FILME "O ILUMINADO", DE STANLEY KUBRICK

Dirigido por Stanley Kubrick e contando com um ainda jovem Jack Nicholson no elenco, “O Iluminado” é considerado não só um clássico do suspense, mas um dos maiores clássicos da história cinematográfica. Ambientado em um hotel do interior dos Estados Unidos, a película possui uma simples, porém envolvente e tensa narrativa. O filho do casal, dono de poderes extrasensoriais e sensível a espíritos, a princípio resiste em aceitar sua condição iluminada, visivelmente devido à sua pouca idade. Com seguidas visões (que não eram miragens, dada a capacidade comunicativa do garoto) e orientado pelo cozinheiro do hotel, também possuidor do dom, ele adentra o quarto 237, o proibido. Neste momento, o real mote do filme é exposto. O recinto é repleto de espíritos vis, que encarnam em seu pai, vivido por Nicholson. Pai este ausente, grosseiro no modo e ríspido no trato com sua sorumbática esposa, ele, talvez por já demonstrar uma certa pré-disposição, é tomado de assalto pelas más influências. Ele então cai em uma realidade paralela, como que inserida em um universo bandido. O conceito é otimamente reproduzido na cena do banheiro, em que o garçom diz ao “vilão” da trama ter “corrigido” sua mulher e filha simplesmente por uma discordância. O personagem de Nicholson logo aproxima o exemplo ao seu e, totalmente imerso à sua nova realidade, decide também aplicar o mesmo corretivo à sua família. O menino iluminado sofria antecipadamente por já ter previsto a tragédia, como na cena em que diz “Pai, você não faria mal a mim e à mamãe, faria?” Seu progenitor já havia sido tomado por espíritos negativos.

A tensa trama pode ser analisada como uma metáfora da mente criminosa, tão escavada pela Psiquiatria até os dias atuais. A idéia de um pai, o suposto “macho-alfa”, aniquilar covardemente sua família – um dos tais crimes hediondos – é que é explorada pelo filme, muito mais do que a discussão cigana a respeito de espíritos bons ou maus. Um pai de família, nos machistas conceitos humanos, é a imagem clássica de proteção. Tudo aparenta estar bem, de repente uma atitude aparentemente impensável reverte o quadro. O que se pode observar em “O Iluminado”, mesmo em meio à ficção nada mais é que vida real, onde as maiores barbáries brotam de onde se menos imagina. Criminosos escondem-se na imagem de “pessoas de bem”, uma idéia preconceituosa de nossa sociedade. O garotinho dotado de poderes fantásticos na verdade é a imagem da vítima, do ser humano acuado por seu semelhante, apenas por ter uma diferença. O quarto 237 (teria este número algum significado para Kubrick?) é o tabu social, o argumento impronunciável, a gota que derruba um copo d’água.

Repleto de metáforas e conflitos humanos, “O Iluminado” é também uma ótima produção visual. O hotel tem ambiente gótico e combina com o clima do filme. Por falar em clima, a neve foi bem pensada – ora, o verão da Flórida ou Califórnia não ia mesmo ornar com a gélida atmosfera inserida por uma grande pérola do suspense. Definitivamente, “O Iluminado” é produção que disse a que veio.

Andre Mengo
Enviado por Andre Mengo em 05/09/2009
Código do texto: T1794222
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.