Crítica: Espelho, Espelho Meu (Análise e Crítica)

Nunca fui fã de Julia Roberts. Pelo contrário, sempre achei suas heroínas incrivelmente chatas e repetitivas, sempre com aquele nariz vermelho e com cara de gripada. Logicamente que na sua filmografia existem trabalhos clássicos, como “Uma Linda Mulher”, “Dormindo com o Inimigo” e – o meu predileto – “Um Lugar Chamado Nothing Hill”, entre outros. Porém, em todos esses nunca tive a sensação de que a atriz fosse parte essencial do filme, que sem ela a história se impossibilitaria de acontecer, pois a mesma cara de resfriado estava lá, dando vida a todos aqueles personagens.

Para que falar tanto sobre Julia Roberts, se este artigo não se trata de uma avaliação de sua carreira? É simples. Para minha grata surpresa, “Espelho, Espelho Meu” me revelou um lado até então desconhecido. Não sei se posso, mas ao menos me atrevo a dizer que este talvez seja o seu melhor trabalho. Interpretando a excêntrica Rainha Má, desta mais nova adaptação do conto da Branca de Neve, originalmente escrito pelos irmãos Grimm, Roberts rouba para si todas as cenas, deixando claro que é sua personagem o fio condutor da trama.

E não poderia ser diferente, até porque o título é a própria frase dita pela rainha em frente ao espelho, quando deseja saber quem é a mulher mais bela do reino encantado. No entanto, esse papel teria tudo para cair na caricatura, um verdadeiro prato cheio! Mas o ótimo desempenho da atriz fez que sua personagem passasse longe disso. Apesar de todas as suas crueldades, o espectador simpatiza com ela, não deseja o seu mal. Enfim, trata-se de uma vilã adorável, da qual se gosta mais que da própria mocinha.

Por falar nisso, o restante do elenco muito bem dirigido por Tarsem Singh dá liga à película. Os intérpretes da Branca de Neve e do Príncipe, Lily Collins e Armie Hemmes, formam um casal bem entrosado, proporcionando ao público momentos bastante engraçados. Enquanto ele exagera um pouco na sua performance, ela por sua vez encontra o tom certo entre a inocência e uma certa malícia, que apimenta e faz de sua princesa algo moderno. Outra presença grandiosa é a de Nathan Lane, impecável como o mordomo puxa-saco oficial da Rainha Má. E o que dizer dos sete anões? (risos)

Outros elementos – figurinos, efeitos especiais, fotografia, direção de arte, trilha sonora – igualmente competentes. Alguns mais e outros menos exagerados, mas é isso que faz o conjunto ficar harmônico com a proposta da obra e lhe dá a medida correta.

Além de metalinguístico – prática muito usual no cinema atualmente – “Espelho, Espelho Meu” é divertido, leve, despretensioso, no qual o príncipe é um fracote, a princesa não é tão ingênua assim, e os anões chegam a ser gigantes... Em todo o longa, há a desconstrução dos elementos básicos dos contos de fadas, mas nem por isso deixa de ser um conto de fadas em sua essência. Embora haja até bastante sensualidade, estão ali presentes valores morais como a honestidade, a crença em um amor único e verdadeiro, a vitória do bem sobre o mal... E sem contar, óbvio, com o chavão “E viveram felizes para sempre...”.

É um filme para a família assistir junta. Diferente do tedioso “Gato de Botas”, por exemplo, pude reparar que as crianças a meu redor estavam hipnotizadas pela história, gargalhavam, torciam, mesmo não se tratando de um filme feito preferencialmente para elas. Porém, possui aquilo que tanto as atrai: a magia. Na qualidade de público, crianças são piores do que o crítico mais amargo: agradando-lhes, é certeza de sucesso garantido. Recomendadíssimo!

Nota: 10,0.

Dan Niel
Enviado por Dan Niel em 17/04/2012
Reeditado em 26/05/2013
Código do texto: T3617641
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