"O Júri" (Runaway Juri)
"O Júri" (Runaway Juri)
Se pensar bem, não deixa de ser uma história de amor. História de um homem e uma mulher devotados de corpo e alma numa causa. Ora, o que há de errado com isso? Parece que a única devoção em voga é fazer tatuagens...O condimento da história fica aprimorado, se supor uma causa nobre. E sobe outro degrau se avaliar que naquele ringue David habita um dos lados, representado por John Cusack e Rachel Weisz, de outro lado Golias, representado por Gene Hackman e a máquina infernal de comprar um júri, para dar um veredicto favorável à mais infernal ainda máquina de fabricar armas. Nos USA, arma é coisa séria, brigam com unhas e dentes para que ninguém lhes roube o direito de possuir uma. O missionário Michael Moore chegou a bater na porta do presidente da Associação Nacional do Rifle - e com esse nome pode apostar que eles não tratam de algodão doce - enfim, bateu na porta de Charlton Heston exigindo algum posicionamento e ou responsabilidade civil, em virtude da matança em Columbine. Não foi bem recebido mas marcou presença.
John Cusack e Rachel Weisz vendem a solidez da integridade, mas o espectador só vai saber que a motivação deles não é dinheiro depois de muitos ovos serem quebrados. O lado romântico da coisa em movimento é que eles são duros na queda e possuem algo que dinheiro algum pode comprar: vontade.
Rachel vai ser pega pelo colarinho duas vezes e tratada como uma ladra de quinta categoria.
Utilizando o lado do vintém conhecido como maniqueísmo, John e Rachel são o bem, Gene Hackman e seus patrões, o mal, e numa das reticulas do vintém está Dustin Hoffman, entrando e saindo num dos mais refinados roteiros para um filme cuja ação anda na velocidade do verbo.
O xis da questão e o xis do argumento: “Um veredicto é muito importante para ser decidido por 12 pessoas. Além do que, não estão nem aí. Só querem voltar para casa e assistir TV”.
Filme complicado de assimilar numa primeira levada, na próxima permite ao décimo terceiro jurado levantar os preciosos detalhes que fazem a diferença.
Podem malhar os gringos quanto quiserem, mas verdade seja dita, ninguém faz tão bem esse tipo de filme como eles.
Entre os jurados, dramas humanos de todos os números. Na corte, diálogos afiados e informação exclusiva que só vigora em veículos especializados.
Talvez um dia expliquem nossos meninos de 11 a 14 anos como soldados do tráfico, chapados de crack e portando armamento novo em folha.
Aqui se faz, aqui se paga, diz a fábula de “O Júri”.
Veremos.
Gary Fleder dirige. Dirigiu “Refém do Silêncio” e “Beijos que Matam”, entre não muitos.
Baseado no livro de John Grisham, o que prova que toda essa substância só poderia ser lavrada por um autor.