Uma Onda no Ar – A verdadeira voz do Brasil

No filme Uma Onda no Ar, somos apresentados a história da Rádio Favela, uma estação de rádio que surgiu por volta dos anos 80, de forma clandestina, fruto do sonho de um grupo de jovens amigos. Neste grupo se destacava Jorge (que na vida real se chama Misael dos Santos), um idealista por na natureza, que nutria um forte sentimento em relação à comunidade onde morava e aos moradores da mesma. Jorge apesar da pouca idade, já possuía bastante consciência acerca de sua posição social; estudava em um colégio particular, onde invariavelmente se defrontava com a realidade “burguesa” que ali o cercava, lá sofria preconceito tanto social quanto racial, fato que só aumentava sua insatisfação em relação a forma que ele e os membros de sua comunidade eram tratados pelo “povo do asfalto”. Pode-se dizer que os sentimentos de insatisfação social em ebulição dentro dos jovens, mais notadamente em Jorge, somados ao fato da programação das rádios comerciais destoarem completamente da realidade das comunidades “além asfalto”, culminaram na criação da Rádio favela.

No filme também é perceptível como o grupo de rapazes que começaram juntamente com Jorge a idealizar a rádio, formava um micro-panorama da juventude de comunidades carentes ou periféricas e dos caminhos que a eles são apresentados pelo dito sistema. Vamos analisar cada um deles: o protagonista Jorge já foi apresentado anteriormente, mas cabe acrescentar que ele antes de tudo era um sonhador com uma meta a perseguir, que era difundir e espalhar suas idéias pelo ar e conscientizar seu povo; Ezequiel era o mais equilibrado do grupo, nele vemos a figura do jovem que desce o morro e vence no “asfalto”, mas sem perder sua identidade comunitária; Rock era o “porra-louca” do grupo, representava o jovem que por falta de um maior amparo e devido ao descaso do poder público com a educação, se viu impelido, seduzido pelo dinheiro fácil vindo do tráfico, acabou por assumir o papel do “bandido”, no fundo, era uma pessoa boa, mas por essas desventuras fomentadas pela desigualdade social, acabou por seguir o caminho do crime, que à exceção dos “colarinhos brancos, na maioria das vezes culmina na morte ou na detenção; quanto ao Menino “Brau”, podemos dizer que ele era o filósofo e poeta do grupo, era a voz de uma juventude alegre, que mesmo na adversidade, sorria com esperança diante do futuro... porém, a ele coube um papel mais trágico, o papel de uma juventude que tem sua jornada cerceada, interrompida em decorrência da violência... violência que tem seu nascedouro, não nas vielas e becos de favelas, morros ou aglomerados, mas em gabinetes climatizados e estéreis em idéias, onde decisões são erroneamente tomadas, ou nem são tomadas.

A importância de analisar a trajetória e história dos personagens fundadores da Rádio Favela reside no fato de que eles faziam parte de um mesmo grupo, mas como sabemos, os grupos são dinâmicos, estão em constante movimento, e cada um dos rapazes trilhou caminhos diferentes, assumindo papeis que a sociedade esperava ou não que eles assumissem.

Enfim, voltando a falar da rádio propriamente dita, é interessante perceber como ela conseguiu falar a mesma linguagem dos moradores da comunidade, tornando-se um importante instrumento fomentador da cultura local, despertando nos membros da comunidade um sentimento de pertencimento, que também ia além dos limites da favela, chegando ao asfalto, e compartilhando sua mensagem com quem mais se identificasse com ela.

Washington M Costa
Enviado por Washington M Costa em 24/09/2010
Reeditado em 24/09/2010
Código do texto: T2516877
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