Terapia do Amor



Não me lembro dessa cena, mas a revejo de vez em quando, como se a tivesse vivido.


Ele era bem pequeno, o meu segundo irmão e nutria um grande encantamento por uma menina mais velha, da idade de uma de nossas irmãs. Ele dizia que quando crescesse iria se casar com essa menina e então lhe disseram:  mas você não pode, ela é mais velha do que você! E ele então retrucou em sua fala ainda estropiada:Ué! Que é que tem? É dois anos xó!

Por que me lembrei disso?

Acordei pela madrugada em um hotel em BH, manhã seguinte minha segunda aplicação de quimioterapia. O corpo cansado de dormir na mesma posição, fui para o sofá, liguei a televisão. Estava começando o filme Terapia de Amor.

Foi um belo aperitivo para a minha terapia. Diversão e reflexão. Agora escrevo, para não esquecer.

Ela tem 37 anos e é linda. Acaba de se divorciar e agora quer apenas dedicar-se ao trabalho. Chega de emoções, chega de sofrimentos e desencontros. Ela é Uma Thurman, belíssima!Substituiu Sandra Bullock, na última hora. Sorte de todos. Uma noite, por acaso eles se encontram: ela e o garotão – Bryan Greenberg, 23 anos, judeu e... E aí sim, é que tudo se complica. Ele é filho da terapeuta de Uma ( Meryl Streep), como sempre, brilhante. E como toda  terapeuta que se preza, incentiva a paciente a ir em frente, soltar seus demônios. Até que descobre que o garotão é seu próprio filho.

O que fazer? Interromper a terapia? Continuar? Qual seria mais ético? O caso é que ela continuou. Observar as sutis transformações das expressões de Meryl ao ouvir as peripécias sexuais de seu menininho é puro encantamento.

Rir e refletir. Rir durante e refletir depois. Vale a pena investir em um relacionamento claramente fadado  a ter um final prematuro? Depende. Talvez para quem espere um  felizes para sempre, não. Porque independente dos preconceitos sociais e familiares uma mulher madura namorando um garotão sabe – eles estão em fases diferentes da vida, esperando por coisas diversas, ela já cresceu o suficiente para saber o que quer e o que esperar. Mas ele não. Tem que viver seu tempo, realizar-se profissionalmente, construir o que ela já construiu. Talvez ele não saiba disso conscientemente, mas sente. Mesmo assim será duro compreender que o tempo deles será de pouca duração, que haverá um momento em que cada um seguirá seu próprio caminho.

O bom de tudo isso é saber que existem marcas tão fortes que mudarão nossas vidas para sempre. E para sempre é um bom tempo para viver com lembranças felizes.