O que há por trás de um quadro? A Crisálida, de Heather Terrell

Compor um livro, cuja narrativa se baseia em três épocas diferentes, com clímax e cenários ímpares é um trabalho que poucos escritores conseguem produzir, sendo uma estréia é algo até que surpreendente. E Heather Terrell planta em A CRISÁLIDA (The chrysalis, tradução de Heloisa Mourão, SUMA DE LETRAS, 277 páginas, R$39,00), a semente de uma carreira promissora.

Tendo como base um quadro fictício, A crisálida, do pintor holandês Johannes Miereveld, a autora estréia em uma história ambientada em três períodos históricos diferentes conseguindo compor um drama jurídico fascinante, em meio a um mistério que levará o leitor a uma incrível descoberta nas ultimas páginas.

O primeiro período se passa na Holanda do século XVII, onde o artista recebe uma encomenda do novo burgomestre do vilarejo onde reside: a pintura de um quadro com toda a família daquele que é uma espécie de prefeito da época. E lembra um dia bem parecido com aquele, quando outro burgomestre assumia, e seu mestre, Van Mees, abatido pela morte da mulher e filho e por uma doença, impossibilitado de fazer o quadro daquela família, deixa a responsabilidade para o jovem Miereveld que inicia uma parceria promissora com seu mestre.

O novo quadro possui uma espantosa representação da Virgem Maria repleta de símbolos protestantes que será o fim da carreira do pintor. A autora usa a mítica que existe nos quadros de artistas holandeses daquele século, em ter sempre algo por trás de cada pintura, com suas histórias secretas que jazem sob suas cenas enganosamente simples. Por isso, teve que criar o artista, pois nenhuma pintura existente dava uma história que seguisse o rumo de seu argumento.

Já no segundo período que aparece, damos um pulo de quase três séculos, onde a pintura está nas mãos de uma família judia, numa época que a Holanda estava conquistada pelo jugo nazista. Erich Baum e sua esposa, Cornélia acabam mortos pela máquina de pilhagem de obras de arte do III Reich. Nessa parte, a autora usa o tema das famílias que perderam tudo na II Guerra Mundial, e atualmente brigam pela posse de suas fortunas usurpadas.

No último período exposto, temos Hilda Baum, uma senhora de origem holandesa e judaica que vive em Manhattam, alega que a pintura pertencia a sua família, que teria sido roubada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Filha de Erich e Cornelia, Hilda quer impedir que a casa de leilões Beazley's negocie A Crisálida por milhões de dólares. E a advogada Mara Coyne, que deseja se torna sócia da firma de advogados que trabalha, recebe o caso de provar que a obra-prima, pertence à Hilda Baum e não ao cliente da leiloeira Beazley que a comprou. Contudo, o advogado da casa de leilão, Michael Roarke, foi seu colega de faculdade e que era apaixonada na época. E assim, fica dividida entre seu sentimento, a oportunidade de dar um grande passo em sua carreira quando suas investigações indicarem que os mistérios que envolvem o quadro podem realmente esconder uma trágica história familiar e o questionamento que tem para o caso: será ela capaz de se recusar a defender um cliente por questões morais, mesmo que ele tenha uma base lega sólida e o direito de pleitear o que quer?

A CRISÁLIDA é uma idéia brilhante e inteligente, funde arte e história, numa viagem pelo tempo em torno de uma pintura, que com sua respectiva digressão pelo catolicismo, guia o leitor em épocas diferentes e mostra as repercussões no mundo contemporâneo da arte.