A família e os desafios de um novo tempo

Em seu livro sobre a família Merval Rosa apresenta com propierdade as transformções históricas pela qual a família passou e os desafios que enfrentou e ainda frenta nos dias de hoje.

I - A família: sua origem, estrutura e funções

A família é a instituição social mais antiga e tem resistido as transformações sociais.

A família é fruto de um processo histórico. Conforme o antropólogo norte-americano L. H. Morgan (1877), por causa da promiscuidade do ser humano no estagio selvagem deu-se origem da família consangüínea. Com o tabu do incesto surgiu a família punaluana, na qual o casamento era feito entre grupos diferentes. Em seguida a família sindiásmica na qual o marido vive com uma mulher principal, ainda é marcada pela poligamia. Logo surgi a família patriarcal e finalmente a monogâmica adotada pela civilização ocidental.

Para os estudiosos a família tem três funções básicas: biológica, psicológico e social. A primeira se refere às condições que tornam possível a existência dos seres humanos enquanto seres vivos. Quanto à segunda, se refere a oferecer a seus membros um mundo significativo, que funciona como ponto de referencia de todo o seu comportamento perante a vida. A terceira refere-se ao processo de socialização do individuo.

No processo de socialização, distinguiram-se, dois tipos de controle social: controle social interiorizado ou introjetado e o controle social externo. O controle social interiorizado ou introjetado é o resultado do processo de aprendizagem em que o individuo torna “seu” os sistemas de valores da cultura. O controle externo representa a conformidade social do individuo às exigências da sociedade na obediência às leis e costumes.

A família é o lócus privilegiado da construção da subjetividade humana. Ela é, portanto, norteadora da historia subjetiva do individuo.

Aplicando o principio heracliano, Merval desenvolve a idéia de família como um processo dinâmico entre os seus membros. No tocante as circunstancias sociais e econômicas e nas relações entre os membros de acordo o ciclo evolutivo da família.

II – Evolução historia da família

Para William Goode, a sociedade é composta de família sendo que as relações que se estabelece nessa se transporta para a sociedade. Isto é, há uma intima ligação estrutural entre família e sociedade. Dessa mesma forma pensa Confúcio. Para ele, se os indivíduos deixam de cumprir suas obrigações para com a família, a sociedade se corrompe.

A família comunal no Israel moderno e na extinta União Soviética é baseada na utopia platônica sendo tentativa de desmembramento das funções da família. Mesmo recente Goode afirma que pelo menos três conclusões são possíveis: 1) Em todas as sociedades o ideal é que a família seja encarregada das funções. 2) Quando uma ou mais tarefas da família são confiadas a outra instituição, numa sociedade revolucionaria ou utópica, somente por meio de pressão política ou de grande fervor ideológico é que se ode conseguir algo de mudança. 3) E, finalmente, há evidencias de essas tentativas se caracterizarem por certo grau de retorno ao tipo mais tradicional de família.

Há dois fatores que contribuem para o retorno tradicional de família. O primeiro é a dificuldade que os indivíduos formados pelo modelo tradicional têm de se adaptar ao novo modelo de família comunal. O segundo foi a transformação das relações entre individuo e sociedade que inevitavelmente fazem surgir novos focos de tensão, exigindo novos ajustamentos.

A família por ser uma instituição social sofre interferência da realidade sócio-politico-economica. Para tanto, observemos as mudanças trazidas pela a industrialização e a urbanização.

Como corolário da industrialização a estrutura familiar sofreu alterações estruturais saindo de um modelo patriarcal para o nuclear que facilitava a mobilidade da família. A liberdade econômica da mulher dando-lhe um novo estatus na família e na sociedade, porém, não se libertou das funções básicas de mãe e esposa acumulando-as. Além da liberdade sexual da mulher antes mesmo dos anticoncepcionais.

Quanto a urbanização provocada pela migração do campo para a cidade provoca na família algumas mudanças no sistema de valores que no campo é caracterizado por conservador e estáveis já na cidade é liberal e instáveis. A competição no campo é diferente da do centro urbano.

Na sociedade contemporânea a família tradicional sofre ferrenha criticas. Para os radicais ela não deve mais existir. Para os moderados é necessário mudanças estruturais e funcionais. Uma das alternativas é a família conjugal, marcada pela exclusão de grande parte dos parentes afins e consangüíneos dos negócios cotidianos. Contudo, na pratica, não existe, essencialmente pelo intenso laço afetivo entre os membros da família. Outra alternativa comum entre os jovens da classe media é a união entre duas pessoas, sem laços legais.

O cristianismo por partir do respeito à dignidade humana seria capaz de preservar os verdadeiros valores da família em face às grandes transformações que tem passado.

III- Ciclo evolutivo da família.

O conceito de estagio evolutivo advem das teorias dos estágios evolutivos do desenvolvimento humano de Freud, Erikson e Piaget. Concomitante está a noção de tarefa evolutiva desenvolvida pelo educador norte-americano Havighurst. Há certas tarefas ou habilidades que o individuo precisa aprender para ter um desenvolvimento adequado e satisfatoriamente adequado. Não havendo essa aprendizagem o individuo terá um desajuste.

Segundo Havighurst, há três aspectos principais da tarefa evolutiva. O primeiro se refere a maturação biológica. O segundo se refere à aprendizagem de certas habilidades necessárias à vida em sociedade. Finalmente, aos valores pessoais que constituem a personalidade de cada um de nós.

Para cada estagio da vida humana há certas tarefas evolutivas que devem ser incorporadas aos padrões de experiências e de comportamento do individuo. O mesmo acontece com relação à vida da família.

