A REGRA DO JOGO - JORNALISMO

A REGRA DO JOGO - A vida do jornalista Cláudio Abramo

Por Ulisflávio Oliveira Evangelista

Um homem com características bastante incomuns. Apaixonado pela arte do jornalismo, pelas letras, pelas palavras. É verdade que não freqüentou uma academia de jornalismo e nem sequer todos os anos de uma escola. Cláudio Abramo era autodidata, aprendeu muito com um único companheiro, o livro.

Na sua infância foi cercado por clássicos da literatura estrangeira. Só leu clássicos da literatura nacional adulto, com influência da sua esposa Radhá. Respirava cultura, conhecimento. Sua família era de revolucionários e com a repressão do Estado Novo foi separada em 1935. Dez anos depois a família se reuniu.

Começou a trabalhar muito cedo, passando de fábricas de papel a agência de serviços noticiosos onde ajudava a traduzir materiais recebidos dos EUA e da Inglaterra. Nesta mesma agência produziu um programa de rádio. Aos 22 anos conseguiu emprego no Jornal de São Paulo como datilógrafo da seção nacional. Cláudio Abramo iniciou-se assim a sua carreira em jornalismo.

Antes de fazer nome como um dos principais responsáveis pela atualização e modernização de grandes veículos impressos no Brasil, Cláudio Abramo formou jornalista no pequeno e desacreditado Jornal de São Paulo. Fechando o jornal, diagramando, trabalhando na oficina e eventualmente trabalhando como “jornalista” escrevendo matérias.

Com o fechamento do Jornal de São Paulo, Cláudio foi convidado para escrever uma reportagem no O Estado de São Paulo (ainda sem ser contratado) sobre o estado de pesca em São Paulo (que serviu de apoio para a criação do Instituto Oceanográfico), rendendo uma série de 29 matérias com o título geral não motivador de “Porque o peixe custa caro em São Paulo”.

Após um ano na Europa, assume a secretária do O Estado de São Paulo com apenas 28 anos com uma missão imposta pelo Júlio de Mesquita Filho (dr. Julinho) e pelo Francisco Mesquita (dr. Chiquinho): reformular o jornal O Estado de São Paulo.

A reformulação consistia na redução do tamanho da página, mudança da sede do jornal, eliminação de cálculo de publicidade de maneira empírica, o fechamento mais cedo do jornal, e mudança nos critérios de recrutamento de pessoal, que passou a buscar alunos que se destacavam em alguns cursos universitários.

Em seus treze anos à frente do Estadão, a informação chegou ao leitor de forma mais clara, coloquial. O jornal foi aos poucos ganhando um novo estilo de reportagem, um novo ritmo para o jornalismo brasileiro. Cláudio Abramo pedi demissão do jornal em 26 de julho de 1963 com quarenta anos.

Entrou na Folha de São Paulo em 1965 com a proposta de mudar o jornal com pouco dinheiro. Entre 1969 e 1972 a Folha passou por um período difícil. AI-5 e outras pressões levaram o seu afastamento em 1972. Após sua prisão em 1975 retorna a Folha de São Paulo. A reformulação da Folha não provocou muita satisfação em Abramo. Em 1977 é afastado novamente da redação da Folha de São Paulo e foi trabalhar com Mino Carta (prefácio do livro) no Jornal da República que teve um período curto de vida, cinco meses.

Ao longo de sua vida, enquanto jornalista, Cláudio Abramo sempre se preocupou pela qualidade da informação, apuração dos fatos e garantia da informação a sociedade. Fez história pelo seu caráter, as vezes controverso, radical, sentimental e amigo. Injustiçado ou não por grandes veículos que passou. Mas fato é, que, este homem foi sem dúvida, o responsável pelo crescimento e popularização do jornalismo impresso brasileiro. Inspirado em modelos pré-importados ou criados a muito suor, impostos em redações que eram verdadeiras oligarquias de seus donos, cuja informação ficava sempre sem segundo plano.

Cláudio Abramo serve de inspiração para iniciantes no fabuloso mundo da informação, da notícia, da política, do jornalismo. Sempre com uma posição forte, combatendo duramente os “jornalistas” sem opinião, sem interpretação, sem cultura.

Cláudio Abramo foi sem dúvida alguma uma figura histórica no jornalismo brasileiro e um apaixonado pela marcenaria.

Ulisflávio Evangelista
Enviado por Ulisflávio Evangelista em 20/04/2006
Reeditado em 20/04/2006
Código do texto: T142360