"Homem-Formiga": quando a Marvel encolheu não apenas um personagem

Parece que a estratégia que a Marvel utiliza na publicação de seus quadrinhos vem acontecendo no cinema: no intuito de expandir seu universo, lança filmes focados em personagens não tão comercialmente expressivos em vez de concentrar recursos e esforços nas pratas da casa, como Hulk, Homem de Ferro e os próprios Vingadores (cujos últimos filmes dividiram opiniões tanto da crítica como do público).

Personagens tão carismáticos deste universo – como Viúva Negra, Nick Fury e Gavião Arqueiro – não precisaram de um filme-origem para dizerem a que vieram. E por que logo o Homem-Formiga, desconhecido pela enorme fatia do público, precisaria? E até que precisasse, mas que fosse feito de outra maneira, pelo menos não tão sonolenta e piegas.

Para os não muito familiarizados com os quadrinhos, Homem-Formiga já foi um personagem grandioso nas estórias da editora. Tanto que, junto com a Vespa, é um dos membros-fundadores dos Vingadores, como inclusive foi visto na ótima série animada "Vingadores - Os Super-heróis Mais Poderosos da Terra", infelizmente já cancelada. Mas aos poucos suas aventuras foram perdendo audiência e a própria Marvel permitiu o personagem entrar no ostracismo, reservando-lhe papel de coadjuvante.

Sem entrar no mérito das alterações necessárias para adaptar o pequeno herói ao seu universo cinematográfico, parece que a Marvel quis se redimir dessa grande omissão, que incomodava a muitos "fanboys". E, ao que indica, são eles quem forma o único nicho realmente capaz de se empolgar com a produção, criada-lhes particularmente com inúmeras referências. Não que o público em geral não posso gostar, mas de fato é um filme diminuto, infelizmente em amplo sentido.

Há os seus momentos bons, mas grosso modo são quase duas horas de angústia. O roteiro, além de ser muito simples, é o mais clichê possível (o pai que quer mostrar à filha que é um herói), o vilão Jaqueta-Amarela novamente é tratado de forma superficial (no meu ver, o grande ponto fraco até agora do estúdio é o trato com os vilões) e nem o texto que é geralmente um dos pontos fortes dos seus filmes funciona.

Quase nada de metáforas interessantes, sacadas inteligentes e nem humor afinado. Inclusive, as tentativas de humor constrangem a ponto de ser preferível que elas nem existissem. O melhor mesmo está: nos efeitos (apesar de econômicos, por conta de o estúdio já não prever bilheteria arrasadora); na participação do Falcão; e nas duas cenas pós-créditos, que é o que justifica a realização do longa.

A Marvel é uma incógnita, portanto é impossível se saber a importância de “Homem-Formiga” no futuro, mas no contexto atual se mostra uma produção desnecessária, pouco conectada ao todo e com a intenção maior mesmo de expansão da marca. A Marvel possui uma equipe competente, e se fizesse com o Formiga o mesmo que fizeram em “Vingadores 2” explorando mais a vida do Gavião Arqueiro, em outro filme, é possível que economizasse algumas bocejadas dos espectadores.

Ainda há programados mais filmes de origem para personagens como Doutor Estranho, Pantera Negra, Capitã Marvel e os Inumanos (é menos complicado ter êxito com um grupo por ficar menos centralizado, como ocorreu com os Guardiões da Galáxia). Resta esperar que a Marvel, em sua grandiloquência, não se coloque em um patamar tão alto e acabe se perdendo ao optar pela quantidade, para fazer concorrência à Fox e à DC/Warner, em vez de qualidade. Não assistiria por uma segunda vez.

Nota: 5,5.

Dan Niel
Enviado por Dan Niel em 21/07/2015
Código do texto: T5319058
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