À procura de vingança (Serafhim Falls) - Um grande e surpreendente western.

À procura de vingança (Serafhim Falls) - Um grande e surpreendente western.

Há dias, havia programado uma ida ao cinema, para assistir “X-Men / Wolverine”. Mas, bateu preguiça e fui à locadora de DVD, pra ver o que achava de interessante pra ver.

Passando os olhos num jornal, vi uma nota sobre um filme de western em que atuavam Pierce Brosnan - o antigo Bond e, Liam Neeson, intitulado "À procura da Vingança (Seraphim Falls)".

Lembrando de grandes westerns que foram realizados justamente depois do declínio do gênero ("Os Imperdoáveis", de Eastwood, como paradigma), decidi pegá-lo para assistir, muito por conta da presença do bom ator que fazia o 007 (Brosnan, que tinha aquele olhar cínico e objetivo) - até porque, achava que esse cara dava devendo uma atuação com mais "pegada". No fim das contas, peguei o filme por causa dos atores e, não exatamente sob a influência de comentários ou pelo roteiro do filme.

Caramba, como acertei na troca!

Para quem não assistiu ao filme, lá vai um tira-gosto (ou, põe-gosto, como queiram): O filme começa como uma caçada uma humana - um homem persegue ao outro, à procura de vingança, sem que esta seja sequer sugerida - tudo se deduz do comportamento de um e outro. O fugitivo, à parte encontra-se desesperado pelo risco de morte e, algo mais, está determinado pelo sentimento mais primal, determinado em sobreviver, até onde puder. O perseguidor move-se por um ódio implacável e, um suposto sentimento de justiça e, não mede esforços ou conseqüências para atingir o fim visado.

No decorrer da terceira parte da história, quando caçador e caçado se enfrentam de perto, se esclarece a razão do périplo desesperado de ambos - o saldo de um acontecimento relacionado com o fim da guerra da cesseção - o comandante de um destacamento Yanquee, por arrogância e desídia de seus comandados, acaba matando a esposa e os filhos de um ex-comandante do exército confederado, quando ordena o incêndio de sua casa - isto depois que a guerra havia sido declarada finda. Este, que vira muito de perto o inferno da guerra, é privado, de repente, de seu retorno à humanidade.

Marchando para o fim da história, ocorre uma virada no roteiro: os personagens, movidos por suas ações e lembranças, vão mergulhando no caos da destruição dos valores, sentimentos e personalidade (o primeiro, a quem não resta mais oportunidade de convívio humano e, o segundo, que vai perdendo todos os vestígios de sanidade, movido pelo ódio e desejo de vingança), mergulham, de repente, num mundo onírico, onde encontram personagens do mundo da fantasia ou da consciência profunda, que lhes propõem questionamentos e alternativas ou oportunidade de reflexão e mudança (um elfo, disfarçado de índio e, uma sereia, disfarçada de curandeira). Os dois, cegos, recusam às ofertas de recomposição de si mesmos e, marcham, aos pedaços, rumo à dissolução aparentemente inexorável.

No última parte da película, porém, postos diante dos últimos laivos de consciência, os contendores se salvam, numa última e estertorante oportunidade, quando recusam o ato de eliminação física mútua e, apesar da mágoa e do sofrimento, se ajudam, para recobrar seus caminhos - cada um para o seu lado.

A grande jogada do filme é esta: começa como uma história simples e objetiva. Depois, a objetividade se afasta e, por conta dos questionamentos em torno da fatalidade das ações humanas, do destino. Perto do final, já é uma espécie de fábula, onde fica claro as conseqüências das escolhas, diante do livre arbítrio. No finalzinho, mais uma virada e, o filme já parece mais alegoria sobre a história da fundação e da secessão da nação americana, num evento sangrento e marcou sua alma a ferro, ou talvez, a própria aventura humana sobre a terra. Esse aspecto do filme foi ignorado pela crítica brasileira, talvez por achem que isso não é padrão de diretor ou filme americano - se ele tivesse sobrenome árabe (iraniano, mais especificamente), talvez tivesse merecido abordagem, do ponto em questão...

Longe de ser um filme difícil de se assistir, o roteiro segura a gente na cadeira e, até nos faz dispensar a pipoca e a coca-cola, com o olho vidrado na tela., pois está tudo ali: uma boa história, um roteiro que surpreende, grande fotografia e, atuações convincentes. Liam Neeson brilha. E, Brosnan, Pierce Brosnan, enfim, nos brinda uma senhora atuação.