Antes de partir


       Fui ao cinema hoje, no início da noite, com minha sobrinha Fabiana. Fomos ver Antes de Partir, um filme mais próprio para mim do que para ela que está apenas começando sua vida. Assim espero e bato na madeira três vezes.Eu, embora não queira partir tão cedo, já estou na fase em que uma reflexão e uma mudança na direção da vida farão muito bem.

       Ir ao cinema em Lavras é um programa barato e me surpreende o fato de que pouca gente aproveite este benefício.É uma das coisas boas da vida: um bom filme, um pacotão de pipoca e um refrigerante diet ou similar.O pacotão é enorme mas é irresistível. Da penúltima vez que fui ao cinema fiquei me sentindo uma galinha, imaginando o meu estômago cheio de milho.Se morresse ali e precisassem fazer uma autópsia seria constrangedor! Ainda bem que desta vez tive com quem dividir.E mais. Uma promoção que eu nunca tinha visto: se eu conservar o selinho  no pacote na próxima vez que eu for ao cinema poderei levá-lo como refil - eles me darão a pipoca de graça. Agora o pacotão vazio está lá, guardado no meu carro, junto com a multa por estacionamento proibido. A espera de um novo filme.
 
    O filme é bom. Os atores, Jack Nickolson e Morgan Freeman, dois veteranos de peso. Os dois se conhecem em um quarto de hospital, pacientes que são de câncer terminal. O único modo de explicar esse encontro, já que Edward Cole (Nockolson) é milionário e Carter Chambers (Freeman) um mecânico é colocar Cole como o proprietário do hospital que tem de provar de seu próprio remédio sob pena de ficar desmoralizado: ele defende o princípio econômico de que para a saúde do estabelecimento cada quarto deve ser ocupado por no mínimo dois pacientes.Assim, quando acorda da cirurgia, tem de aguentar o companheiro de quarto.  

       Bem, eles vão morrer e sabem disso. Então, resolvem gozar a vida.Chambers tem uma lista: o que gostaria de fazer antes de morrer. Cole tem o dinheiro e então os dois saem por aí fazendo besteiras. Dois completos desconhecidos se unem para uma empreitada que não só os farão amigos como também lhes devolverá a alegria de viver. A interpretação dos dois não traz nenhuma surpresa. Nickolson aparentemente interpreta a si mesmo, pelo menos eu não consigo imaginá-lo de outra maneira: um velho turrão e careteiro. Mas é magnífico no que faz. É preciso prestar atenção nos diálogos, principalmente naqueles em que Cole conversa com seu assistente. São soberbos e só por eles já valia o filme. Prova indiscutível de que os roteiristas de Hollywood tinham razão em fazer greve: eles  são o tempero de qualquer filme e neste foi muito bem dosado. Fazer bem a um estranho desinteressadamente era um dos tópicos da lista que os dois cumpriram ao pé da letra. Prestem atenção na cena em que o enciclopédico Chambers conta a Cole a origem do refinado café da Sumatra que este tanto aprecia: é de fazer rir até chorar tanto os personagens quanto a platéia. E era também um dos tópicos da lista dos dois (The Bucket List):rir até chorar. Eu ri e chorei. E saí do filme pensando em fazer mais uma lista. As cem coisas que quero fazer antes de bater as botas. Ou mil. Quanto mais coisas eu puder fazer para retardar a morte eu farei.