HISTÓRIA CONCISA DA LITERATURA BRASILEIRA (Alfredo Bosi)

Alfredo Bosi é o Muhamad Ali do pensamento literário brasileiro: luta no mundo das palavras com classe, forte, intenso, pragmático e certeiro. Ok, ok, aceito discutir esses parâmetros. Afinal, num país que tem Otto Maria Carpeaux, Antônio Cândido, Massaud Moisés, Fábio Lucas, Haroldo de Campos, Wilson Martins, e tantos e tantos e tantos outros que dedicam-se às letras aqui praticadas com afinco, ardor, amor, e muitas vezes – vá lá, por que não rimar com serrote entredentes de vez em quando? – com dor; é de uma facilidade tangível às vezes (e sem querer) omitir um nome salutar.

Como essas linhas não têm a intenção de ser um crivo da verdade, tampouco aspiram à polêmica, reservo-me o direito de continuar sendo fiel em meu testemunho, obedecendo à minha mente arbitrariamente ávida em seu esforço de leitura e interpretação. E prossigo: Bosi é Ali.

Este “História Concisa da Literatura Brasileira”, livro que trago às mãos, passou bem uns 25 dias andando comigo de trem, metrô, ônibus e lotação; pegou filas, sentou à praça, foi folheado no quarto, em cima desse teclado que escreve essas linhas, e sobre mesas diversas; esse livro traz consigo as primeiras impressões gerais que tive sobre a história da literatura brasileira, quando meu irmão me presenteou, lá se vão uns bons 12 ou 15 anos. Ou mais. Pela primeira vez reunia informações completas e fazia uma pequena fortuna crítica daquilo que praticava “ricocheteando” às escuras, já que na escola e nas rodinhas literárias falava-se (fala-se, ainda) e praticava-se (pratica-se) muito, mas muito pouco mesmo, de verdadeira leitura. Até hoje conservo vários estetas, dito colegas, que escrevem cem linhas para cada uma que leem. Praticam louvores a nomes emblemáticos mas, verdade seja dita, acho que nunca leram mais que um ou dois Drummond ou Machado (benditas antologias escolares). Mais provável que dediquem tempo a gasparettos e paulos-coelho (e bate na madeira três vezes, que mal não há de fazer).

Nessa segunda leitura que fiz, a de agora, refiz o percurso anterior: o autor, principiando com uma apresentação vitaminada da condição brasileira, estabelece um código de interpretação histórica da literatura na então colônia portuguesa. A partir daí, dá "start" ao estudo de como as primeiras letras foram escritas e/ou praticadas nessas terras. Fala da certidão de nascimento da nação, a carta de Pero Vaz de Caminha quando do descobrimento/achamento. Fala de outras cartas e da importância do entendimento do Brasil como nação a partir do pouco testemunho que ficou guardado para a posteridade. Daí parte para os primeiros praticantes literários, detendo-se em José de Anchieta com peculiar interesse e profundidade.

Só então entra nas escolas, não sem antes balizar, espacial, cronológica e geograficamente o princípio que norteou cada mudança de interpretação do mundo, em suas motivações culturais, sociais, estéticas e históricas. Esmiúça então o que foi o Barroco, a Arcádia, Romantismo, Realismo, Parnasianismo, Simbolismo, Pré-Modernismo, Modernismo e aquilo que ele, numa felicidade hiperbolicamente feliz, citou como Tendências Contemporâneas.

Salta de suas páginas introduções completas sobre os nomes que estamos afortunadamente acostumados, assim como aqueles fundamentais, que nem sempre foram reconhecidos como tais. Nesse estofo, vibram autores como Souzândrade, Cruz e Souza, Augusto dos Anjos e Mário Faustino, entre muito mais. Recupera também o paradigma textual de Álvares de Azevedo e acerta contas com Monteiro Lobato, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Jorge Amado, Vinícius de Morais, e outros. O “senão” que notei, foi o estudo raso sobre Luís Gama: suas atuações jornalística, poética e social mereciam uma atenção mais acurada.

A obra toda, entretanto, traz em seu bojo o assunto literatura tanto para o iniciante como para o iniciado, contempla o aluno e o professor, o pesquisador e o curioso, o leigo e o crítico. É didática sem ser chata, e, principalmente, está simplificada sem ser supérflua.

Percorrendo seu itinerário até a década 1960, e ainda assim atualizando os anos 70 nessa edição, Alfredo Bosi acertou a mão em cheio, quando trouxe a lume essa “História Concisa da Literatura Brasileira”.

(Cultrix. SP: 1990, 3ª ed.)