O Gabinete do dr. Caligari

O sinistro Dr. Caligari hipnotiza um jovem e o induz a matar várias pessoas. Tudo se complica quando ele se recusa a assassinar uma bela jovem. O filme mostra a ótica de um louco através das distorções e deformações das ruas, casas e pessoas.

O ano é 1919, o cenário a Alemanha, e somente um ano havia se passado desde o fim da primeira grande guerra. As feridas do conflito ainda sangravam e o resultado foi cruel para aquele país. Esse foi o palco para um novo estilo de cinema (uma guerra, uma nação e uma expressão) surgido através da vanguardas da década seguinte, que teve como um dos precussores o diretor Robert Wiene.

Robert Wiene (Breslau, 27 de abril de 1873 – Paris, 16 de junho de 1938) foi um dos diretores mais importantes do cinema alemão. Sua mais memorável participação no cinema acontece através do terror de 1920 intitulado O Gabinete do Dr. Caligari e da adaptação de Crime e Castigo – Raskólnikov de Dostoiévski (1923).

Gabinete do Dr. Caligari é o início do estilo de cinema que ficou conhecido como Expressionismo Alemão. Os cenários se inspiram em quadros cubistas e o filme traz toda a influência dos movimentos estéticos que revolucionaram o começo do século XX, bem como todos os medos, delírios e assombros do homem que se modernizava. A partir de 1920 causou um impacto significativo, servindo de influência para todo um gênero de terror ao introduzir imagens, temas, expressões e personagens que seriam explorados por filmes como Drácula, Frankstein entre diversos outros…

Através de um enredo-pesadelo, o filme mostra personagens desligados da realidade cujo sentimento aparecia em um cenário de drama plástico repleto de simbologias e significados macabros. Mas Caligari também se relacionava com os filmes pré-expressionistas realizados no país antes da guerra (utilização principalmente do cinema autor) com o popular filme de detetives, o que indica uma preocupação comercial entre os seus realizadores. Dr. Calígari se baseia completamente em recursos teatrais, com a câmera fixa no centro, mostrando o cenário e deixando os atores (especialmente Veidt) responsáveis por diversos movimentos de impacto.

No enredo, o misterioso Dr. Caligari (Werner Krauss) chega à cidadezinha de Holstenwall com um espetáculo que seu assistente, o sonâmbulo Cesarê (Conrad Veidt), adivinha o futuro das pessoas. Logo depois da chegada da dupla sinistra, uma série de crimes praticados na cidade faz com que as suspeitas se voltem para o sonâmbulo-zumbi, flagrado por seqüestrar uma moça Jane (Lig Dragover), namorada do jovem Francis (Friedrich Feher).

Neste estilo, policiais sentam em bancos ridiculamente altos, formas pontiagudas predominam em todo o cenário, ambientes externos são pintados, aspectos de atemporalidade e as interpretações são estilizados a ponto de histeria (caligarísmo). Calígari é também uma história relacionada com a cultura alemã: trata de conflitos, perda de uma identidade pós-guerra, um forte paternalismo, mães ausentes, e objetos de desejos praticamente inalcançáveis.

Baseado nas experiências de Mayer com psiquiatras e no testemunho do assassinato de uma moça no parque Holstenwall, o roteiro vem com o objetivo de criticar a violência de qualquer autoridade social; junto à proposta do expressionismo de demonstrar e traduzir esteticamente os conflitos emocionais.

Uma polêmica entre os roteiristas e o diretor causou a eliminação de diversos itens do roteiro. Para os roteiristas, a estratégia de apresentar Francis como um indivíduo louco e incapaz, invertia o ponto central do roteiro que era o de questionar a obediência cega à autoridade. Porém, inversamente a história em diversos momentos glorificava a autoridade.

O Gabinete de Dr. Calígari foi se consolidando no cenário cinematográfico, no qual muitos tentaram reduzir o filme (e sua moldura) a um efeito alegórico específico, mas indo muito além, trata-se de uma poderosa metáfora que gera toda uma ambivalência, não simplificada, pelo tema da loucura.

Após a ascensão de Hitler na Alemanha, Robert Wiene deixou Berlim, primeiramente foi para Budapeste onde dirigiu One Night In Venice (1934), posteriormente para Londres e, finalmente para Paris onde tentou produzir junto de Jean Cocteau uma reprodução sonora de O Gabinete. Wiene morreu de câncer em Paris dez dias antes do fim da produção de um filme de espiões, Ultimatum.

Pais: Alemanha

Ano: 1919

Direção: Robert Wiene

Roteiro: Carl Mayer & Hans Jenowitz

Duração: 51 Minutos

Gênero: Mudo, P&B, Terror

Elenco:

Werner Krauss como Dr. Caligari

Conrad Veidt como Cesare

Friedrich Feher como Francis

Lil Dagover como Jane

Hans Heinrich von Twardowski como Alan

Rudolf Lettinger como Dr. Olson

Rudolf Klein-Rogge como “O Assassino”

Inã Cândido
Enviado por Inã Cândido em 21/12/2011
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