É com Evelyn Duvall que se desenvolve o conceito de ciclo evolutivo eu se baseia no reconhecimento de padrões sucessivos, que surgem através dos anos. Esse conceito oferece perspectiva para o estudo da dinâmica do comportamento humano no contexto da família. A família passa por vários ciclos evolutivos, mas cada uma o passa de modo peculiar.

Duvall apresenta oito estágios, são eles:

1. Famílias iniciantes, que são aquelas constituídas apenas de marido e mulher;

2. Família gerando filhos, cujo filho mais velho tem dois e meio a três anos de idade;

3. Família com crianças pré-escolares, cujo filho mais velho tem de três a seis anos de idade;

4. Família com crianças na idade escolar, aqueles cujos filhos têm de seis a treze anos de idade;

5. Família com adolescentes, cujo filho tem de treze a vinte anos de idade;

6. Família como centro de partida para a vida, cujos filhos estão deixando o lar, para se tornarem independentes dos pais;

7. Família de meia-idade, cujos casais ficam novamente sozinhos, como no inicio, até o tempo da aposentadoria;

8. Famílias idosas, período que vai desde a aposentadoria até a morte de um ou ambos os cônjuges.

Duvall desenvolveu sua teoria tomando como base o conceito de tarefa evolutiva de Havighurst e a teoria do desenvolvimento de Erik Erikson.

Evelyn D. afirma que a família deve preencher certas condições básicas essenciais à sua sobrevivência, continuidade e desenvolvimento. As tarefas evolutivas são:

1. Maturação física;

2. Alocação de recurso;

3. Divisão de trabalho;

4. Socialização dos membros da família;

5. Reprodução, recrutamento e liberação de membros da família;

6. Manutenção da ordem;

7. Locação dos seus componentes na sociedade em geral;

8. Manutenção da motivação e da moral.

Par julgar o grau de sucesso da família Duavall baseou-se nos trabalhos de Zimmorman e Cervantes.

1. O sucesso de uma família pode ser avaliado em termo do grau em que alcançou suas aspirações e ambições.

2. Outro é a contribuição que ela dá para a sociedade em geral.

3. No âmbito da teoria de Duvall, uma família bem sucedida encoraja e ajuda a atingir suas tarefas evolutivas e realiza efetivamente as tarefas evolutivas de cada estágio do seu desenvolvimento.

IV. Fundamentos religiosos da família.

A família possui uma natureza religiosa por ter sido instituída por Deus, conforme a concepção cristã da vida. A secularização tem negligenciado essa natureza da família contribuindo para uma visão contratual e mercadológica da família. Na concepção cristã do matrimonio é tão importante que é tomado na Bíblia como símbolo das relações entre Deus e o seu povo.

A família deve está alicerçada sobre o amor ágape e não Eros e no respeito mutuo. Pois, é o amor, no sentido de abertura para o outro que deve caracterizar a família e , o respeito mutuo resulta da compreensão que os cônjuges e filhos foram feitos imagem e semelhança de Deus.

O matrimonio cristão possui algumas funções básicas:

1. Quebrar a condição de isolamento ou solidão do ser humano.

2. Gerar e formar novos seres.

3. Preservar os autênticos valores morais e espirituais da vida e contribuir para o enriquecimento deste patrimônio moral e espiritual da sociedade.

A família é a grande responsável pela educação religiosa dos seus membros. É ela que deve instruir o menino no caminho que deve andar. Os princípios de Deus eram passados de pais para filhos no povo israelita.

A igreja tem o papel de auxiliar às famílias na formação dos seus membros de proporcionar às famílias um ambiente e uma ambiência onde os valores espirituais possam ser cultivados e fortalecidos.

A religião na vida do ser humano vai tomando significado conforme sua idade e características psicológicas dos vários estágios evolutivos no processo de desenvolvimento. Dessa forma a religião da criança é diferente da do adolescente, do jovem e do adulto.

IV- Problemas típicos da família moderna.

A instabilidade de valores é um desses. Para o bom funcionamento da sociedade é necessário um sistema de valores que varia no tempo e no espaço. Esses valores são internalizados pelos indivíduos por meio da família, igreja e Estado. Depois de internalizados os valores se transformam na consciência moral do individuo.

O s sistemas de valores por muito tempo foram estáveis servindo de norma para o comportamento social do homem. Porém, o relativismo introduzido pelos sofistas provocou uma crise dos valores.

Esse relativismo provoca instabilidade em famílias sem um sistema de valores sólidos.

Um outro problema é a falta de uma educação responsável para vida em detrimento de uma educação hedonista. A disciplina deve ser parte constitutiva na formação do individuo no processo de seu desenvolvimento. A disciplina produz ação responsável na família e na sociedade, porém a falta dela produz um adulto autoritário, na busca de saciar suas vontades. O prazer egoísta e individualista é o seu imperativo.

Ainda há o conflito de gerações que se caracteriza não só pala diferença de idade mas pelas estruturas rígidas das mentes dos envolvidos. A diferença de idade não é impedimento para dialogo desde que haja compreensão.

VI. A preservação da família.

Há vários fatores que ameaçam a estabilidade da família moderna. As mudanças que se operam no mundo de hoje não são apenas externas, mas estruturais, incluindo aqui a própria estrutura mental da humanidade. É provável que a instituição da família venha sofrer profundas mudanças nos próximos séculos de nossa historia. Para que a família continue a existir, é necessário que cuidemos de sua constituição. A religião no lar aumenta a probabilidade de preservação da família.