A FACA SUTIL, de Philip Pullman

A Faca Sutil é o segundo livro da trilogia Fronteiras do Universo, do britânico Philip Pullman. Depois do final de A Bússola de Ouro, que termina com Lyra atravessando o portal para um mundo desconhecido atrás de seu pai, seria de esperar que a história recomeçasse exatamente onde parou. Mas não.

Ela começa em outro mundo, o nosso, e traz como personagem principal o menino Will Parry. Apesar de ter apenas 12 anos, Will é procurado por assassinato. Assim como Lyra, no primeiro volume, as crianças continuam a serem apresentadas praticando atos adultos, inclusive criminosos. Fugindo, Will atravessa um portal e cai em um universo paralelo, a estranha cidade de Cittàgazze onde existem somente crianças. Ali Will conhece Lyra. Mesmo de mundos diferentes, os dois unem forças para: primeiro, levar Lyra para o universo de Will em busca de informações sobre o Pó; segundo, encontrar o pai de Will, desaparecido em uma misteriosa expedição ao Pólo Norte; e por último, descobrir onde está o pai de Lyra e o que está tramando.

O mundo em que Will e Lyra se encontram é uma espécie de universo intermediário entre todos os outros e similar ao da primeira história de As Crônicas de Nárnia, O Sobrinho do Mago, de C. S. Lewis. A diferença é que no universo intermediário das Crônicas não existem habitantes nem construções, apenas um bosque com vários lagos. É como se o universo intermediário de Lewis evoluísse para o de Pullman. E enquanto nas Crônicas passava-se de um mundo ao outro entrando em lagoas diferentes, no das Fronteiras uma faca é usada para abrir portas no ar, a tal da Faca Sutil, chamada assim por possuir dois gumes, um que corta qualquer material e outro que abre portais dimensionais no ar.

Enquanto Lyra possui a Bússola de Ouro, a Faca Sutil - depois de alguma luta - acaba nas mãos de Will. Não só o destino dos objetos mágicos parece entrelaçado, mas o das crianças e o de seus pais.

Alguns detalhes do filme A Bússola de Ouro que não aparecem no livro homônimo são encontrados em A Faca Sutil. Por exemplo, no filme há o personagem Fra Pavel (Frei Pavel no segundo livro, sutilmente modificado para evitar confrontos com a igreja), um membro do Magistério que também possui uma Bússola de Ouro, mas que, diferente de Lyra, só consegue manuseá-la depois de complicadas pesquisas em um manual antigo.

Como citado antes, as crianças não são seres tão inocentes na visão de Pullman. Em A Bússola de Ouro, Lyra faz brincadeiras perigosas - como afundar um navio que era a casa de alguns gípcios por maldade - fuma e mente descaradamente. Em A Faca Sutil, Will mata um homem acidentalmente no começo e uma mulher no final, mas por vingança. Talvez a forma de crescimento que Pullman vê nas crianças é não deixarem de fazer o que sempre fizeram, mas praticarem os mesmos atos, os mesmos erros com um verniz mais "adulto". Uma análise superficial na sociedade em que vivemos mostrará que a cada dia mais crianças têm praticado estas ações adultas sem o menor constrangimento ou culpa, sejam bons ou ruins.

O livro traz mais mortes que o primeiro. Os perseguidores são em maior número que os fugitivos. Aparecem novos personagens, como os perigosos Espectros e os Anjos, deixando o clima tenso e preparando o leitor para a grande guerra que ocorrerá no terceiro livro da série, A Luneta Âmbar. Novamente, como nas Crônicas de Nárnia, o final caminha para uma grande batalha final entre o bem e o mal (talvez esta fórmula seja de sucesso, vou consultar o Joseph Campbel), só que nas Fronteiras do Universo definir claramente quem é o bem e quem é o mal é uma tarefa um pouco mais complicada.

Retirado de www.jefferson.blog.br