A Poderosa Ísis

A PODEROSA ÍSIS
Miguel Carqueija

Resenha do seriado de televisão “The secrets of Ísis” (Estados Unidos, 1975-1976), exibido no Brasil como “A poderosa Ísis” ou simplesmente Ísis. Produção da Filmation, em criação de Russell Bates. Produção executiva de Norm Prescott, Lou Scheimer e Dick Rosembloom. Elenco: Joanna Cameron (Andrea Thomas/Ísis), Brian Cutler (Rick Mason), Joanna Pang (Cindy Lee), Ronalda Douglas (Rennie Carol), John Davey (Capitão Marvel).

Este seriado de apenas 22 capítulos representa uma era ainda inocente da televisão e das aventuras de super-heróis! Sem nada do clima “shonen” de ultra-violência que caracteriza hoje em dia as revistas da DC e Marvel, pode ser perfeitamente assistido por crianças. Curiosamente Ísis é uma personagem da DC, mas que parece ter sido descartada. Tanto que em três dos episódios aparece o Capitão Marvel, que na época aparecia em outro seriado da Filmation.
A série é totalmente desprovida de violência. A super-heroína raramente topa com meliantes e quando isso acontece, ela usa uns feitiços para dominá-los (como fazer um carro subir nos ares e depois descer). Fora isso, ela geralmente cuida apenas de livrar os alunos do colégio (onde dá aulas de química em sua identidade secreta de Andrea Thomas) das encrencas em que geralmente se metem. Muitas vezes esses alunos são pessoas problemáticas e que acabam sumindo por se sentirem em crise existencial e aí se vêem em situações perigosas, tipo cair no poço, ficar em precário equilíbrio no telhado ou à beira do precipício, ou às voltas com um gorila... e a Ísis utiliza apenas uns versos mágicos e poderes telecinéticos pelos quais faz a chuva cair e apagar o fogo, ou galhos de árvore bloquearem um cavalo em disparada, coisas assim.
Parece não existir o piloto da série, que explicaria como a jovem professora (além de arqueóloga amadora) obteve os poderes da deusa egípcia Ísis. Resta apenas a abertura, que mostra como ela desencavou um estojo no Egito e lá descobriu um medalhão que lhe dá os poderes de voar, mover objetos a distância e até mesmo fazer parar o tempo, bastando para isso invocar: “Ó poderosa Ísis!”.
O fato é que, desde o primeiro episódio, não existe nenhuma estranheza quanto à existência de Ísis, todo mundo a conhece, ninguém se espanta quando ela aparece. Apenas de vez em quando alguém estranha que a Andrea nunca está por perto quando Ísis intervém nos acontecimentos. E como uma é a cara da outra (variam apenas roupas e acessórios) temos aí um exemplo da Síndrome do Super-Homem (super-herói sem máscara e idêntico à sua identidade secreta, como o Clark Kent que é alter-ego do Superman, e ninguém percebe), que também se verifica com Sailor Moon e Usagi Tsukino, iguaizinhas até nas maria-chiquinhas...
É muito engraçado ver a Andrea, quando ocorre alguma emergência, se afastar um pouco, olhar em volta e, aparentemente segura, iniciar sua transformação, e logo em seguida levanta vôo (de uma forma diferente, vai girando o corpo e subindo; depois voa horizontalmente como o Super-Homem). Poderia ter gente olhando a distância, sem ela saber. Mas o clichê da série é justamente esse: ninguém a vê se transformando.
Ísis é uma heroína local. Ao longo de toda a série só cuida dos assuntos de seus complicados alunos, aliás muito crescidos e adultos para serem estudantes do Científico. Num dos episódios ela também procura o desaparecido corvo Tut, bicho de estimação do colégio e cujo nome lembra algum faraó egípcio (aliás só tem faraó egípcio mesmo).
Andrea não tem vida pessoal e nada acontece na série que represente um evoluir da situação, cada episódio é autônomo e fecha por si só, apenas existe um episódio duplo. Há um detalhe bizarro: na abertura o locutor diz que Andrea se torna heroína “sem o conhecimento de seus melhores amigos”, dois membros do colégio, o diretor Rick Mason e Cindy Lee, uma das alunas. Porém a certa altura, em diversos capítulos, Cindy Lee some, substituída por Rennie Carol (ambas muito sorridentes). No episódio em que uma aparece, a outra não existe. Isso é uma falta de consistência.
Mesmo assim “Ísis” é uma série amável e apreciável, pela ausência de violência, pelo bom caráter da heroína e pelas lições de moral em cada história, lições ingênuas mas que podem aproveitar às crianças. Porque, de fato, é uma série infantil, onde os detalhes não são muito exigentes.

Rio de Janeiro, 16 de setembro de 2016.