CADEMARTORI, LIGIA: O QUE É A LITERATURA INFANTIL.

CADEMARTORI, Ligia. O que é Literatura Infantil. São Paulo: ed. Brasiliense, 1986.

Resenha:

LITERATURA INFANTIL EM VOGA:

- Segundo Cademartori, “vive-se, nesta década de 80, no Brasil, o boom da literatura infantil, manifestado através de uma venda sem precedentes de livros para crianças”... Na década de 70 dado os altos índices de analfabetismo, teremos uma educação para o desenvolvimento (p. 11).

- A constatação do fracasso do mobral, implicâncias na educação da repressão militar, aumentou a quantidade de vagas para estudar sem aumentar a qualidade. Falta a preocupação com a educação (p. 12).

- O negócio da venda do livro aumento, mas a evasão escolar também. O mobral, a facilidade a entrar na universidade não resolveu o problema do subdesenvolvimento cultural. (p. 13).

- Buscou-se outra estratégia que foi o incentivo da leitura. A falta da preocupação cultural dos quadrinhos fez eles perderem espaço para os livros infantis (p. 14).

- A literatura infantil se liga ao leitor mirim. Falta uma reflexão responsável pela situação da escola brasileira (p. 15).

- A universidade se preocupa com o ensino básico. UNICAMP e a sua preocupação com a finalidade da associação de leitores: qual o conteúdo destes livros? Domesticar o trabalhador? (p. 16).

- Em países não desenvolvidos: distribuição de livros grátis. O livro é um objeto do mercado. Logo é cercado ou incentivado sob interesse do sistema capitalista (p. 17).

- O mercado banalisa as produções literárias. Compra-se o mais barato. O adulto com a literatura infantil molda a criança a seus interesses: prepara-se para inseri-la na sociedade que historicamente construiu (p.18)

- Textos literários desenvolvem o senso crítico: quem lê muito: desenvolve seu senso crítico (p. 18 - 19).

- A escola não foi movida com a preocupação de formar leitores críticos. O conteudismo prejudica na qualidade. É preciso questionar os convencionalismos interpretativos. Quem lê, escreve melhor, se emancipa das prescrições da escola e da família (p.19).

- É o hábito da leitura, da literatura infantil ou não, que dará possibilidade ao leitor para superar os limites das experiências já adquiridas e isto é altamente revolucionário (p. 20).

A QUESTÃO DO ADJETIVO.

- O adjetivo infantil liga-se a criança e por isso é depreciado e restrito. A boa literatura infantil serve para adultos e crianças (p. 21).

- O comportamento do ser humano é construído socialmente. Educação fornece padrões de comportamento ao homem (p. 22).

- A literatura expressa um modo de ver a realidade. Marcado pelos interesses de classe a escola é um espaço de luta e a literatura a possibilidade de dar autonomia ao pensamento do leitor. Literatura é a aporia: 1) é assim; 2) deveria ser assim/ pedagógcia (p. 23).

- A interpretação revela coisas que o texto esconde, ao silenciar. Silenciar é alienar as crianças. Porque não mostrar logo os conflitos para trabalhar para a sua superação? Textos literários devem deixar de serem monológicos (p. 24).

- Quando o narrador não entra no mundo da criança se mantém a situação de dominação. Preocupações moralistas (p. 25).

- O direcionamento: Pai, filho e neto. Quem é bom é recompensado (p. 26).

- Tom Sawyer. Mesmo sendo traquino não foi castigado. Foge do esquematismo. O herói para salvar-se precisa ser esperto, barganhar (p. 28).

- Tom Sawyer transforma sua obrigação de pintar cerca, em uma forma de ganhar dinheiro. Convence os que tem tempo livre. Tom relativiza o poder da família, da Igreja e da escola. Guerra Junqueira (Monológico), Mark Twain (abertura para o diálogo), (p. 29).

- O questionamento do lógico, do habitual, instaura-se a desordem. Tudo o que já se sabia não se sabe mais (p. 30).

- Lewis Carrol: todas as coisas, porque são relativas não são graves. Objetivo: levar a criança a ter autonomia na forma de pensar (p. 32).

COMEÇOU COM PERRAULT

- Perrault: coletou os contos e lendas da Idade Média e adaptou-os constituindo os chamados contos de fadas. Na Alemanha os irmãos Grimm realizam a coleta dos contos populares (p. 33).

- Perrault: “preocupação com o didático e a relação com o popular”. A análise dos textos de Perrault “reclamam uma união desses enfoques que relacione os diversos elementos que integram o texto e resolva as inúmeras contradições com que o analista se defronta”. Contadores integrados em meio aos servos é que levam os contos até a família Perrault (p. 34).

- Perrault: burguês que despreza o povo e suas supertições. Porém, era necessário produzir uma arte moralizante através de uma literatura pedagógica. Contudo os personagens sofredores triunfam no final. Perrault adapta os contos populares aos interesses burgueses (p.36).

