"Trilhos do Destino" (Rails & Ties)
"Trilhos do Destino" (Rails & Ties)
Parece piada. Ou bem são os trilhos, ou bem são traídos. Dá a impressão de que o “tradutor” aprendeu uma palavra nova, e, compreensivelmente..., afinal, sempre que nos deparamos com o inédito, usamos além da conta. Não será de se espantar, pois, futuros títulos tais quais: “Os Caçadores da Arca do Destino”, “O Destino de Harry Potter”, “Meu nome não é Destino”, assim por diante.
Quem assistiu “JFK”, viu 10 minutos de Kevin Bacon em impecável atuação. Aliás, um dos incontáveis de truques de “JFK” é a constelação de talentos em pequenos papéis. Kevin fez muita coisa, inclusive aparecer como ele mesmo num dos episódios do “Will&Grace”. Esteve no “Flatliners”, (Linha Mortal), foi o astro do intragável homem invisível e, há pouco tempo, estrelou o tragável, ainda que duro, e sem papas na película, chamado “O Lenhador”. Filme de gente grande.
Aqui, nos “Trilhos do Destino”, ele veste a dedicação de um ferroviário pela sua profissão quando, um belo dia, no meio do caminho não tinha uma pedra. Tinha uma equação. E que fatalmente levará o espectador a pensar que equações dão frutos, e eles não caem longe da árvore.
“Trilhos...” é asseado no que concerne a uma produção de pouca produção, a interpretações de justas emoções, a um argumento de acuradas reflexões e a uma direção de precisa ordenação. Tudo com til, para rimar.
Marcia Gay Harden faz a mocinha. Faz bonito. Um rosto conhecido que não brinca em cena. Não brincou em “O Sorriso de Monalisa”, “Sobre Meninos e Lobos”, provavelmente não brincou nos outros 19 filmes que atuou. Oscar de melhor atriz coadjuvante em “Pollock” e indicada na mesma na mesma categoria no “Sobre Meninos...”.
Se a praia do espectador é seriado de TV, então também já viu a Márcia, no “Law & Order S.U.V”.
Direção, dois pontos, (:), travessão - Alison Eastwood. Filha do Clint. Coisas do destino...
“Trilhos...”, no entanto, é sua estréia na direção.
A propósito, talvez você já tenha visto a Alison. Antes de deslocar-se para trás das câmeras, esteve na frente, entre outros, em “Poder Absoluto” e “Meia Noite no Jardim do Bem e do mal”. Esses papai dirigiu e atuou.
Os participantes da obra muitas vezes conferem o certificado de qualidade da mesma, ainda que isso não seja uma regra. Kevin Bacon estrelou quase 50 filmes, nas horas vagas integra uma banda chamada The Bacon Brothers, não acho um ator 5 estrelas, 4,9 é um bom número e o 0,1 que resta faz a diferença, mas, quando ele fez “O Lenhador” foi o equivalente a dizer : Platéia, nem só de fast food vive um astro.
“Trilhos...” flui direitinho, as pequenas notas de tensão cumprem sua parte sem uma vírgula fora de lugar, os diálogos não foram extraídos do Nobel e sim de situações onde qualquer um de nós, nas roupagens propostas, verbalizaria sem se dar conta.
A moral da história é que precisamos amar, desesperadamente, que a prática desse amor acontece desajeitadamente, e que o ser amado, quase sempre, vem de onde menos se espera.