Um Sonho de Liberdade, sobre a perspectiva da Psicologia Institucional

Primeiramente gostaria de ressaltar que estou imensamente contente por estar analisando este ótimo filme, pois eu já li o conto em que ele foi baseado há alguns anos atrás, lembro-me que ele fazia parte de uma coletânea de contos chamada Quatro Estações, de autoria do grande Stephen King.

Bom, mas o que está em questão aqui é a relação dos personagens com a institucionalização, então para começar, a escolha mais cabível recai sobre o personagem Brooks, que certamente era o mais institucionalizado de todos. Brooks, como se pode perceber no filme, já cumpria pena por várias décadas na penitenciária de Shawshank, e estava plenamente inserido no contexto da mesma, trabalhava na biblioteca, se sentia útil, e em relação ao outros presos era até mesmo detentor de uma certa, “posição social”, enfim, era um indivíduo totalmente institucionalizado. Porém, quando percebe que vai precisar deixar a penitenciária que fora seu lar por décadas à fio, ele entra em choque, chegando à ameaçar um companheiro, este ato de agressão simboliza um grito de negação ao mundo exterior aos muros da prisão, e por que negar a liberdade? Pelo simples fato de que a prisão depois de meio século, tornou-se o seu mundo, o seu universo, ali estavam as normas que ele compreendia, e que foi condicionado a seguir. E quando Brooks precisou deixar a prisão, se viu em um mundo bem diferente do que ele havia visto antes de perder sua liberdade, agora o mundo era dinâmico, e ele não se adaptou, muito devido a sua elevada idade, falta de perspectivas e elevado grau de institucionalização. Traçando um paralelo, é como pegar um funcionário público já com 30 anos de carreira, que trabalha numa empresa estatal antiquada, e jogá-lo numa grande multinacional que transborda dinamismo, o choque será incomensurável.

Agora analisando o personagem Red, brilhantemente interpretado pelo ator Morgan Freeman, chegamos a uma interessante intersecção, onde percebemos que ele está instituído, mas, no entanto, ainda há uma centelha de esperança, crepitando no seu âmago, porque se ele não quisesse sair, ele não pediria para sua pena ser revista de tempos em tempos. Na penitenciária Red é o “cara” que consegue as coisas, ele é detentor de um status, sabe que lá fora dificilmente conseguirá ser tão importante, como o é na prisão, ainda mais tendo em vista que os ex-presidiários são encaminhados para empregos medíocres, e alojados em pequenos quartos solitários,e ainda sofrem com preconceito. Mas, quando Red entra em contato com Andy, este o leva a realizar uma auto-analise, mostrando a ele que era possível viver naquela dura instituição chamada Penitenciaria de Shawshank, seguindo suas regras, mas sem deixar que as mesmas ceifassem os seus sonhos.

Para finalizar, vamos analisar Andy Dufresne, um banqueiro bem sucedido, inteligente e centrado, condenado injustamente, e que no momento em que adentrou na Penitenciária de Shawshank, provocou ali uma verdadeira revolução. Andy perspicazmente analisou quais eram as demandas, e trabalhou em cima delas, primeiro percebeu que os guardas precisavam de ajuda para declarar seus impostos, os ajudou nesta tarefa e ganhou sua confiança, quando foi transferido para ajudar na biblioteca, percebeu que ela demandava mais investimentos, e então escreveu pedindo verbas, até ser atendido, depois observou que muitos detentos desejavam completar os estudos, e se prontificou a ajudá-los. Quer dizer ele analisava onde estava uma demanda e trabalhava em cima dela. Andy se inseriu na instituição, fez vários movimentos para modificá-la, mas não aderiu totalmente a ela, tanto que acalentava, praticamente desde o início um sonho de liberdade, fato este comprovado por sua incrível fuga.

Podemos concluir que, Andy Dufresne fez na penitenciaria, o que todo psicólogo institucional almeja fazer em uma instituição, ele a fez se auto-analisar e crescer neste processo.

Washington M Costa
Enviado por Washington M Costa em 16/02/2009
Reeditado em 19/07/2009
Código do texto: T1441511
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