Resenha do filme Um homem contra Wall Street

Ainda seguindo a linha da crise de 2008, além de Nomadland que trata do tema com maestria, outro filme menos midiático, menos brilhante, mas que vale a pena assistir é “Um homem contra Wall Street”, dirigido por Uwe Boll e tendo no elenco Dominic Purcell e Keith David. Claro, outros filmes já apostaram na história do homem comum que perde a cabeça com as injustiças e contrariedades da vida, como é o caso de “Um dia de fúria”, estrelado por Michael Douglas.

Um pouco antes da crise de 2008, Jim Baxford, homem comum e trabalhador de uma empresa de segurança, investe suas economias na bolsa de valores. Obviamente, seduzido pela facilidade dos lucros e o apelo dos agentes financeiros. Eventos trágicos se sucedem na vida do desafortunado Jim após a bolha financeira de 2008 estourar: perde os investimentos, perde a esposa, perde o emprego e perde a casa. Um enredo digno de Jó, ou seja, um homem comum que sofre tragédias terríveis, mas que no final, ao contrário de Jó, prefere não louvar a Deus, mas matar os responsáveis por seus infortúnios.

Um homem contra Wall Street seria um filme comum se só pudéssemos avaliá-lo pelo apelo da violência, tão apreciado pelo público sem cabeça para reflexões mais profundas. No entanto, no filme a mensagem que pega é o fato de que já não conseguimos mais viver sem contrair dívidas. No mundo que vivemos, o próprio capitalismo neoliberal nos empurra para as dívidas como o açúcar para a diabetes, ou seja, se não cuidarmos logo estaremos “fritos sem ser com banha”, com os cartões estourados e (desa)creditados. Em um primeiro momento, interioriza no devedor que sem se endividar não dá para participar da vida; no segundo, o próprio sistema trata de cancelar o devedor. O homem endividado passa a se culpar por não conseguir viver, e essa culpa segue a mesma lógica da culpa do pecador na religião, que acredita ser incapaz de ganhar a salvação. E não são só os bancos que endividam as pessoas, as lojas há tempos já seguem a lógica da financeirização da vida, incentivando o consumo dos que gastam mais do que ganham: Quer pagar quanto? Não podendo pagar, o próprio sistema vende as dívidas para outras agências que, por fim, tratarão os inadimplentes como “maus pagadores”, por meio de um sistema de cores ou pontuações.