"A CURA DE SCHOPENHAUER" Irvin D. Yalom

“A morte é a impossibilidade de qualquer possibilidade”.

Filosofia, meditação, terapia de grupo e uma pitada de auto-ajuda, são os ingredientes que acertam o tempero para uma digestão agradável de “A Cura de Schopenhauer”, o último livro de Irvin D. Yalom, autor de “Quando Nietzsche Chorou”.

“A Cura...” nos apresenta personagens que se intercalam para suscitar no leitor a salutar curiosidade novelesca. Um dos personagens, Philip, é fascinado por Arthur Schopenhauer e uma espécie de simulacro do filósofo que se antecede a Freud na formulação de questões que abriram caminho para a descoberta do inconsciente e também para a visão pessimista do homem e da civilização ocidental.

Após receber o diagnóstico de um câncer em estado avançado, e com ele sua sentença de morte, o psiquiatra Julius, num movimento de revisão de sua vida, relê fichas de antigos pacientes e se depara com a de Philip, cujo sintoma era uma incontrolável compulsão sexual e com quem fracassara na obtenção da cura. Com esperança de que a terapia possa ter tido um efeito retardatário, como por vezes ocorre com alguns pacientes, decide procura-lo.

No encontro, Philip, no entanto, confirma o fracasso da terapia e alega ter sido curado por outro terapeuta, Arthur Schopenhauer. Philip que à época do tratamento com Julius era químico, agora é professor de filosofia e orientador filosófico clínico, uma nova modalidade de terapeuta, e pede supervisão a Julius, pois, apesar da não obtenção de êxito em seu caso, reconhece a competência do psiquiatra. Julius aceita com a condição de que Philip seja seu paciente em um grupo terapêutico.

Este é o mote para a aproximação de temas aparentemente distantes como filosofia, especificamente a filosofia pessimista de Schopenhauer, e terapia de grupo. A fórmula que mistura realidade e ficção, já utilizada em “Quando Nietzsche Chorou”, aqui se repete, mas um recurso mais didático e quase banal, intercalar capítulos dedicados à história de Schopenhauer com outros em que descreve as sessões de terapia de grupo, possibilita a leitura avulsa dos temas.

Os integrantes do grupo são pessoas comuns, com problemas que giram em torno de relacionamentos conjugais e familiares, com exceção de Philip que é um solitário convicto e de Pam que é professora de literatura e também representa um possível fracasso do psiquiatra, já que abandona o grupo e vai à Índia buscar, na meditação, a cura de seus pensamentos obsessivos. O diagnóstico do câncer de Julius e a entrada de Philip no grupo ocorrem na sua ausência.

É na narrativa de Pam na Índia que o livro nos brinda com uma prosa ao mesmo tempo delicada e irônica. Pam, ao retornar ao grupo irá formar ao lado de Philip e de Tony - uma pessoa simples, com pouco estudo, mas de grande inteligência emocional - o trio que se sobressai e rouba a cena nas sessões.

Os capítulos dedicados às sessões são bastante elucidativos e úteis para quem deseja ser terapeuta de grupo ou mesmo paciente em um grupo terapêutico, no entanto deixam a desejar em termos literários e por vezes são repetitivos e enfadonhos. Já os capítulos que tratam da vida e obra de Schopenhauer são perspicazes e prazerosos. No final das contas a receita deu certo e é indicada àqueles que não pretendem filosofar em alemão.

Rocio Novaes
Enviado por Rocio Novaes em 20/02/2006
Reeditado em 06/09/2007
Código do texto: T114315