Blue drop 13 final Rosmarinus (Orvalho do mar): o comovente desfecho

BLUE DROP 13 FINAL ROSMARINUS (ORVALHO DO MAR): O COMOVENTE DESFECHO
Miguel Carqueija

A brutal invasão da Terra teve início. Sem aviso, a frota interestelar das Arumes penetrou no espaço aéreo do planeta e pôs-se a atacar e destruir instalações, navios militares e aviões. Pegas de surpresa, as forças militares dos terrestres tentam organizar a defesa. UFOS são vistos por toda a parte. A Comandante-Chefe da frota invasora, Shibariel, decide pessoalmente cuidar da rebelde Ekaryl e do sequestro de Watakake Mari, a menina terrestre que possuía dotes telepáticos e por isso deveria ser estudada. Mas a Comandante Ekaryl e sua imediata Tsubael não pretendem se render e nem entregar a Terra e Mari. Chegou a hora de Davi contra Golias, e Ekaryl (Senkouji Hagino, como é conhecida entre os terrestres) jogará suas últimas cartadas para defender a raça que não é a sua e o planeta que não é o seu.

Resenha do episódio 13, final, “Rosmarinus” - do seriado japonês de animação “Blue drop” (A gota azul) (Tenshitashi no gikyoko), do estúdio Asashi Production (2007) com direção de Masahiko Koohkura. Criação original em mangá de Akihito Yoshitomi.


“Ninguém é mais amigo do que aquele que dá a vida pelo seu amigo.”
(Jo 15,13 – palavras de Jesus)

“A princípio eu gostaria de, ao menos, concluir essa peça.”
(Senkouji Hagino)

“Adeus.”
(Senkouji Hagino)

“Senkouji-san certamente partiu pretendendo nos salvar.”
(Kouzuke Michiko)

“Então, nós teremos que lutar até o fim.”
(Senkouji Hagino para Tsubael)

“É impossível ela não estar solitária, impossível ela não se sentir triste.”
(Wakatake Mari)

“Você ainda está aí, certo? Você ainda pode me ouvir, certo?”
(Wakatake Mari)

“Joana, se você ainda pode me ver... aquele seu olhar... seu sorriso...”
(Wakatake Mari)

“Joana... espalhe as sementes da esperança pelo mundo inteiro.”
(Wakatake Mari)


