DOCES PODERES - LÚCIA MURAT

“O negro brasileiro é pobre porque quer.”

“Na TV do Ronaldo até preto fica bonito.”

Apesar de frases preconceituosas, o filme Doces Poderes não aborda o tema do racismo de forma totalmente escancarada. Trata-se da luta de dois candidatos a governador, de diferentes etnias, visões e até poderio político. Enquanto um conta com o apoio de uma grande rede de televisão e utiliza de recursos não tão éticos para a ascensão nas pesquisas, o outro posa como politicamente correto, lutando para que seus ideais sejam levados a sério, preocupado – ao menos ao que parece – com os problemas sociais enfrentados pelo país. É como a luta entre Davi e Golias inserida no campo da política.

Assim como a vida pública cria rivalidade entre os candidatos, no filme a batalha também é travada entre os jornalistas responsáveis pelas campanhas. Muitas vezes a ética é colocada em segundo plano, levando os profissionais da comunicação a refletirem se vale a pena lutar pelo que acreditam, ou a ascensão profissional – mesmo que para isso tenham que contrariar suas ideologias – é mais importante. E, mesmo que optem pela ética, sempre prevalece o poder da mídia, da qual também são vítimas, e não cúmplices.

O abuso da violência por parte de um dos candidatos para coibir as manifestações populares contra a campanha, é um exemplo da ganância, da busca insensata pelo poder. O filme pode ser visto como uma síntese da disputa política pela presidência do Brasil em 1989, ocasião em que um candidato criado pelos meios de comunicação venceu as eleições contra um rival populista, que lutava pela classe operária. A manipulação do resultado do debate, tanto no filme como na realidade, é uma alusão ao acontece com freqüência nas eleições, e quem geralmente sai vitorioso é aquele que dispõe do apoio dos meios de comunicação mais abrangentes.

Portanto, pode-se afirmar que o Brasil é um país democrático? Não, pelo menos enquanto existirem emissoras de televisão ou qualquer outro veículo com interesses que sobrepõem aos da nação, que caminham em sentido contrário aos anseios da população.

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JDM

José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 10/01/2006
Reeditado em 30/10/2009
Código do texto: T96882
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