JONAS, O COPROMANTA
A autora do livro em tela é Patrícia Melo. O livro foi editado pela COMPANHIA DAS LETRAS. A escritora tem asas próprias, mas é amiga pessoal do grande escritor Rubem Fonseca e segue a sua linha de escrever sobre misérias humanas e casos policiais.
O livro se inspira no conto COPROMANCIA de Rubem Fonseca, no qual o protagonista inventa a ciência copromântica de ler seu destino pelo formato das vezes. Posto o quê, já podemos fazer uma inferência de que é um livro que se dispõe a ser intertextual com outros textos. De fato, Rubem Fonseca passa a ser um dos personagens de JONAS, O CROPOMANTA.
Vejamos como. Há alguns anos atrás, creio que menos de sete, houve um roubo de livros na Biblioteca Nacional, entre eles um exemplar raro de A BÍBLIA DE MOGÚNCIA. Rubem Fonseca inspirado neste crime escreveu o romance Mandrake, a Bíblia e a Bengala. O enredo de JONAS, O CROPOMANTA se passa quando o escritor vai à Biblioteca Nacional para pesquisar sobre o caso a fim de produzir sua literatura.
Os personagens são os funcionários da Biblioteca Nacional, entre eles Jonas, que tem uma colega de trabalho como amante, e outra que lhe empresta sem burocracia os livros que pede.
Ocorre que Jonas é um desses escritores amadores que ao ler o conto COPROMANCIA de Rubem Fonseca, ele que estudara até a linguagem copta para decifrar os criptogramas de seus bolos fecais num vaso sanitário especialmente largo para não os deformar se vê plagiado pelo
escritor, que passa a ser obsessivamente perseguido por Jonas, mesmo após lhe dar de presente um exemplar do Secreções, Excreções e Desatinos, autografado e que contém o conto.
A partir dessa paranóia Jonas modifica sua relação com as colegas de trabalho, consigo mesmo e ao ver que o escritor não tem nada a ver com ele, passa a achar que uma outra pessoa é inventora da ciência copromântica. Uma mulher, uma vigarista, que irá explorar sua crença de que ela poderá ser sua guru na copromancia.
Jonas, na verdade, é um plagiador, reescreve finais diferentes para livros, como se refere ao livro LOLITA de Vladimir Nobokov, no qual se fosse ele que escrevesse no fim a menina não vaguearia perdida em sua solidão e sim mataria o filho-da-puta do pedófilo professor Humbert, de poesia francesa.
Então JONAS, O COPROMANTA é um livro tramado com base na mais absoluta intertextualidade que já vi. Pois além de ser referenciado ao MANDRAKE, A BÍBLIA E A BENGALA, faz comentários sobre outros livros como o de Vladimir Nobokov.
É um romance sobre paranóia, obsessão e outras misérias humanas. Em seu bojo há o desenho dos criptogramas fecais que Jonas desenha, o personagem, ele mesmo ilustrador de sua história coprofílica.
Vale a pena ler. Outra hora falarei melhor sobre a coprofilia, essa sim existe como tara sexual.