- A dureza durante o reinado de Luis XIV: a vida dos camponeses era marcada pela privação. Tensão social: os legisladores e bispos se voltam para as massas mas seu objetivo não era a verdadeira educação e sim o controle das massas (p. 37).

- “Esses aspectos estão no âmago dos contos de fada e, malgrado a cristianização e os propósitos moralizantes, eles permanecem perversos, amorais e angustiantes como legítimo produto da classe sofrida e marginalizada que os gerou” (p. 38).

- Ao conceber a criança como um adulto em potencial, esta literatura vai do ingênuo ao adulto, do irracional ao racional (p. 38 – 39).

- Perrault, mesmo sem aderir totalmente recuperou a cultura popular. Pela literatura dá-se a aproximação de duas ignorâncias: a do povo e da criança. A literatura popular se aproxima da literatura infantil (p. 39).

- Perrault soube utilizar o que já havia sido produzido: o grande número de ditos populares. No início os contos populares eram somente para os adultos e destituídos de propósitos moralizantes (p. 40).

- A contra Reforma definiu os princípios educativos que regem os contos de Perrault. A alteração de contos que feriam os princípios cristãos (p. 41).

- Na luta pela hegemonia cultural entre protestantes e a Contra-Reforma era preciso ensinar ao povo as crianças a obediência. Contudo, segundo Cademartori, o patrimônio cultural fala mais alto que estas disputas (p. 42).

A PRODUÇÃO NACIONAL

- Com Monteiro Lobato se inicia a literatura infantil brasileira. Este autor interage com o grupo social e atua como agente formador e modificador da percepção (p. 43).

- As muitas influências que teve o pensamento brasileiro do estrangeiro faz processar em nossa formação cultural uma confluência cultural. A colônia só poderia integrar-se se ascendesse aos padrões culturais dos colonizadores. O intelectual passou a ser sinônimo de imposição do estrangeiro entre nós. afastou-se do peculiarmente brasileiro (P. 44).

- A nossa cultura nativa foi escrita pela intelectualidade estrangeira. O escritor brasileiro é formado pelo pensamento europeu. O indianismo romântico revela o distanciamento entre o escritor brasileiro e os elementos nativos (p. 45).

- A linguagem e as idéias afastadas do povo (beletrista). Lobato volta-se para a cultura do país não como um estrangeiro entusiasmado, admirado, alguém que olha de fora para dentro (p. 46).

- O personagem Jeca Tatu: personificação de marasmo, da precariedade da vida nacional. Prefere perder tudo que tomar uma posição. Lobato estabeleceu uma ligação entre literatura e as questões sociais.

- lobato é nossa vanguarda na literatura. Não aceitava a imposição passiva das modas européias. Na literatura infantil criou um mundo que não se constitui num reflexo do real (p. 47).

- Lobato expressa sua consciência social em sua literatura. Para Hans Robert Jauss, uma obra pode ser apreciada a partir do papel ativo eu ela possibilita a seu destinatário (p. 50).

- A leitura dos textos de Lobato possibilitam uma nova experiência da realidade. Conserva as vivências já adquiridas e antecipa a possibilidade das outras serem experimentadas. Rompe com a moral oficial. Sua obra estimula o leitor a ver a realidade através dos conceitos próprios. A moralidade tradicional é dissolvida. Dá lugar a inteligência (p. 51).

- Emília: ser esperto é tudo. A moral de Lobato esta centrada em uma verdade individual. Estimula a formação da consciência crítica (p.52).

- É preciso estar atento a linguagem visual dos livros infantis. Recorreu-se a percepção visual para chegar ao pensamento, os signos visuais. O exemplo de livros sem texto. O leitor é livre para construir a história. Identificar-se no que vive no cotidiano (p. 53).

- Eva Funari: vai estimular as crianças de cinco a seis anos a estabelecer as relações de espaço e de tempo (p.54).

- “ ... as histórias de Mary França, Eliardo França e Tenê apresentam uma relação entre os signos visuais e verbais” (p. 55).

- Outros livros privilegiam o ludismo sonoro. Livros de Mary e Eliardo França. Sylvia apresenta dois tipos de comportamento: 1) neurose de limpeza da senhora que enxerga sujeira em tudo; 2) a esperteza de quem faz tudo como os outros fazem, mas foge da regra quando isso significa desvantagem (p. 56).

- Jandira Masur: leva a sério a questão de reverter expectativas. O jogo dos contrários. Joel Rufino dos Santos: trabalha também com a desautomatização do ponto de vista (p. 57).

- Rufino: traz à literatura infantil brasileira elementos da cultura nordestina e nortista, com Curumim, lítico etc (p. 58).

- Ruth Rocha: mostra que o poder não é monolítico, logo não é tão assustador. Ex. Marcelo, Marmelo, Martelo. Ziraldo: O Menino Maluquinho, criança travessa com traquinagens perfeitamente aceitáveis (p. 59).

