NÓ NA GARGANTA – Patrick McCabe

 

 

          Estou com um nó na garganta desde que li o livro do autor irlandês Patrick McCabe, The Butcher Boy, traduzido para o português como Nó na Garganta.

 

           Na chamada da capa os editores escreveram: Esplêndido, sinistro, engraçado,triste, monstruoso...Deus o livre de ter um garoto assim em sua casa. Foi essa chamada que atraiu minha atenção quando comprei o livro há exatamente dois anos atrás (26/09). O tempo foi passando e o livro ficou esquecido na estante, entre tantos. Quando me decidi a lê-lo, porém o fiz quase que de uma vez só.

 

       Publicado em 1992 o livro já se transformou em peça teatral (Frank Pig Says Hello) e em um filme de Neil Jordan. Não vi o filme, mas pesquisando sobre, só li boas críticas.

 

       O exemplar que tenho em mãos apresenta nas orelhas e na contra-capa comentários críticos dos principais jornais do mundo. E a tônica dos comentários é a mesma. Meus comentários não diferem muito dos que li. Não existem outras palavras para explicar a história de Francie, uma criança de aparência inocente que gradativamente vai revelando a sua mente obcecada e descontrolada. É um romance forte que nos choca profundamente. A forma como o autor decidiu escrever sua narrativa é bastante original. O protagonista conta a sua história através de uma enxurrada de palavras, com frases longas, quase sem vírgulas. Uma voz de menino. Ele é ao mesmo tempo agressivo e divertido. Um verdadeiro horror. Leva-nos a ter raiva e pena ao mesmo tempo. Sentir vontade de matá-lo e pegá-lo no colo para acarinhá-lo. The New York Times faz uma estranha comparação: ...em parte o Huckleberry Finn de Mark Twain, em parte o Holden Caulfield do Apanhador no Campo de Centeio e em parte o Hannibal Lecter de O Silêncio dos Inocentes...Ler o livro não é fácil: a gente lê de galope, assim como o autor escreve e o protagonista vive. Não dá para parar. Outro jornal, o Washington Post diz o seguinte: ...um monólogo de Becket com roteiro de Hitchcock... Já o Observer sintetiza o seu pensamento em observar como Dennis o Travesso vai aos poucos se transformando em Jack o Estripador.

 

       É um livro que dói ler. Dói porque, por mais que se negue a realidade, é um livro real. Existem meninos assim. E não há o que fazer. Eles enlouquecem a si mesmos e a todos os que o cercam. Sem esperanças.

 

      Duas coisas me fascinam em todos os livros que leio: o primeiro e o último parágrafo. Sobre o último é claro que nunca falo quando resenho um livro. Mas o primeiro dá toda a dimensão do que o livro pode vir a ser. O primeiro parágrafo de Nó Na Garganta é fascinante e eu transcrevo-o aqui: Quando eu era um cara jovem há vinte ou trinta ou quarenta anos, morava numa cidadezinha e todo mundo estava atrás de mim pelo que fiz com Dona Nugent. Fiquei escondido na beira do rio num buraco embaixo de uma pilha de gravetos. Era um esconderijo que Joe e eu fizemos. Morte a todos os cachorros que entrarem aqui, declaramos. A não ser nós, é claro.

 

    E enquanto escrevo essa resenha, meu nó na garganta se rompe e lágrimas descem de meus olhos.