Resenha crítica do filme "O triunfo"

     O professor Ron Clark sai de sua cidade em que obteve “sucesso” em aumentar o rendimento dos alunos por quatro anos consecutivos e assume o desafio de Ensinar em Nova York. O mesmo, na hora de procurar emprego utiliza esse marketing, o que mostra a valorização dos aspectos quantitativos por parte do governo americano, onde as verbas são doadas para a escola em função das notas. Quando esse professor consegue se empregar em uma escola de bairro humilde, marcado por violência e pessoas predominantemente negras, isso fica bem claro nas palavras do diretor: - Se o rendimento dos alunos não melhorar você será despedido.

     No primeiro dia de aula o professor tenta propor uma metodologia baseada em regras e é obrigado a conviver com a constante indisciplina dos alunos. Depois disso, o docente tenta entender o contexto dos alunos. Através dessa aproximação o professor se depara com diferentes situações inesperadas. Na cultura do estudante indiano, por exemplo, não se podia falar quando os pais estavam conversando. A outra adolescente já era mãe de filhos. Dentre as regras estabelecidas, foi enfatizada a cooperação, partindo do pressuposto que a turma era uma família.
     A dura realidade de Clark é ter que trabalhar em outro emprego para sobreviver e corrigir provas de madrugada. Enquanto isso, os alunos não fazem as atividades, dormem na sala, o desrespeita, etc. Nessa situação, Clark começa a conviver com o stress, que o leva a desistir depois de um surto nervoso na aula que o envergonhou.
     De tanto gostar do que faz, Clark decide voltar a lecionar, mudando completamente a metodologia de ensino, passando também a se envolver com os alunos fora da sala de aula, com suas brincadeiras, mostrando como se dá o aprendizado, tornando-se aprendiz de seus alunos. Após essas mudanças, as aulas ficam mais interessantes e desafiantes. Os alunos começam a se identificar com as aulas. O professor desperta “o sonhar” dos alunos.
     Nenhum aluno passou no primeiro exame. Isso o faz adotar também a metodologia da música, o que desperta o interesse de outros alunos da escola, que ficam olhando pela janela. A partir daí nota-se evolução nos estudantes. Em outro momento, Clark ensina matemática jogando baralho. Ele descobre em Shameika uma grande líder e aluna em potencial, que só se encontra prejudicada devido à sua realidade cotidiana de cuidar dos irmãos mais novos, sua mãe tenta atrapalhar que o professor intervenha nessa realidade.
     Por possuir tamanho amor pela profissão, Clark passa mal em plena aula, por ignorar as recomendações médicas. Ele começa dar aula em vídeo e os alunos ficam atentos. Nesse momento, demonstra o quanto tem domínio de classe em relação ao conhecimento das atitudes peculiares daquela turma de sexta série. Os alunos ainda encontram-se desestimulados para o teste final. Segundo eles: “todo mundo acha que eles são sem futuro”. Clark tenta movê-los pelo desafio, mostrando-lhes que são capazes. A prova representa um momento de nervosismo para os aprendizes.
     Chega enfim o “grande dia”. Clark também não consegue esconder o seu nervosismo. Os alunos são recompensados pelo esforço antes de saberem o resultado das notas. As notas chegam enquanto o professor premiava os alunos. Os resultados são surpreendentes. Foi uma festa que uniu família, alunos, professor e direção. A menina Shameika foi a melhor do estado, reconhecendo diante de todos o trabalho do professor, ela que fora tão rebelde em aceitá-lo. O futuro da maioria dos alunos foi brilhante conforme relata o filme, e os métodos daquele professor ficaram bastante reconhecidos na nação americana.
     O filme retrata de maneira bastante clara a realidade enfrentada pelos professores contemporâneos que lecionam no ensino fundamental ou médio. Esse tipo de profissional, devido aos baixos salários, geralmente não pode se dedicar ao ensino em apenas uma instituição. No filme fica evidente esse fato, nas cenas que constatam que o professor Ron Clark precisa ter dois empregos para se sustentar, além de dormir pouco, corrigindo as provas dos alunos de madrugada.
     Outro aspecto interessante, é que diante da visão metodológica do ensino tradicional, o docente encontra, muitas vezes, resistências por parte dos diretores ou superiores na escola, o que desestimula as tentativas de propor novos procedimentos. Entre outros aspectos, pode-se destacar também o contexto de desmotivação, desrespeito e indiferença por parte dos alunos nessas fases escolares. Mesmo vivendo nessa situação, o professor Clark acredita e confia no potencial de seus alunos, o que é deveras importante na prática docente.
     Diante do contexto vivenciado pelo protagonista do filme, ele é bastante sábio no momento que tenta aproximar a família ao contexto escolar, se envolvendo com os alunos e suas realidades. A aproximação da família na escola básica é muito importante, e a ausência da mesma pode ser uma explicação razoável para o mau rendimento de alguns desses estudantes. Além desse fator, não é conveniente ignorar que muitos alunos atuais são vítimas de espancamento, trabalho infantil ou até mesmo do crime, como o filme expusera. Por isso, o professor deve buscar a cada dia entender aspectos da cultura dos seus discentes, tornando-se incentivador, inovador, criativo, amigo e compreensivo.
     O contexto do filme se assemelha bastante ao cotidiano do professor polivalente que leciona no ensino fundamental 1 no Brasil, país que também tem adotado uma política de valorização do desempenho através do sistema de provas (avaliação quantitativa). Muitas vezes esse professor também precisa buscar outras rendas, ficando sem tempo, numa rotina de stress e adoecimentos. Vale ressaltar, que a profissão docente tem ocupado o pódio no que tange a doenças cerebrais. Fazendo um paralelo com o filme, o momento em que Clark tem um surto de nervosismo, é comum acontecer com alguns professores, levando-os até mesmo a depressão ou Síndrome de Burnout.
     O ensino superior brasileiro vive um contexto bastante diferenciado, no que diz respeito ao comportamentalismo dos discentes. Entretanto, a política de valorização de resultados de exames e os baixos salários também estão presentes nas instituições superiores. É possível constatar também, que no Brasil, a educação superior tem sido marcada pelas aulas expositivas e avaliações quantitativas, valorizando demasiadamente as provas e notas, tornando o professor, também, vítima desse processo. O ensino superior no Brasil necessita de profissionais dispostos a utilizar novas metodologias e recursos que tem permeado a contemporaneidade (ao exemplo do computador) para ensinar.      Além disso, esse tipo de profissional deveria incorporar em suas práticas os legados do filme “O triunfo”, buscando ter mais consciência dos valores culturais de sua sociedade e região, não apenas despejando conteúdos, mas buscando entender melhor o contexto cultural e situacional dos seus estudantes.