TEMPOS MODERNOS - A VIDA QUE IMITA A ARTE

Em Tempos Modernos, Charles Chaplin critica a sociedade capitalista e as duras condições dos operários após a recessão econômica da década de 1930

Quando se deu a avant première do filme Tempos Modernos (EUA, 1936) no Rivoli Theatre de Nova York – aliás, a última produção do cinema mudo de Charles Chaplin –, o mundo ainda tentava se recuperar da grande recessão econômica desencadeada pela quebra da bolsa de valores de Nova York, na famosa Wall Street em 24 de outubro de 1929, a quinta-feira negra. Acionistas em pânico – há registros, até, de suicídios –; altas taxas de desemprego e redução salarial; queda de consumo e, consequentemente, da produção industrial; bancos, indústrias e comércios levados à bancarrota, foram apenas algumas das consequências imediatas desencadeadas pelo colapso financeiro.

Apesar do caos eminente, ainda sobrava espaço para o riso; na verdade, um humor maquiado por críticas à sociedade capitalista e às duras condições a que eram submetidos os operários nas indústrias da época. A busca desenfreada pela produtividade e, consequentemente, pelo lucro, é ironicamente repreendida por um dos maiores gênios que o cinema conheceu ao longo da história, estabelecendo uma espécie de síntese entre o trabalho intelectual e a atividade mecanizada: enquanto o dono da fábrica vigia tudo de seu escritório como um autêntico big brother do passado, os operários – entre eles o próprio Carlitos –, são submetidos ao ritmo ininterrupto das máquinas, como se constituíssem peça integrante da própria engrenagem. Tanto é verdade que, ao encerrar o turno, o personagem continua com a mente voltada para os movimentos do trabalho. Em suma, os comandantes exercem papel intelectual enquanto que cada operário, devido à fragmentação da produção, aliena-se cada vez mais ao processo de industrialização. Hoje, diga-se de passagem, a subdivisão estabelecida entre “pensadores” e “executores” ainda se faz presente em grande parte das empresas.

Claro que o filme chegou a ser proibido, especialmente na Alemanha de Adolf Hitler e na Itália de Benito Mussolini; e o diretor boicotado em seu próprio país, a Inglaterra. Isso não tira, no entanto, sua qualidade técnica e importância sociocultural, que transcende as barreiras do tempo e o coloca na seleta lista de obras-primas do cinema.

Em meio ao drama, Tempos Modernos tem, ainda, seu lado romântico e, apesar da desigualdade latente entre as classes sociais, procura alimentar o sonho de uma vida melhor e a buscar o amor, sentimento capaz de acalentar o coração e de lembrá-lo de sua gênese humana. Em paz e de mãos dadas com a namorada, órfã de mãe e filha de pai morto numa manifestação trabalhista, ao final do filme Carlitos caminha sem destino por uma estrada deserta. Feliz, provavelmente.

Visão do futuro – Em meados da década de 1930, as máquinas passaram a substituir o trabalho braçal. Com isso, muitos homens deixaram de ser barbeiros, artesãos e até mesmo cultivadores para trabalharem nas fábricas; e, em seis anos, mais precisamente de 1934 a 1940, o movimento operário norte-americano cresceu consideravelmente, recuperando paulatinamente os níveis de produção e consumo anteriores à crise. Natural, assim, que eclodissem as mobilizações sindicais e suas lutas de classes por condições mais dignas de trabalho e melhores salários.

No Brasil, a crise de 1929 também deixou seus reflexos, instigando a ambição de imperialistas estrangeiros – sobretudo alemães e japoneses – e criando um clima de efervescência revolucionária. Se por um lado o País se industrializava, por outro o governo procurava controlar o movimento operário e sindical. Foi quando o presidente Getúlio Vargas criou, em 1930, o Ministério do Trabalho, fazendo dos sindicatos uma espécie de colaboradores e aproximando-os da máquina administrativa – por decreto, só tinham direito a férias anuais os trabalhadores sindicalizados. “Já é hora de substituir o velho e negativo conceito de luta de classes pelo conceito novo, construtivo e orgânico de colaboração de classes”, declarou, na ocasião, Lindolfo Collor, o primeiro ministro do Trabalho.

Atualmente, os sindicatos detêm um papel importantíssimo para a valorização profissional e na representação de suas respectivas categorias nas empresas e perante o próprio governo. São eles que garantem aos trabalhadores que seus diretos não sejam transgredidos e, pela força e influência na conjectura política, tornaram-se grandes militantes na elaboração de projetos que, com mobilização popular, transformam-se em leis.

De volta ao filme, ao criticar, mesmo que metaforicamente, o capitalismo e a exploração da classe operária, seu idealizador parecia prever o que estava por vir nos tempos modernos. Nesse sentido, mais uma vez é a vida que imita a arte.

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Fonte: SINTEC-SP em Revista - Edição 155

http://www.sintecsp.org.br/Revistas/SINTEC-SP%20EM%20REVISTA%20155.pdf

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José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 20/02/2013
Reeditado em 08/01/2014
Código do texto: T4150682
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