Os Vingadores (Análise e Crítica)

No distante setembro de 1963, chegava às bancas estadunidenses a primeira edição daquela que seria uma das equipes de super-heróis mais cultuadas de todos os tempos. Com roteiros do excêntrico [E profético, por que não?] Stan Lee e artes de Jack Kirby, logo os Vingadores passaram a ser um enorme sucesso de vendas, a ponto de no sétimo número sua revista configurar entre os lançamentos mensais da Marvel, a gigante do mercado de quadrinhos de todo o planeta.

Passados quase 50 anos, eis que estreia nos cinemas o projeto mais ambicioso de todos os tempos, tratando-se de personagens desse gênero. Finalmente depois de anos de expectativa, desde a cena pós-crédito em “Homem de Ferro” (2008), os fãs da nona arte poderão enfim ver Capitão América (Chris Evans), Thor (Chris Hemsworth) e Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) juntos na defesa do planeta Terra, no arrasta-quarteirão que tem tudo para ser uma das franquias de maior sucesso da história do cinema, “Os Vingadores”.

O longa, dirigido e roteirizado pelo também autor de quadrinhos Joss Whedon, dialoga com os mais recentes filmes dos estúdios da Marvel, e o cerne de sua trama está no semideus Loki (Tom Hiddleston), meio-irmão de Thor, que, apoderado do lendário Cubo Cósmico, convoca um grupo de alienígenas para invadir a Terra. Neste momento, Nick Fury (Samuel L. Jackson), em nome da agência governamental S.H.I.E.L.D (cujas letras formam a palavra “escudo”, em inglês) tem a missão de reunir um grupo de protetores ao planeta. O problema será justamente controlar o ego de cada um dos integrantes e suas diferenças, principalmente entre Homem de Ferro e Capitão América, desavença clássica nas histórias do grupo, e que gera boas piadas e combates, que por sinal é o que não falta.

Para os mais ortodoxos, é bom lembrar que a trama não gira em torno da formação oficial do grupo nos quadrinhos, uma vez que é repleta de novas informações. Embora haja elementos conexos, como Loki ser o mentor da vilania e dominar mentes e a dificuldade na formação da equipe, o enredo preza mais pelo viés apocalíptico e catastrófico que tomou conta dessas histórias na década de 90, quando, numa fase de declínio, a narrativa passou a ser mais “pesada”, com o objetivo de resgatar antigos e seduzir novos leitores. O fato é que histórias assim caíram no gosto e até hoje dão o tom nas diversas sagas lançadas anualmente.

Contudo, o clima da fita não é nada sombrio. Pelo contrário, há passagens bem divertidas, que inclusive debocham dos clichês típicos em filmes de heróis. Como, por exemplo, a cena em que Loki ironiza Hulk, dizendo que este não pode tocá-lo por ele ser um deus poderoso. A plateia vai às gargalhadas quando o Grandão pega o asgardiano e joga de um lado para o outro, que, todo quebrado, fica paralisado no chão. Sem contar as piadas: quando ouve falarem mal de Loki, Thor o defende por aquele ser um asgardiano; quando acusam seu meio-irmão de homicida, o Deus do Trovão replica que o Trapaceiro não poderia ser perfeito, já que é adotado (risos).

Sem mais spoilers! Quanto às interpretações, parece que cada herói foi destinado a seu respectivo intérprete com precisão. Depois de errar a mão em “Homem de Ferro 2”, o Tony Stark de “Os Vingadores” continua o bom playboy canastrão, é notoriamente a alma do grupo, mas sabe equilibrar os momentos de brincadeira com os mais sérios. Hemsworth, não muito à vontade no filme solo de Thor, retorna um pouco mais confiante, assim como Evans, que já havia convencido com o seu Capitão América, apesar de em seu filme o Sentinela da Liberdade não ter mostrado necessariamente a que veio.

Convenhamos que o Hulk de Mark Ruffalo merece uma produção independente. Seria um risco, pois a própria Marvel já rodou um longa, em 2008, com Edward Norton dando vida ao Gigante Esmeralda, mas Ruffalo, que nada lembra a pessoa física do cientista Bruce Banner, é quem consegue chegar mais próximo à essência do personagem, ao transmitir o paradoxo que lhe é tão peculiar: a tranqüilidade enquanto homem, e a ferocidade enquanto monstro. Sua transformação em Hulk se situa em um dos melhores momentos da película.

Ademais, se a Viúva Negra (Scarlett Johansson) e o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) não são dotados de superpoderes, foram bem aproveitados pelo roteiro, mostrando inteligência e dando força física ao time. Aliás, acertou-se em cheio no desenvolvimento dos personagens e na relação entre eles, deixando os – excelentes – efeitos especiais, na verdade, em segundo plano. Por sua vez, os aliados de Loki poderiam ter maior espaço no roteiro: eles entram no último 1/5 do filme, são avidamente massacrados, e só!

No mais, “Os Vingadores” é o tipo de filme que só conferindo mesmo para sentir na pele. Feito para todas as idades e públicos, não é necessário ser um marvelmaníaco [Desculpem, é que odeio o termo “marvete”] para compreender a história. Estreando em mais de 1000 cinemas somente no Brasil – uma verdadeira marca –, põe a poderosa Marvel em um patamar a que dificilmente as outras editoras do ramo irão chegar. Além de tudo, ela demonstrou que paciência e planejamento são itens indispensáveis para que projetos deem certo, sejam eles da natureza que forem. E não vai parar por aí: já está confirmada a sequência não só dos Vingadores, como também a de Thor e a do Capitão América (ambas para 2014) e “Homem de Ferro 3”, para o ano que vem.

Segure o coração, e se surpreenda. Você vai querer sair do cinema gritando:

AVANTE, VINGADORES!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

P.S: Há cena pós-crédito. Não deixe de assistir, pois nela se revelará o vilão da sequência. Uma dica: pertence à linha cósmica da editora. Confira!

Nota 9,5.

Dan Niel
Enviado por Dan Niel em 27/04/2012
Reeditado em 26/05/2013
Código do texto: T3635988
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