RESENHA DESCRITIVA: O que pesquisam os analistas do discurso?

MAINGUENEAU, Dominique. O que pesquisam os analistas do discurso? Revista da ABRALIN, v.14, n.2, p. 31-40, jul./dez. 2015. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/abralin/article/view/42547. Acesso em: 25 de setembro de 2020.

Nesse artigo, Maingueneau (2015) responde a um questionamento que compõe o próprio título de sua obra. Para isso, discorre primeiramente sobre os três grupos gerais a que estão ligados os analistas e, em seguida, sobre o que pesquisam.

Esta obra se divide em quatro tópicos. No primeiro o autor discute sobre os três grupos de analistas do discurso: os de ordem filosófica ou para-filosófica, os discursivistas, o terceiro grupo são àqueles que constituem a base para a análise do discurso. No segundo tópico, ele analise o que os analistas pesquisam. No terceiro, fala sobre a tecnologização do discurso com o objetivo de controlá-lo para fins proveitosos. Por fim, no quarto tópico ele fala sobre a abertura ilimitada que ocorreu com a criação da análise do discurso a partir da década de 60.

Maingueneau (2015) inicia o artigo analisando o título de sua obra. Segundo ele é difícil responder tal indagação, porém, torna-se possível quando se discorre sobre os quais são os grupos analistas do discurso e o que pesquisam. Acerca dos grupos, ele os divide em três: os pesquisadores de ordem filosófica ou para-filosófica, os discursivistas, o terceiro é assinalado pelo autor dentre os demais. O primeiro é filiado à teoria do discurso pós-estruturalista e seus questionamento levam a refletir sobre temas como o poder, a diferença sexual, a subjetividade, a escritura, a dissidência, o pós-colonialismo, etc. Entre os analistas desse grupo estão Spivak, Laclau e Mouffe dos EUA; Michel Foucault e Michel Pêcheaux na França. O segundo utilizam a análise do discurso como “método qualitativo” disponível na caixa de ferramentas das ciências sociais. O terceiro é composto pelos pesquisadores que buscam manter o equilíbrio entre o funcionamento do discurso e a compreensão dos fenômenos de ordem sócio-histórica e psicológica. Estes, de acordo com o autor, se distinguem porque estão ancorados nas ciências da linguagem e fornecem a base para a análise do discurso.

A frase “O que pesquisam” constitui uma ambiguidade na medida em que se refere tanto às motivações pessoais dos pesquisadores quanto às motivações que o fato de praticar a análise do discurso implica. Dentre as duas interpretações que a expressão permite, Maingueneau (2015) admite a segunda, explicando seu posicionamento fazendo uma analogia. Assim como, sendo o gênero do discurso uma instituição própria , não se reduzindo apenas das finalidades que o analista lhe atribui na análise, semelhantemente, a análise do discurso caracteriza-se pela sua existência independente do pesquisador, estes fazem suas escolhas, identificando-as no espaço do saber. Dessa forma, fica notório que como na análise do discurso encontram-se posicionamentos tão diversos, ela não descende de uma única corrente, mas de várias e é por isso que é considerada uma área movediça. Por outro lado, dentro do campo das inúmeras disciplinas ela não veio para preencher uma lacuna ou para tratar de fenômenos até então negligenciados. Da mesma forma, não exporta procedimentos para estas disciplinas e nem importa nada delas, na medida em que já se trabalham questões que tornam possível a análise do discurso.

Percebe-se um movimento ligado a “tecnologização do discurso” que estuda seus múltiplos poderes a fim de controlá-lo, haja vista, nos estudos universitários podem ser encontra uma vasta categoria desses estudos na área do discurso e uma preocupação em acirrá-los. Um exemplo disso são os comentaristas contratados para analisar a fala de especialistas nos programas televisivos. Os signos postos em uso buscam alguém que os analise, a fronteira entre as pesquisas do discurso e essa prática é ínfima porque é constantemente negociada .

A análise do discurso contemporaneamente é praticada com certa liberdade em relação à análise do corpus disponível. Analisa-se desde textos em linguagem coloquial a textos formais. Contudo, essa liberdade gera a necessidade do emprego de esforços que justifiquem o desvelamento desse objeto de análise. Em 1960, antes do surgimento da análise do discurso, filologia predominava. Dessa forma, enquanto os filólogos analisavam textos prestigiados como os literários providos de estilo, ao contrário, as ciências sociais analisavam textos desprovidos disso, como as entrevistas. A análise do discurso trouxe estes textos à mesma importância de aqueles, embora a abordagem teórica seja diferente. Enquanto os filólogos tinham como objeto de estudo texto dos mais diversos, inclusive os triviais, a fim de remontar os estilos da antiguidade que se perdeu no tempo, a análise do discurso tem por objeto a própria diversidade do discurso. No século XVII, “crítica” era qualificada como o estudo dos textos antigos, como por exemplo, a Bíblia. De certa forma, a análise do discurso emprega força crítica uma vez que relaciona os textos tradicionalmente prestigiosos e suas condições de possibilidade.

Com essas afirmações e comentário, Maingueneau (2015) conclui que perguntar o que pesquisam os analistas do discurso, equivale a perguntar o que sua tarefa tem de específico. Outro aspecto são os interesses comuns compartilhados entre as a análise do discurso e as ciências humanas. Enquanto está oferece um repositório de gêneros, aquela oferece as ferramentas de análise com o qual se pode estudar a emergência, o funcionamento ou a transformação do signo e apreender qualquer realidade. A análise do discurso auxiliar que interconecta linguagem, sociedade e psique. Contudo, percebe-se certa duplicidade do termo discurso: ao mesmo tempo em que em uma análise oscila entre o valor empírico, quando se relaciona com a categoria de texto (o discurso), e valor especulativo, quando é o conjunto da sociedade que está submetido a sua ordem (O Discurso).

Este artigo é uma importante contribuição para a área da linguística, especialmente para a análise do discurso uma vez que aponta princípios importantes para aqueles que estão iniciando seus estudos sobre a disciplina.

Leandro F. Menezes é Licenciado em Língua Portuguesa e Literatura de Língua Portuguesa pela UFES. Graduando em Pedagogia pela FATEC/SP. Especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira / Linguística Aplicada na Educação pela Universidade Cândido Mendes – RJ. Especialista em Docência do Ensino Superior / FATEC/SP. Mestrando em Estudos Linguísticos pela UFES.

Dominique Maingueneau é professor de Linguística na Universidade Paris XII, é autor de diversos artigos sobre linguística francesa e análise do discurso