MANDELA – LUTA PELA LIBERDADE (Goodbye Bafana)

Tratado como épico, no sentido de tentar abarcar todo um período, com seus heróis e vilões, e a missão de fabular no aspecto fílmico todo um tempo real e histórico, "Mandela – Luta Pela Liberdade" (Goodbye Bafana) acaba sendo vítima da própria ambição. Com material colhido a partir das memórias de James Gregory, que foi censor das cartas e carcereiro pessoal de alguns presos políticos do período do apartheid (regime de segregação racial na África do Sul na segunda metade do século XX, que impedia os 20 milhões negros de conviverem socialmente com os 4 milhões de brancos), a obra centra-se na veracidade histórica em detrimento do cinema enquanto “arte”. Era preciso biografar os negros presos. Entre tantos, relevar os líderes: e entre estes, a figura carismática e simbólica de Nelson Mandela.

Aqui temos a primeira falha de verossimilhança que se espera de um filme desse porte. Dennys Haysbert veste-se de um Nelson Mandela muito improvável, gandhiano, e vai imantando seu algoz com o tempero libertário de suas ideias, que às vezes parece-nos surreal. Quem viu Ben Kingsley incorporar Gandhi certamente vai notar que faltou ao Mandela de Haysbert justamente esse feeling. Quando, por exemplo, o carcereiro “planta” uma notícia – uma matéria de jornal – sobre a prisão de Winnie Mandela (mulher de Nelson), sob o tapete (novo e limpo), na entrada da cela (presos políticos não podiam ler jornais em hipótese alguma) – Mandela, cioso de seus “direitos”, repreende duramente o engomado militar, diante de outros presos e militares. Duvidamos que as coisas sejam assim, no mundo real.

O lento e agonizante aprendizado cidadão que Mandela impõe ao soldado (subtenente), e o desprendimento deste em “aprender” com o outro; as brigas do militar com a família, sua hierarquia e sociedade, fazem-nos supor que o bem é dom triunfante sob qualquer adversidade.

Para um filme bem-feito, mas certamente muito burocrático, com seus planos e seqüências bem enquadrados, os diálogos básicos e retilíneos, e o rosto (sempre) aparvalhado de Joseph Fiennes, ajudam a criar um clima de nonsense que certamente, ajudam a retirar as teias sobre a história recente da África do Sul. Não é o melhor retrato, mas aqui, é o que temos.

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Mandela – Luta Pela Liberdade (“Goodbye Bafana”, dir. Billie August, roteiro Greg Latter, com Dennis Haysbert, Joseph Fiennes, Diane Kruger, e outros, 118´, Ale/Fra/Bel/Ita/Afr) - Distribuição no Brasil: Europa Filmes