Selvagens

Oliver Stone 2012

Minha avaliação: Eu já esperava pouco, o filme me ofereceu ainda menos.

Ponto forte: A amizade entre os amigos de personalidade diferente fez com que fosse possível dar um pouco de humanidade ao filme.

Pontos Fracos: Texto forçado. A existência dos dois finais, um melodramático demais. O outro um arremedo contado às pressas.

Quando vi que um filme do Oliver Stone entrou em cartaz fiquei com vontade de ver. Ele dirigiu alguns filmes que me impressionaram.Gostei muito de ´The Doors´ (vale contar que sou fã da banda), ‘Wall Street’, e – os que mais me impressionaram – ‘Platoom’ e ‘Assassinos Por Natureza’. Com tantos clássicos poucos não o colocariam no panteão dos grandes diretores dos EUA.

Em uma resenha que escrevi a pouco (007, Operação Skyfall) falei sobre como a nossa expectativa nos torna tolerantes a exageros, de modo que não vou me estender muito neste assunto agora. Só vou fazer dois breves comentários porque o filme chama o assunto. Vários filmes acompanham a narração enquanto a pessoa escreve no diário, ou enquanto pensa consigo mesma ou arrumam qualquer desculpa para que o narrador continue em seu isolamento como uma personagem. Em Selvagens não. Logo no começo Ophelia (que é sempre carinhosamente chamada de O.) rasga esta cortina atrás da qual tudo é real (em uma realidade criada pelos realizadores). Em uma cena – e em apenas uma – ela diz em que tipo de filme estamos. É o tipo de filme em que se cortam cabeças (e vemos um monte de cabeças cortadas ao lado de corpos pendurados) e onde não necessariamente a mocinha vai terminar viva. Oras. Ela sabe que estamos acostumados ao tipo de filme em que os mocinhos sempre sobrevivem e sabem que isto tira muito da emoção do filme. Então ela quer nos tirar do conforto de nossas poltronas.

Pois bem, para mim não funcionou. Sabe o que me tirava deste conforto? Câmera na mão. Quando eu via um filme com câmera na mão e uma iluminação mais naturalista eu já ficava com medo, perdia o chão. Sabia que era o tipo de filme de baixo orçamento disposto a se arriscar por caminhos nos quais uma superprodução (e seus milhões de dólares) não arriscaria trilhar. Embora O. me dissesse, “Olha, este é um filme diferente, fique com medo.” o corpo das personagens (extremamente malhados e bonitos) me diziam, “Este é um filme comercial – e não é um filme de terror. Pode ficar tranquilo que os mocinhos vencerão.” A propósito dos corpos malhados tenho uma observação: eles não seriam aceitos em um filme brasileiro. Seria simplesmente patético. O corpo do personagem que foi soldado ainda é razoável que esteja super forte – afinal ele foi e ainda se comporta como um soldado. Mas o corpo do hippie que está a meses prestando ajuda humanitária na África, é razoável que esteja sarado? No entanto aceitamos esta condição com a mesma naturalidade que aceitamos que heróis gregos tenham corpos sarados meçam mais de 1,80 e tenham olhos azuis. Aceitamos pois esperamos este tipo de coisa de filmes americanos. Imaginem se um filme sobre Canudos tivesse personagens assim?

O. vive em uma casa no topo de um pequeno morro ao lado da praia. Neste lugar ela tem dois amantes, Chon (militar reformado que serviu em duas guerras) e Bem (um hippie botânico). Ambos são ricos e sócios em uma empresa que produz a maconha com a maior concentração de THC já vista nos EUA. Pois bem, O. passa os dias na praia, transando com dois gatos gostosos e cheios de grana. A bonança era tanta que chamou a atenção de um cartel mexicano barra pesada. O cartel faz a proposta de uma join venture: Os dois continuam plantando a mesma maconha no mesmo lugar. Só que agora venderá para os clientes do cartel. Nesta proposta Chon e Ben ganharão proteção e ganhos de escala (venderão muito mais e de modo muito mais seguro) durante três anos. Em troca ambos darão aulas sobre o cultivo da maconha e pagarão 20% do que receberem. Neste combinado ao fim dos três anos estarão tão ricos que não precisarão continuar no tráfico. A proposta parece excelente mas carrega aquele velho problema dos negócios ilícitos: quem dá a fiança de que o acordo ocorrerá como o prometido? Se ao final o cartel resolver mata-los, quem vai garantir a segurança deles? Se estivessem na legalidade recorreriam ao Estado para a segurança física e jurídica, mas eles são produtores de uma droga ilícita. O cartel mexicano captura a bela O. na expectativa de que a partir daí Ben e Chon cumpram os termos do contrato. Chon convence Bem de que O. não resistirá ao cativeiro e de que devem resistir violentamente.

O filme não me convenceu nem tampouco à garota com quem fui ao cinema. Por quê? Oliver Stone fez um filme sobre guerra maravilhoso, ‘Platoom’, também fez um filme maravilhoso sobre mercado financeiro, ‘Wall Streat´. Parece que ‘Selvagens’ foi a tentativa de fazer uma mistura destes dois filmes. A força dos personagens e do dinheiro de Wall Streat e a pegada reflexiva e as cenas de guerra de Plattom. Só que nestes dois filmes ou os personagens são fortes e interessantes (Wall Streat) ou o conflito é interessante (Platoom). Em ‘Selvagens’ o conflito é banal - a luta de uma quadrilha menor (de Bem e Chon) contra uma quadrilha maior (o cartel). Além disso os personagens são muito mais fracos. A narradora O. é uma patricinha que nunca trabalhou e que largou os estudos. Mas o que realmente deixa O. desinteressante é que ela não toma sequer uma decisão relevante ao longo do filme, tem o papel apenas como isca de seus maridos. Temos Ben e Chon. Um filantropo na África e um militar. Eu já havia falado bem desta combinação. De fato ela traz o que há de melhor no filme (o que não é muita coisa): como um é sensível o caráter ousado e violento das ações militares ganha força (ao menos alguém sofre com o tanto de assassinatos). Além disso temos a reflexão que a vilã faz que é bem interessante. O. acha que ambos a amam tanto que ficam juntos por ela. A vilã diz que ambos se amam tanto que a dividem. No mais esta dualidade é até ruim pois Chon é um personagem mal construído. Em um momentos completamente aleatórios começa a falar sobre mudar o mundo através do uso da energia solar, por exemplo. Sem contar que ele passar meses na África fazendo filantropia não me pareceu convincente.

É isto. Achei o filme ruim. E você, viu o filme? O que achou? Acha que o que falei tem pertinência? Abraços e até a próxima resenha!

Chico Acioli Gollo
Enviado por Chico Acioli Gollo em 21/11/2012
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