CHAUI, Marilena: O que é ideologia? Editora Brasiliense, 15a edição.

O QUE É IDEOLOGIA?

Para um grego, Movimento significa toda e qualquer alteração de uma realidade. A teoria Aristotélica, das quatro causas da conta disso. Causa material (a matéria), causa formal (a forma), causa eficiente (o trabalho do marceneiro), causa final (o motivo dela ser feita.

Esta concepção da causualidade tem a ver com a divisão social. Para os gregos veremos que as causas para o cidadão corresponde. Já na Id. Média “Tudo é feito para maior honra e glória de Deus”. Já a causa eficiente (motriz) corresponde aos escravos, aos servos. Compreende-se assim, que a metafísica compreende a causa final superior a eficiente. A fabricação é menos importante que o seu fim. O pensador julga estar produzindo idéias que não explicam a própria sociedade em que vive. Um dos traços da Ideologia consiste, justamente, em tomar as idéias como independentes da realidade histórica e social, de modo a fazer com que tais idéias expliquem aquela realidade, quando na verdade é essa realidade que torna compreensível as idéias elaboradas. São as idéias que precisam ser explicadas pela realidade.

“Estamos, pois, diante do que se convencionou chamar de homem livre moderno, Notamos, porém, que esse “homem” são dois tipos bem diferentes: Há o burguês , proprietário privado das condições de trabalho, e há o trabalhador, despojado dessas condições, “liberado” da servidão, mas também despojado dos meios de trabalhar. Ora, visto que o capital esta ligado a exploração do trabalho, duas são as faces do trabalho: O livre, dotado de fins próprios e o como relação da máquina corporal com as máquinas sem vida (necessidade)”.

O Real não é constituído por coisas. Assim, por exemplo, costumamos dizer que uma montanha é real porque é uma coisa. No entanto, o simples fato de que essa “coisa” possua um nome, indica que ela tem sentido em nossa experiência. Porém, para quem é politeísta e acredita que os deuses por serem superiores, eles habitam altos lugares, daí a montanha já não é uma coisa e sim: a morada dos deuses. Para um Capitalista que a compra por aí encontra minério de ferro ela é uma propriedade privada. Para o operário se torna um local de trabalho. Para o Pintor a montanha é forma, linhas, etc...

Para o empirista o real são fatos ou coisas observáveis e que o conhecimento da realidade se reduz a experiência sensorial que temos dos objetivos. O idealista considera que o real são as idéias ou representações. È o intelecto que produz idéias que dão sentido ao real e o fazem existir para nós.

... A história é o real onde os homens relacionando-se entre si e com a natureza procuram instaurar um modo de sociabilidade e procurar fixá-lo em instituições determinadas, produzindo idéias que expliquem a sua vida individual, social, suas relações com a natureza e com o sobrenatural. Essas idéias tenderão a esconder dos homens o modo real como suas relações sociais foram produzidas e a origem das formas sociais de exploração econômica e de dominação política. Esse ocultamento chama-se ideologia, que irá legitimar a exploração, a dominação, fazendo com que pareçam verdadeiras e justas.

Com Augusto Comte, o termo por um lado, continua sendo aquela atividade filosófico-científica que estuda a formação das idéias à partir da observação das relações entre o corpo humano e o meio ambiente, tomando como ponto de partida as sensações; por outro lado, ideologia passa a significar também o conjunto de idéias de uma época, tanto as “opiniões gerais” como as produzidas por pensadores.

Para Comte o espírito humano passa por três fases sucessivas:

1) A fase fetichista ou teológica, onde a realidade é explicada, através das ações divinas;

2) A fase metafísica, onde os homens explicam a realidade por princípios gerais e abstratos;

3) A fase positivista ou científica, na qual os homens observam efetivamente a realidade, analisamos os fatos, encontram as leis gerais e necessárias dos fenômenos naturais e humanos e elaboram uma ciência da sociedade (Sociologia). È a etapa final do progresso humano.

Nessa medida, ideologia é sinônimo de teoria, esta sendo entendida como organização sistemática de todos os conhecimentos científicos. Esta concepção possui três consequências principais:

1) Reduz a teoria a uma organização sistemática e hierarquica de idéias, sem fazer desta teoria uma tentativa de interpretação dos fenômenos naturais e humanos a partir de sua origem real.

2) Estabelece entre a teoria e prática uma relação autoritária de Mando e Obediência. Os teóricos comandam e os demais se submetem.

3) Concebe a prática como aplicabilidade simplesmente das regras e normas vindos da teoria. Para Conte, só há ordem e progresso, quando a prática esta subordinada a teoria. Logo, o poder pertence a quem possui saber. A política é um direito dos sábios, e sua aplicação dos técnicos. ( O positivismo anunciou no século XIX, o advento da tecnocracia).

Para Marx, ideologia é resultado da luta de classes e que tem por função esconder a existência dessa luta.

... Quando se diz que o trabalho dignifica o homem e não se analisam as condições reais de trabalho, que brutalizam, interpecem, exploram certos homens em benefício de poucos.

... Quando se diz que os homens são livres, por natureza e que exprimem esta liberdade pela capacidade de escolher entre coisas ou situações dadas. Quem dá as condições para a escolha? Todos podem escolher o que desejam? O peão metalúrgico “escolheu” livremente fazer horas extras depois de 12 horas de trabalho? A menina grávida que teme as sanções da família e da sociedade “escolhe” fazer um aborto?

“A definição de liberdade como igual direito à escolha é a idéia burguesa da liberdade histórico-social da liberdade”.

Livro Ideologia

Autora: Chaui, Marilena

Editora Brasiliense. 15ª Edição

SolguaraSol
Enviado por SolguaraSol em 22/09/2008
Código do texto: T1190302