens isolados, mas grupos de itens conjuncionais, ou seja, determinados processos atingem determinado grupo, enquanto outros se referem a outro conjunto de elementos”.

A respeito das orações condicionais e finais, Azeredo (2000) considera que fazem parte do mesmo grupo semântico, o da causalidade, uma vez que apresentam relação de causa e efeito. Ferreira (2007) estudou as condicionais sob a perspectiva funcional-discursiva, com a intenção de analisar as estruturas condicionais dentro de um contexto comunicativo, a partir dessa análise ela percebeu que há muitos casos de conjunções com valor temporal, e que as temporais são melhor interpretadas condicionalmente. Segundo ela, o que viabiliza que temporais e condicionais sejam classificadas de forma similar são as inferências de caráter pragmático. Ferreira (2007) levanta também outras questões a respeito da condicional quando iniciando orações.

O objetivo do artigo é mostrar que existem outros tipos de conjunções perfeitamente capazes de denotar causalidade, independente de ser pela forma prototípica (usando se ) ou por outras conjunções. As autoras chegaram a essa conclusão mediante análise de inúmeras gramáticas tradicionais que ao analisar vários corpus de contexto comunicativo, encontraram uma quantidade expressiva de conjunções que podem exercer função condicional.

Referência bibliográfica:

FERREIRA, Vanessa Pernas ; RODRIGUES, Violeta Virginia. “Uso(s) das orações condicionais”.IN: Articulação de orações:pesquisa e ensino. RODRIGUES, Violeta Virginia(org.). Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2010.

Monique Sampaio
Enviado por Monique Sampaio em 24/10/2014
Código do texto: T5009974
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