O MAIOR AMOR DO MUNDO

O amor materno e o distanciamento entre pais e filhos

"Enquanto o Brasil estiver nessa merda,

ninguém tem que ganhar medalha de porra nenhuma"

Fim de semana cedi as tentações da grande mídia e fui com a digníssima assistir o filme global "O Maior Amor do Mundo". Apesar da história já ser batida, isto é, um homem em estágio terminal de doença, decide largar sua vida bem sucedida e voltar ao país de origem para rever a família antes de dar o suspiro final, o filme é bem interessante. Primeiro, porque toda esta história é narrada tendo uma favela carioca como cenário, onde o diretor aproveita para explorar o inescapável tema do cotidiano pobre e excludente das favelas com o consequente tráfico de drogas no Rio de Janeiro.

Além dos clichês, O Maior Amor do Mundo é um filme que fala sobre diferentes formas de amor mas, especialmente, sobre o poder do amor materno. Fala do amor platônico de uma mulher por seu chefe; fala do verdadeiro amor entre um homem e uma mulher que, mesmo rápido no tempo, é eterno; fala do amor ilusório entre um casal que, mesmo casados por longos anos, não passa de pura ilusão e trata sobre os efeitos desse amor ilusório, como o distanciamento entre pais e filhos, podem levar a profundas conseqüências na vida dos filhos.

Antônio (José Wilker) é adotado por um casal bem sucedido (Deborah Evelyn e Marco Ricca) e, apesar de ter todo suporte financeiro da família, tem sua vida marcada pela ausência dos pais durante o seu desenvolvimento (especialmente seu pai), o que o torna um rapaz solitário, frio, tímido e sem o menor jeito com as mulheres. Toda sua vida é marcada por esta ausência e, a própria escolha de sua profissão, parece ser fruto de um auto-isolamento que, no auge do período militar, enquanto seus amigos de universidade namoravam e se rebelavam contra a ditadura, fez com que Antônio se dedicasse exclusivamente aos estudos. Tanto se dedica que consegue uma bolsa em uma universidade estadunidense, onde passa a viver e se torna um astrofísico bem sucedido. Tem uma secretária assistente extremamente dedicada e apaixonada por ele, mas vive a ignorá-la e magoá-la com seu comportamento frio e mau humorado. A história de Antônio muda completamente quando ele descobre que tem um tumor inoperável no cérebro. Retorna ao Brasil para receber uma comenda nacional como homenagem final ao fruto de uma vida dedicada a astrofísica e, em uma visita ao asilo onde seu pai (Sérgio Britto) vive, recebe notícias sobre sua mãe de sangue, que morrera no parto, e uma foto de seus pais adotivos com aquela que seria sua vó. Antônio decide procurar notícias de sua mãe nos subúrbios cariocas e, chegando lá, conhece Mosca, um vapor do tráfico de drogas, Zezé, uma mãe de santo que na verdade era sua madrinha e Luciana (Thaís Araújo), uma bela mulata por quem Antônio se apaixona vivamente. Ainda virgem, aos 50 anos, a cena da primeira transa de Antônio é picante e hilária. Eis a ironia do filme, uma vida inteira de isolamento e dedicação à profissão e apenas uma única semana para descobrir as delícias e sutilezas do amor. O filme vai se aproximando do fim conforme Antônio vai descobrindo mais detalhes sobre a vida de sua mãe, até o limite do momento do desfecho final do filme.

Dirigido por Cacá Diegues, O maior amor do mundo consegue prender o público com seu enredo simples, trama bem organizada e pela boa atuação de José Wilker, que se livra definitivamente de seu estereótipo italiano. Vale à pena assistir e refletir sobre como estamos amando aqueles que nos cercam.

O MAIOR AMOR DO MUNDO

Estréia: Set/2006

Diretor: Cacá Diegues

Elenco: José Wilker, Thaís Araújo, Marco Ricca, Sérgio Britto, Hugo Carvana, Steppan Necersian e grande elenco

Nota: 3 Estrelas

Roger Beier
Enviado por Roger Beier em 20/09/2006
Reeditado em 20/09/2006
Código do texto: T245049