Hilda Hilst em três livros: Exercícios, Rútilos e Bufólicas.
A leitura mais pertinente em parábolas sobre contos de fadas quem escreveu foi Edla Van Steen, mas a escritora em tela no momento é Hilda Hilst, que a si mesma considerava uma escritora marginal. Não só pela geração a que pertenceu, como também pelo tardio reconhecimento de sua obra. Hoje, publicada pela Editora Globo. Formada em direito em 1954, Hilda Hilst desde então dedicou-se à literatura, tem um obra vasta e instigante, em poesia, prosa e teatro.
Os três livros da autora em comentário são: Exercícios, Rútilos e Bufólicas.
Em Exercícios, a escritora trabalha os aspectos mais formais da poesia, escrevendo em redondilhas, sextilhas e primorosos sonetos, aos quais chama Sonetos que não são. Mas que são em número de sete, todos eles dedicados ao amante casado. Sonetos primorosos, independentemente de que o conteúdo possa desagradar a muitas senhoras de extrema decência. Na ótica de Oscar Wilde não existe livro de conteúdo bom ou ruim, o que existe é livro bem escrito ou mal escrito, concordo com ele. Os versos de Hilda Hilst são de uma amorosidade incondicional, própria das amantes despojadas de interesse além do amor, por isso de uma coragem e sinceridade pungente, muitas vezes que inexiste em muitos casamentos ou mesmo no caráter das puritanas idiotas que confundem o conteúdo de uma obra literária com o detrimento da obra.
Em Exercícios Hilda Hilst compõe um capítulo de TROVAS DE MUITO AMOR PARA UM AMADO SENHOR; transcrevo a menor delas abaixo:
Nave
Ave
Moinho
E tudo mais serei
Para que seja leve
Meu passo
Em vosso
Caminho
Mesmo a diagramação da trova mostra o talento de primeira plana da escritora. Mulher que não teve filhos, amou cães e viveu seus últimos dias na Casa do Sol.
Em rútilos Hilda Hilst faz evoluções da sua poética em prosa, mas volta a poesia:
Muros intensos
E outros vazios, como furos.
Muros enfermos
E outros de luto
Como o todo de mim
Na tarde encarcerada
Repensando muros.
A alma separada de ti
Vai conquistar a chaga de saltar.
Poesia que lembra um poema de Ana Marques, escritora portuguesa que também escreve no Recanto das Letras, sob o título Para além muro.
Não sou um crítico literário, sou um leitor muito bem iniciado em letras.
Hilda Hilst escreveu crônicas em jornais paulistas, eventualmente utilizando linguagem chula, tal linguagem não seria apenas uma tática para atrair leitores de todas as camadas da população, estava cansada de ser uma escritora marginal e conhecia o interesse da população por baixarias, vide o sucesso atual de programas tais como Big Brother Brasil, que faz a cada edição o escritor George Orwell tremer em seu túmulo, pois em seu famoso livro 1984, ele previa uma ditadura cujo ditador seria o Grande Irmão, que teria olhares e câmeras dentro de todas as casas.
Em Bufólicas, acentua essa escatologia de uma forma tão intensa que é sensato não publicar um texto, faz paródias terríveis aos contos de fadas, com fadas fanchonas, reizinhos e tudo mais que existe nos contos de fadas numa ironia de escárnio. Ela uma escritora que reconhecia a pureza do amor na infância.
Posto o quê, concluo com recomendações de que se conheça a obra dessa autora, hoje figurinha fácil em qualquer livraria.