Crítica a Ismália...

O grandioso poeta mineiro, Alphonsus Henriques da Costa Guimaraens, principal representante do Simbolismo no Brasil. Escola literária esta que buscava materializar a origem crítica do ser humano através dos traços literários transcendentais, metafísicos, enfim, utilizando-se de linhas simbolistas. O sentimento, a ganância, a inocência, as ascensões e quedas do homem dentre outros ângulos críticos, eram elementos centrais dos poetas Simbolistas.

Unindo diversos elementos críticos, Alphonsus Guimaraens escreveu Ismália, que trás sutilmente em suas claras entrelinhas uma óptica singular da humilde e infeliz natureza do homem. Estes poetas se tornavam tão implacáveis em seus escritos por serem protegidos em seu Lema – Um poeta simbolista não diz nada, apenas sugeri – indiretamente falavam que não ofendem e sim as pessoas é que se deixam ofender, é como um ditado irônico popular: “não disse nome, mas se a carapuça serviu...”.

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,

Pôs-se na torre a sonhar...

Viu uma lua no céu,

Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,

Banhou-se toda em luar...

Queria subir ao céu,

Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,

Na torre pôs-se a cantar...

Estava longe do céu...

Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu

As asas para voar. . .

Queria a lua do céu,

Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu

Ruflaram de par em par...

Sua alma, subiu ao céu,

Seu corpo desceu ao mar...

O poema, Ismália, formada por cinco quartetos, reflete uma inconstância do homem iniciando pela manutenção em sua musicalidade, uma das principais características da Escola Simbolista. Todo este poema é escrito em sete silabas fonéticas (ou poéticas). Alphonsus Guimaraens fazia da metrificação para que suas poesias se formassem sons agradáveis aos ouvidos dos leitores, pois junto ao Olavo Bilac, escreveram um livro – Tratado de Versificação.

Na primeira estrofe o poeta mostra a instabilidade mental do ser humano “Quando Ismália enlouqueceu”, o sentimento do homem de estar mais alto “Pôs-se na torre a sonhar”, a natureza do mesmo, na hora da angustia de parar e observar as belezas naturais “Viu uma lua no céu; Viu outra lua no mar”.

A confusão entre a fantasia e o real, é presente na segunda estrofe “No sonho em que se perdeu”, a necessidade de se apegar ao mágico, à fantasia “Banhou-se toda em luar”, e a ganância de querer dois extremos e o inconformismo de não poder tudo “Queria subir ao céu; Queria descer ao mar”.

E na terceira estrofe é o desprender-se da racionalidade e o render-se ao sonho, à fantasia “E, no desvario, seu; Na torre pôs-se a cantar”, mas o personagem é tragado bruscamente de volta a realidade e ocorre à decepção “Estava longe do céu; Estava longe do mar”.

Já chegando à quarta estrofe e o personagem inclinando o corpo no alto da torre e abrindo seus braços, desisti de viver “E como um anjo pendeu; As asas para voar”, a confusão interior perdida entre as duas luas e nunca poder alcançá-las “Queria a lua do céu; Queria a lua do mar”.

Finalizando o poema, a quinta estrofe desenha o suicídio finalizado e a crença hipócrita que o ser humano se esconde, pois tal ato é condenável pelas religiões, mas mesmo assim ainda sonha em atingir o céu “As asas que Deus lhe deu;Ruflaram de par em par; Sua alma, subiu ao céu; seu corpo desceu ao mar”.

Se voltarmos a lê-la, Ismália, como uma poesia simbolista não para de nos surpreender com sua majestosa crítica a natureza do ser humano. Este poema deixa uma pergunta no ar... Por que é mencionada tantas vezes a lua do “céu” e a lua do “mar”? Qual a relação entre as duas “luas”? Ora! Direi-vos que um simbolista não escreve algo por achar bonitinho, e sim por um motivo justo. A “lua do céu” tem um brilho conjugada com a luz do Sol e tem sua beleza própria. A “lua do mar”, apesar de ser , também, tão bela, está em função da “lua do céu”, da maré e das nuvens. Portanto novamente temos uma descrição do ser humano. Existem homens que brilham uma glória própria, mas outros que dependem destes para serem vistos, comparando a um parasita, um hospedeiro.

Uma poesia simbolista vem recheada de entrelinhas e de conceitos filosófico que tendem o crescimento espiritual do leitor, pois um simbolista escreve com o espírito. Esclarecendo novamente para finalizarmos, o Alphonsus Guimaraens não disse tais coisas, apenas sugeriu... Para cada um que ler sua poesia Ismália a interpretasse de acordo com as suas necessidades internas, emocionais.