A Quaresma na Umbanda

Para aqueles que não sabem, quaresma é um período de 40 dias que se inicia na quarta-feira de cinzas e termina (não necessariamente) na semana santa. É nada mais do que a representação dos dias de recolhimento de Jesus anteriores ao seu calvário, crucificação e ressurreição. Durante esses dias as Igrejas cobrem seus santos com panos de cor roxa ou branca, em sinal de luto e respeito pelo sofrimento de Jesus. Vale observar aqui que é uma liturgia, ou seja, um ritual unicamente próprio de católicos. Para eles é um momento de tristeza e diversas coisas não podem ser feitas durante esse tempo(dogmas).

No início da Umbanda, religião essa formada por influências de diversos cultos, inclusive católicos, adotava-se por imposição, crendice e até mesmo por falta de personalidade religiosa, que neste período não poderiam existir trabalhos, giras e atividades em geral, pois seriam dias negativos que se iniciavam com o findar de uma grande festa pagã, o carnaval, onde espíritos trevosos se “soltavam” a fim de fazer maldades e obssediar pessoas e médiuns em geral.

Não penso dessa forma.

Os tempos mudaram, as pessoas mudaram e com elas acredito que as mentalidades também deveriam ter acompanhado todo processo de identificação religiosa da Umbanda. Coisas que antes eram necessárias hoje não são mais. Para começar, hoje os cultos umbandistas não precisam mais ser “escondidos” ou fundamentados em cima de uma outra religião. Temos liberdade de culto e rituais nossos, ou seja, já possuímos as bases de nossa religião. Sendo assim, acredito que a quaresma é um preceito para católicos e não para umbandistas, que devem seguir seus trabalhos normalmente sem interrupções, até porque nossas Entidades orientadoras nunca se manifestam sobre esses assuntos de “terra”, pelo contrário, estão sempre presentes para executar seus trabalhos banhados de luz.

A culpa não é da religião católica ou de seus praticantes, e sim dos próprios umbandistas. Você acredita que tem umbandista dizendo que é também católico? É uma pena! Pena também é que alguns Pais e Mães no santo pararam no tempo, dizendo que é em nome de uma tradição, que se formos indagá-los mais a fundo não saberão muitas vezes nem explicar os porquês.

Em algumas casas, em nome dessa tradição, fazem nesse período uma infinidade de absurdos, o que já é de costume, em nome do medo, da crendice, da ignorância e de diversos interesses, principalmente exibicionistas e financeiros. Dizem que há necessidade de “agradar Exús”. Pergunto eu: algo superior precisa ser agradado para nos proteger nesse período? E os outros 325 dias do ano que restam? Proteger de quê ou de quem? Seria de nós mesmos? Da negatividade que geramos ou procuramos, fazendo coisas que já sabemos que não são corretas? Nos livrando de algo que se tiver que acontecer vai acontecer? Onde está nosso livre-arbítrio? O que estes seres que já não pertencem a esse plano tem a ver com uma festa terrena? Como sempre, infelizmente em nossa religião vimos freqüentemente coisas desse tipo ocorrendo.

A Umbanda precisa de pessoas não somente que tenham bom coração ou necessidade de trabalho e desenvolvimento mediúnico, isso é fácil possuir. A Umbanda precisa de pessoas que além de tudo isso possuam cultura, inteligência, consciência e discernimento. Nossa religião não deve ser cultuada somente em cima de preceitos mas sim em cima de almas buscando aperfeiçoamento, evolução e melhoria. Nada disso se alcança quando possuímos “quedas” por coisas infundadas e rituais que envolvam energias negativas e densas.

Ser umbandista é ser cristão. Ser cristão não significa ser católico, significa adotar como máxima os ensinamentos deixados por Jesus (este não fundou religião alguma).

Ser umbandista verdadeiro não é ser melhor que ninguém, mas é possuir esclarecimento suficiente para muitas vezes não engolir coisas sem nexo mastigadas e regurgitadas por ignorantes.

Luz às consciências.

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Ulisses Júnior
Enviado por Ulisses Júnior em 07/02/2008
Reeditado em 09/02/2010
Código do texto: T849782
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