Ética das aparências
“Ética das Aparências”
Não é possível que aquele ali seja o médico. Mochila. Casaco de couro. Parece um cantor de rock! Dizem que é bom... E o cabelo comprido? Mas tá limpinho...
Ninguém leu a qualificação do doutor, onde se formou, se freqüenta congressos, se é professor, se está devidamente registrado na sociedade nacional de sua especialidade, nada. Falta...
A boa-fé
Dei-lhe me inteiro
Amparei-me na elegância
Do sincero amor
Quando entrei no consultório ele olhou-me nos olhos e deu-me um sonoro
- Bom dia! A sua polidez e educação me encantaram. Discorreu um pouco sobre minha profissão, minhas ocupações e... enfim, sobre minha saúde. Examinou, colheu material e depois deu um diagnóstico e explicou que não é necessário pedir “todos os exames a que tenho direito” como eu ansiosamente havia solicitado de início. Falta...
A Polidez
Verniz familiar
Recebi giz delicado
Para espalhar
Aí eu fico pensando, essa coisa de ficar olhando a casca está embrenhada na sociedade. André Compte-Sponville escreve um livro inteiro sobre dezoito virtudes e nada diz sobre a superficialidade. Estaríamos nós presos a primeira e falsa impressão? Lá no interior de Minas -de onde venho- meu pai sempre dizia, “de que adianta a gaiola ser de ouro se o passarinho não canta”. Falta...
A doçura
Suave é a mão
Dos poemas que escrevo
Choro em enlevo
Esteticamente a figura pessoal deve ser agradável, mas precisa seguir um estereótipo? Seria como a mulher de César, além de honesta deve parecer honesta. A expressão do ser vem intrinsecamente daquilo que sente e do que faz, ocasionalmente do que fala. Existe uma história de vida, todo um substrato por detrás de um individuo que se apresenta todo pomposo ou vomitando bens à sua frente. Falta...
A simplicidade
Fácil animal
Em gestos bem natural
E n’alma igual
Infelizmente a falta de conteúdo das pessoas reflete aí. Vivemos uma sociedade de cultura visual. Muitos assistem vários vídeos por semana, mas não lêem livros a anos. Leitura possibilita uma gama ampla de construções. Todas elas próprias, únicas, pessoais. O filme já vem pronto, mastigado. Falta...
A humildade
Simples sei que sou
Pois erro sim, diariamente
Humano respeito
Assim, as pessoas engolem esses sujeitos “vitoriosos” porque têm uma bela casa, uma esposa que mais parece cabide de roupas sem nada a dizer ou exemplificar. O exemplo é vazio. Pouco se planta. Então, a colheita é rara ou nula. Vejam por exemplo as propagandas de cerveja, sempre com as gostosas. Seriam as mulheres objetos de consumo? Claro que sim, tornando as pessoas objetos, elas consequentemente tornam-se descartáveis. Com isso a superficialidade das relações interpessoais. As pessoas têm medo de amar, de se entregarem, de se comunicarem. Falta...
A coragem
Ouse trazer dor
Ataque-me então resisto
Moral persevera
O crivo de valor fica muito raso. E sujeito a crítica e distorções. Mas a culpa é somente das classes dominantes? Claro que não. A sociedade, e aí eu incluo a grande massa formada pela classe média hipócrita, inculta e consumista que se liga em quem tem uma bela estampa. E segue uma escravidão do culto ao corpo – como o boom de cirurgias plásticas desnecessárias, tratamentos não recomendados cientificamente, como a hemoterapia...- e das trocas incessantes de bens materiais. Falta...
A generosidade
Mais nobre é dar
Magnânimo torno-me
Se de mim retiro
Faça uma pequena conta: quantos celulares você já teve? Será que essa quantidade era mesmo necessária, o modelo viável? Ou você é vítima do mercantilismo vil e também cúmplice do mesmo já que não existe corrupto sem corruptor. Falta...
A justiça
Respeite o direito
De ser único e devido
Tudo se revolve
E então vem o baixo desejo sexual, maior queixa disparado entre os casais de hoje. Tanto homem quanto mulher. Vem a carência afetiva monstruosa, com as pessoas inventando muletas para carregar suas próprias adversidades e faltas. A sociedade tem de para de olhar para fora e rever a si mesma. Falta...
O amor
Amigo eterno
Das paixões irrefreáveis
Sobra-lhe a voz
JB Alencastro