Razão e Sensibilidade (Sense and Sensibility)



      Não estava em meus planos ver este filme. O livro do qual foi adaptado, com o mesmo nome, é o primeiro da autora inglesa Jane Austen, escrito em 1811. Eu o li faz tempo e a lembrança que tenho é de um livro chatinho. Daqueles livros que chamo de devagar, que a gente lê quase parando, embora seja um clássico. Mas era feriado, sem um programa melhor, fui ficando em frente à televisão e assistindo.

     Enquanto o filme ia se desenrolando na telinha fui me lembrando de coisas que havia lido sobre ele. Premiadíssimo.Venceu o Oscar de melhor roteiro adaptado. A autora do roteiro é Emma Thompson, atriz inglesa, uma das protagonistas: Elinor, a razão do filme.Tão racional que o diretor chinês Ang Lee, ao dirigi-la chamou a sua interpretação de chata e aconselhou-a a parecer menos velha.E o engraçado que era essa a impressão que eu estava tendo; ela parecia uma velha em contraponto a sua irmã Marianne (Kate Winslet) a sensibilidade. E, pelo jeito ela usou a razão para receber essa crítica e não quebrou a cabeça do chinesinho. Estava bem incorporada ao papel. 

      A história é simples mas não deixa de ser profunda e questionadora: Um rico proprietário de terras morre. Sua herança vai para o filho do primeiro casamento, que era homem. Um imbecil, por sinal, totalmente dominado pela mulher. Essa era a lei inglesa – a segunda mulher se vê obrigada a abandonar a casa em que sempre viveu com a família e ir morar em um chalé cedido por um parente.Pagando aluguel, é claro.Com a pequena pensão recebida do enteado.Três filhas: Elinor, Marianne e Margaret.As moças precisam sobreviver e casar. Essa era a única opção para uma vida razoável.Não havia mais nada o que fazer naquela época.A não ser fazer visitas. E ir a festas de vestidos longos com as barras embarradas.  Mas casar como, sem dotes?Como duas moças educadas como ladies poderiam achar marido no mundo profundamente superficial da época em que o dinheiro era tudo? Casamento para elas só em categoria social inferior a que sempre viveram. Ou...ou? Ou então o grande amor que é a esperança, ainda, de toda mocinha casadoira. 

     E o filme vai se desenrolando, meio chatinho também, mas com lindas paisagens. Eu amo as paisagens rurais inglesas e aqueles casarões e chalés gelados nos quais eu não viveria nem morta. Mas acho lindo. Elinor, a racional, contida e séria irmã, que cuida inclusive das finanças da família, se apaixona pelo irmão da meio-cunhada. Meio sim, pois afinal era casada com seu meio-irmão. Ele é o bonitão Hugh Grant. As fãs de Jane Austen, membros de uma sociedade de admiradores da escritora reclamaram: bonito demais para o papel. A exuberante Marianne, arrebatada e ousada, se apaixona por um bonitão. E tem outro pretendente, o maduro Cel. Brandom (Alan Rickman) este sim um homem pra ninguém botar defeito e que toda mulher deveria querer. Mas não quer. E tem ainda a presença pequena, mas marcante de Hugh Laurie, o médico House, da série do mesmo nome, que faz o papel dele mesmo: carrancudo e sorumbático. No final, tudo acaba bem.

     Achei que valeu a pena ver. Sou capaz até de reler o livro. Por que valeu a pena?  
 
- é interessante ver como um diretor chinês, que até então desconhecia a obra de Jane Austen, conseguiu fazer um filme tão inglês, reproduzindo com sutileza os costumes de uma época completamente desconhecida para ele até então.
- o roteiro, escrito pela atriz Emma Thompson consegue transpor para a tela toda a essência da obra literária, o que nem sempre é fácil. Vale lembrar que a roteirista, além de atriz de renome internacional, formou-se em Literatura Inglesa por Cambridge.
- as cores do filme são lindas e adequadas ao que se quer transmitir.
- as interpretações: são excelentes. Kate Winslet e a garota que interpreta sua irmã caçula e da qual esqueci o nome fazem com que o sol brilhe na Inglaterra em pleno inverno.
- Além de tudo faz a gente refletir: como é bom ser mulher no século XXI!

    Razão e Sensibilidade não é considerado um dos melhores livros de Jane Austen, no entanto a sua temática principal que é o confronto entre a razão e o coração são atuais. Em cada situação da vida está à encruzilhada: a quem dar ouvido? A razão ou ao coração? Bem, acho que tanto o filme quanto o livro darão uma boa resposta.

      E, uma pergunta inútil: como pode um imbecil morrer e deixar a família desamparada, a mercê de um meio-irmão idiota? Parando por aqui para não dar início a uma discussão daquelas,tipo homem x mulher. Mas que dá vontade, dá.