O episódio final apresenta uma carga de emoções arrebatadoras raramente vistas em qualquer filme. E não as emoções de um cinema de ação, embora haja ação, mas de filme minimalista, de arte. Os sentimentos humanos são aqui levados à exacerbação, num pináculo emotivo verdadeiramente magnífico. O clímax, inesperado, original e tocante, é a emersão e lenta decolagem da nave Blue com sua Comandante Ekaryl, que sobe do mar para a atmosfera, para enfrentar a nave-capitãnea Nobal de Shibariel, que desce sobre a Terra; e com Wakatake Mari correndo pelo cais tentando acompanhar a nave de Ekaryl, gritando a plenos pulmões, chamando por Hagino (Ekaryl), chamando-a de Hagino e depois de Joana – a Joana D’Arc da peça teatral escolar de Michiko, que era interpretada por Hagino. A sequência é longa, extremamente comovente e uma das cenas mais antológicas de toda a história do cinema, se po
r cinema entendemos também os seriados de televisão.
Devo ressaltar ainda os temas musicais, também envolventes, tanto da abertura como do encerramento dos capítulos. Música suave e pungente que fica na nossa mente, acompanhando vinhetas fascinantes sublinhando não cenas estapafúrdias de ação, violência e poderes, como é comum nos seriados japoneses, mas ilustrando os sentimentos delicados das duas protagonistas principais, Hagino e Mari, a improvável amizade entre pessoas de planetas diferentes.
Na véspera do festival, a concentrada Kouzuke Michiko ainda trabalha até tarde, aparando a peça teatral sobre Santa Joana D’Arc. Michiko não se sente feliz, pois sabe que alguma coisa estremeceu a amizade entre as suas duas grandes amigas. Mas anima-se quando aparecem na sua frente Senkouji Hagino e Wakatake Mari, de mãos dadas. Alegre com a reconciliação, Michiko – ou Michi, como Mari carinhosamente chama a colega — junta suas mãos às das duas.
Infelizmente, quando tudo parece ir bem, a tragédia se abate. A peça já está sendo apresentada e a cena em que Mari e Hagino contracenam, no cenário de uma prisão, está em andamento e muito bem interpretada, quando a Professora Sugawara Yuuko interrompe tudo pois, no teatro escolar, ninguém sabe o que está acontecendo lá fora. A invasão começou, a Terra está se defendendo, a Academia Kalhou está em perigo pela proximidade dos ufos. Triste por não ter podido terminar a peça, Hagino revela a todas as pessoas presentes quem realmente ela é, e voando de forma flutuante como conseguem fazer as arumes, retira-se dizendo que tentará conter a invasão. Mari pergunta se ela voltará, mas Hagino limita-se a dizer “Adeus”.
Tsubael estava enfrentando sozinha a batalha, para que Ekaryl não perdesse a peça. Agora, Ekaryl junta-se a ela, as duas já fizeram uma devastação nas linhas imimigas pois sabem lutar para valer na nave Blue. Inesperadamente, a pequena espaçonave de combate de Azanael, que também desertou, junta-se  a elas.
A grandeza artística de “Blue drop” traz então a cena majestosa em que Mari, em desespero de causa, e correndo como as pernas jovens lhe permitem, grita para Hagino, a quem ela não pode ver no interior da espaçonave; e percebemos então que aquela corrida fôra mostrada obscuramente na vinheta de abertura, durante todo o seriado. Que frases gritadas pela desesperada Mari repetiam o que ela dissera nos ensaios da peça teatral. Com sua aparelhagem Ekaryl/Hagino vê e ouve Mari mas, apesar de lhe correrem as lágrimas livre e abundantemente, sem que ela tente sequer enxugá-las, Hagino sabe que não pode voltar atrás e nem recolher sua grande amiga; e dá as ordens finais. A Blue vai ao encontra da Nobal. E até Tsubael chora ante a visão da aflita Wakatake Mari.
Mais uma surpresa estava reservada: Hagino ejeta de surpresa Tsubael, depois de agradecer sua ajuda, para preservar sua grande amiga e auxiliar, e para que Tsubael, ficando na Terra, proteja Mari. Mais acima, no aceso da batalha, Azanael sucumbe, mas conseguiu abrir caminho para que Hagino chegue diante da nave de Shibariel. E como Hagino libera a energia sobre a outra nave, Shibariel não tem escapatória. As diversas espaçonaves empenhadas na batalha são envolvidas num turbilhão de fogo e despedaçadas. As últimas palavras de Ekaryl, em tom tranquilo, são o seu nome terrestre, como se ela já se considerasse mais terrestre que arume: Senkouji Hagino...
Os fragmentos incandescentes das naves destruídas dispersam-se pela atmosfera. Do solo, de onde acompanhou a batalha aérea, sabendo que sua amiga morreu mas salvou a Terra, Mari declara estoicamente: “Joana... espalhe as sementes da esperança pelo mundo inteiro”.
Este o pungente e maravilhoso clímax do seriado “Blue drop”, “Gota azul”.
Mas ainda existe um apêndice fechando o último episódio. Trinta anos se passaram. Uma espaçonave terrestre segue no espaço cósmico, ao encontro de uma nave das arumes. Dentro da nave terrestre dois diplomatas, um homem e uma mulher. E a mulher, com uns 45 anos, é simplesmente Kouzuke Michiko, a pequena teatróloga da Academia Kalhou, a tímida e esforçada menina de óculos que havia escrito a peça teatral sobre Joana D’Arc. Ela segue como embaixadora da Terra, para assinar um tratado de paz com as arumes.

Quando a Comandante Ekaryl (Senkouji Hagino) abateu, ao preço da própria vida, a nau capitânea Nobal, das Arumes, e toda a frota auxiliar, eliminando a Comandante-Chefe Shibariel e todo o seu Estado Maior, destruiu a logística da invasão e deu à Terra tempo para organizar a sua defesa. As invasoras arumes foram derrotadas pela reação das forças militares terrestres e repelidas para o espaço, de onde prosseguiram com a guerra. Mas precisavam do nosso planeta (até porque, não tendo mais homens em sua espécie, reproduziam-se por clonagem e não poderiam sobreviver indefinidamente, necessitando dos homens da Terra para reprodução) e, quando entenderam que já não tinham condição para dominar os horimes (terrestres), aceitaram negociar a paz.
A nobre, corajosa, heróica e altruísta Comandante Ekaryl, a doce e delicada Senkouji Hagino da Academia Kalhou, levada pelo seu espírito amoroso e seu extremado senso de justiça rebelou-se contra o comando de sua própria raça e sacrificou-se para defender a raça que não era a sua e o planeta que não era o seu. A pura amizade por Wakatake Mari animou-a a lutar até a morte e assim, com seu grandioso exemplo, Hagino abriu o caminho para o futuro entendimento e concórdia entre as raças de planetas diferentes, mostrando que o amor está acima das diferenças. E que vale a pena morrer por amor.



imagem da série: Mari e Hagino no refeitório