- A poesia infantil: Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Mário Quintana, ... Alerta: não se pode prever a maturidade do leitor somente pela idade cronológica. Sérgio Caparelli e Lygia Bojunga Nunes vão ser capazes de atrair os pré-adolescentes (p. 60).

- Da ênfase é necessidade do equilíbrio social. Caparelli: suscita no leitor as buscas de respostas, sem cair na confusão entre o infantil e primário (p. 61).

- Também em “Vovô fugiu de casa”, percebe-se: o hábil manejo do elemento mágico, no primeiro e no último capítulo, como metaforização de situações existenciais; a sensibilidade poética que pontilha o texto com nomeações líricas. Caparelli tem a oferecer uma visão de mundo ao mesmo tempo lúdica e emancipatória que não trai seu leitor nessa difícil relação adulto/criança (p. 63).

- Nunes: questiona valores estabelecidos, demolindo arraigados preconceitos contra a mulher, o velho, o artista e contra a criança. Nunes apresenta como valores: a inventividade, o companheirismo e o diálogo (p. 64).

- Temos o incentivo da reflexão crítica. Os textos de Nunes põem na berlinda as instituições que chamam a si a responsabilidade de ensinar: a escola e a igreja (p. 65).

LITERATURA NOS PRIMEIROS ANOS.

- O livro infantil é literário na medida que superar todos interesses desta ou de outra instituição (p.66).

- A escola prima pelo domínio das regras gramaticais. O desenvolvimento vebal se dá além da nomeação convencional (p. 67).

- O ludismo sonoro colabora com o desenvolvimento lingüístico da criança. Função da língua deixar claro o que se quer dizer (p. 68).

- O ludismo verbal é um importante estímulo à expressão verbal (p. 69).

- O poema infantil pode favorecer a sonoridade sem inibir a espontaneidade das crianças. “ A poesia infantil estrutura-se de tal modo a não se enquadrar com as soluções convencionais da língua” (p. 70).

- Os textos poéticos aproximam a criança do livro. A estreita ligação que há na primeira infância entre percepção e afeto (p. 71).

- A criança percebe que não age de acordo com a história que entrou em contato. Na pré-escola a criança encontra divergências entre a visão e o significado: matéria percebida x pensamento (p. 72).

- Através das brincadeiras as crianças fazem uso inconsciente de separar o significado do objeto. As ações imaginárias permitem a criança uma reordenação afetiva e intelectual das vivências, respondendo as necessidades infantis (p. 73).

- “ O papel da literatura nos primeiros anos é fundamental para que se processe uma relação ativa entre falante e língua. Isso se deve a vários fatores, a começar pelo próprio sistema alfabético” (p. 74).

- Inicialmente a criança não distingue coisa e palavra. O convencionalismo da linguagem não é apreendido pela criança (Piaget). O vazio de motivações dada a abstração de nosso alfabeto (p. 75).

- Este alfabeto exige um grande esforço intelectual das crianças. “A criança vê o mundo e ouve a língua antes de lê-la e escrevê-la” (p.76).

- A criança aprende à escrever através do rabiscar: explora o movimento e a visão. Tanto o desenho como a escrita parte do rabisco (p. 77).

- Símbolo deve ser entendido como a ampla manifestação da linguagem. As possibilidades expressivas da criança são tolhidas pela abstração do alfabeto fonético. “ A escrita nomeia objetos sem a plenitude da visão” (p. 78).

- A preparação para a alfabetização deve ser buscado na valorização do rabiscar (p. 79).

- A diferença entre o escrever e o falar: 1) “A fala é um fluxo, um dinamismo no qual os fonemas que se encadeiam não são meramente elementos sonoros colocados em seqüência; 2) a escrita, ao contrário, é uma ação desenvolvida individualmente e, desse modo, não torna oportuna nem apela para a reação imediata” (p. 80).

- Logo, a escrita não pode traduzir correspondentemente a fala, expressar sentimentos e emoções. A literatura e a alfabetização não devem se esgotarem em si mesmas (p. 81).

- O texto só pode se efetivar se houver sentido em sua leitura. “ O processo é reversível: o leitor realiza o texto e este age sobre ele modificando-o. Os vazios dos textos serão preenchidos pelo leitor (p. 82).

- A literatura antecede o domínio escrito pela criança. Experiências passadas pela família que devem ser levadas em consideração devidamente (p. 83).

- As narrativas clássicas para as crianças tem uma importância existencial. A função poética da linguagem se deixa antever nas cantigas de ninar (p. 84).

- As advinhas também muito auxiliam no desenvolvimento da criança. Paulo Freire: devem ser apresentadas palavras que tenham a ver com a vivência das crianças (p. 85).

- A literatura se põem como possibilidade para preencher algumas lacunas causadas pela sistematização que a escola opõem à exploração espontânea do mundo realizada pela criança (p. 86).

Busca-se centrar a aprendizagem da língua no sujeito em questão com narrativas e jogos poéticos.

SolguaraSol
Enviado por SolguaraSol em 19/11/2008
Código do texto: T1292093