DAENS, Um Grito de Justiça. Produção de Jean Luc Dermiers et. a.l. São Paulo: Look Filmes. 1994. 1 videocassete (132 min.) VHS, SON, COLOR.

O epicentro das questões enfocadas pelo Filme se dá na pequena cidade de Aalst, na Bélgica, por volta do final do século XIX. O Homem além de ser considerado em sua individualidade sofre as conseqüências do contexto social, o qual está umbilicalmente inserido. Dessa forma, na tentativa de demonstrar a realidade por meio da opressão aos operários, com o advento da Revolução Industrial, e com esta o cerceamento a vários Direitos, é que se desenvolve toda a trama.

De maneira peculiar, e com imprescindível riqueza de detalhes, o Filme relata a história dos trabalhadores desta pequena cidade flamenga, na Bélgica, que condenados a um estado de pobreza gritante e condições de trabalho desumanas, que chegavam a englobar até mesmo crianças e mulheres, têm suas “vidas” mudadas com a chegada do padre Daens, com suas idéias de renovação.

Imprescindível se faz ressaltar que, o filme em comento desenvolveu seu enredo de forma tão fidedigna aos fatos que culminou, após o seu lançamento, com a sua indicação ao Oscar de melhor filme de Língua estrangeira em 1993.

O drama inicia-se com a demonstração das más condições de trabalho na indústria têxtil no norte da Bélgica relatando a profunda miséria vivida pelos operários que aí trabalhavam. A cena que relata a morte de uma criança aí laborando é por demais impactante. Não havia, neste período, qualquer legislação menoril sequer, protetiva das relações de trabalho.

Os comerciantes Belgas, imbuídos pelo instinto do capitalismo selvagem, queriam concorrer com outros paises, dentre estes a Inglaterra na venda de mercadorias, dessa forma, empregam mulheres e crianças com o objetivo de pagar salários irrisórios dispensando a mão–de–obra mais qualificada, afinal o lucro era o maior intento e por este valia tudo.

Os acidentes de trabalho eram uma constante, afinal crianças não tinham a mesma atividade que um adulto na realização das tarefas, logo inúmeras foram as mortes no trabalho das mais diferentes formas.

Com a chegada do padre Daens que se muda para a cidade de Aalst e vai morar na casa de seu irmão jornalista várias idéias foram imbuídas no pensamento desta sociedade marginalizada.

Indignado com a situação de pobreza, que a cada dia se agravava com a recessão e daí também surgindo muitos trabalhadores, homens, desempregados. Daens escreve um artigo para o jornal do Partido Católico com o objetivo de incitar àquele povo para a realidade gritante existente.

Diante das repercussões surgidas com seus artigos, Daens, consegue semear uma consciência coletiva de justiça e vontade de lutar para a conquista de novos direitos.

Como alicerce principal para se concretizar os ideais de equidade, o protagonista suscita a questão da inclusão do sufrágio universal em detrimento do sufrágio com base em voto censitário. Tudo isso na tentativa de implementar um Estado não só democrático e sim do bem-estar social.

Afinal, se os representantes do Estado estão calcados em valores e poderes que representavam a vontade do povo tal realidade não poderia continuar a viger.

Desta maneira, Daens, dissemina suas idéias, mas como não poderia deixar de ser, tais ensinamentos incomodaram aos detentores do poder no momento, e dentre estes, a própria Igreja que se beneficiava diretamente com dinheiro dado pelos industriais. Logo, a repressão ao protagonista foi imediata.

Infrutíferas foram às tentativas de escamotear tais pensamentos, tendo que vista a identificação destes com as pessoas que ali moravam, afinal era uma perspectiva de obtenção de mudança daquele status até então desconhecida.

A população operária praticamente idolatrava Daens, que a cada dia ganhava mais notoriedade. No entanto, sem o apoio da Igreja, a Santa Madre, este se candidatou pelo Partido Social Cristão com o objetivo de lutar no parlamento para descortinar todos os seus opositores, que na realidade queriam apenas ludibriar o povo e conseqüentemente explorá-los e, assim implementar as reformas sociais rumo à conquista de direitos aos cidadãos de Aalst.

O Filme, portanto, demonstra um excelente exemplo por meio do protagonista na luta pela Justiça Social incutindo na consciência dos cidadãos o seu poder, através do voto, nas decisões do país. Fato este que, até nos tempos atuais não se tem a certeza da sua plena assimilação. Não raro as compras de voto e sua conseqüente desvaloração é algo que de tão evidente dispensa qualquer comentário restando apenas para o leitor à reflexão.

Além das questões políticas o padre Daens também trouxe a tona algumas questões referentes à educação, dentre as quais se destaca a cena em que o mesmo está ensinando latim a uma criança, que parece ser acostumada a aprender por repetição e ele ressalta que para obter-se aprendizado é necessário à compreensão sobre o que está sendo ensinado, uma vez que ele compara o que o menino está fazendo ao comportamento de um papagaio.

Assim, ele levanta questões tão atuais referentes à educação, principalmente no que tange à classe social mais carente, que ainda hoje não se posiciona criticamente sobre o que lhe é ensinado nas escolas ou em outras instituições de aprendizado, apenas memoriza, sem questionar ou refletir sobre qualquer assunto.

Dyanne Gomes Santos

DY
Enviado por DY em 08/11/2006
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