Blue drop 8: Hyosciamus Niger - o passado de Hagino e Mari

BLUE DROP 8 HYOSCIAMUS NIGER: O PASSADO DE HAGINO E MARI

Miguel Carqueija


Três tramas paralelas sucedem-se neste extraordinário episódio de “Blue drop” (Gota azul): Kouzuki Michiko, a ingênua Micchi, das histórias secretas, convocada para escrever a peça teatral do próximo festival da Academia Kalhou, vê-se barrada por uma trava mental causada por sua própria timidez em escrever coisas que os outros travarão conhecimento, entra em pânico e foge; Mari e Hagino dirigem-se à cidade afim de comprar objetos necessários à peça e, na volta, terão o seu momento da verdade; a bordo da nave Blue, Tsubael e Azanael espionam eletronicamente os movimentos da Comandante Ekaryl (ou seja, a suposta estudante Senkouji Hagino) em sua jornada com Wakatake Mari. Tsubael está profundamente intrigada com a interação de Ekaryl com os “horimes” (como as arumes chamam aos terráqueos) mas não pretende se voltar contra sua comandante; Azanael, porém, carrega o ódio de quem perdeu sua melhor amiga com duzentas companheiras no desastre que atingiu a Blue, cinco anos atrás; e insiste em culpar Ekaryl.

“Tenho a impressão de que já te conheço há muito tempo.”

(Mari para Hagino)

Rsenha do capítulo 8 – Hyosciamus Niger - do seriado japonês de animação “Blue drop” (A gota azul) (Tenshitashi no gikyoko), do estúdio Asashi Production (2007) com direção de Masahiko Koohkura. Criação original em mangá de Akihito Yoshitomi.


Cenas de grande beleza e profundidade ocorrem neste episódio do exemplar seriado de animação “Blue drop”. Revelações se sucedem e mostram, afinal, o que aconteceu naquele fatídico dia em que 800 pessoas (e mais 200 alienígenas) perderam a vida numa ilha japonesa, e a menina Mari, única sobrevivente da população terrestre, ficou desmemoriada. Ekaryl, que continua usando a identidade falsa de Hagino, e se fingindo de terrestre, vai com Mari numa cidade próxima à academia, comprar material para o evento que se aproxima. Na volta Mari sugere que as duas retornem a pé, por gostar de caminhar; logo esta veneta lhes trará problemas sérios. Mari não aguenta a longa caminhada e seus pés, cheios de bolhas, obrigam-na a tirar os sapatos. Anoitece e um grande temporal desaba. As duas meninas são forçadas a se abrigar num galpão ou coisa parecida que encontram. Hagino, temendo que Mari pegue uma gripe, coloca nela uma coberta e se deita junto, para que se aqueçam mutuamente, pois a temperatura caiu bastante (é possível que Hagino, como alienígena que é, tenha imunidades contra resfriados e outras moléstias). Ao adormecerem, porém, um estranho fenômeno psíquico se manifesta: uma ligação telepática entre as duas, que já existia e antes se manifestava de forma confusa. Agora um sonho posmonitório as envolve. A queda da nave Blue nas proximidades, atingida por um sinistro (descontrole da energia), incendeia a ilha e acarreta a formação de um tsunami. Uma criança, uma menina, afunda nas águas, sem possiblidade de salvação. Surge Ekaryl que, tendo deixado a nave sinistrada, nada como uma foca e, acançando a criança que desce para o fundo, estende-lhe a mão e a puxa para cima. Ekaryl, que respondia ao chamado silencioso, telepático, de Mari.
Embora filmes de arte, como esta série, não coloquem explicações didáticas, pode-se chegar a conclusões importantes por dedução: por que afinal existiria uma tal afinidade entre pessoas de planetas diferentes? Como não enxergar aí a mão da Providência, que aproximou desta forma Ekaryl e Mari, como primeiro passo para a amizade e aliança entre as duas raças, ao invés da guerra que se anuncia?
A cena que se segue é uma das mais comoventes que já assisti em filme. Mari desperta do sonho-visão que teve, uma verdadeira revelação. Ela olha para Hagino (Ekaryl, não esqueçam) e murmura:

“Foi você! Foi você quem me salvou, não foi?”

Hagino nada responde. As lágrimas começam a escorrer abundantemente no rosto de Mari e a adolescente então, num assomo de gratidão e ternura, se atira nos braços de Hagino, pronunciando entre soluços:

“Obrigada, Hagino! Obrigada, Hagino!”

Mas Azanael, que a tudo assiste a distância por espionagem eletrônica de alta tecnologia (a tecnologia alienígena das arumes), não se comove com a cena tocante. Inconformada com a perda de sua amiga Osomil no desastre, ela acha que isto poderia ter sido evitado. E murmura:

“Para salvar esta horime, ela desistiu de Osomil?”

O futuro de todas as personagens, a esta altura da série, é tremendamente incerto.


Rio de Janeiro, 20 de maio de 2015.


imagem da série (google)