TELEJORNALISMO DESCOBERTO: A ORIGEM DA NOTÍCIA NO JORNALISMO TELEVISIVO REGIONAL

Por Ulisflávio Evangelista

O livro do professor Marcelo Cancio foi originado da sua dissertação de Mestrado em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). A temática explorada pelo autor, atuou em um nicho que era pouco conhecido. A sua proposta foi resgatar e contar, por meio de registros comprobatórios, a história do telejornalismo desenvolvido no Estado Sul-Mato-Grossense.

Como ponto de partida, o autor inicia no primeiro capítulo do seu livro, a conceituação e desenvolvimento de três termos: Jornalismo, Televisão e, por fim, da união desses dois pilares, formando assim o Jornalismo de Televisão ou simplesmente televisivo.

A história do jornalismo está alicerçada no interesse da descoberta, no interesse comunicacional do homem, ficando evidenciado, principalmente, em função do grandioso volume de informações que forma o entorno cultural nas sociedades. Como prova, muitos autores reconhecem o aparecimento do Jornalismo relacionado com o processo de impressão desenvolvido por Gutemberg o que possibilitou um crescimento informativo e cultural para a humanidade. Enquanto suporte, o impresso reinou absoluto por um bom tempo. Depois disso, novos veículos foram desenvolvidos e com eles, a informação – matéria básica do jornalismo – ganhou novos espaços e públicos.

Produto cultural e informativo. Essa foi a base da atividade jornalística inicialmente. Porém, com o passar do tempo, houve grandes rupturas, e o jornalismo apresenta-se agora, envolvido num outro tipo de relação, a relação comercial. A prática jornalística passa a ter uma visão comercial, sendo entendida como uma empresa, um negócio. Tal visão é o padrão contemporâneo mundial.

Deixando de lado o caráter comercial do jornalismo e infiltrando em algumas de suas técnicas, aparece como elemento de destaque dessa prática as notícias. Para José Arbex Júnior, em sua pesquisa de doutoramento, a definição de notícia está relacionada ao fato, ao acontecimento. Fatos e acontecimentos formam a estrutura jornalística, ficando agora, a necessidade sentida de seleção dos fatos e acontecimentos, em função de alguns fatores ditados e regidos por interferência externa de importância e relevância social e também por fatores internos, caracterizando interesses comerciais das empresas.

Aplicando esses conceitos à regionalização, ou seja, ao interesse mais próximo da sociedade com a notícia é que se desenvolve o terceiro capítulo. O autor cita que o sistema de comunicação no Brasil favoreceu o processo de formação das grandes redes de televisão, desta forma, limitou o poder participativo das notícias ou fatos regionais. No entanto, mesmo sendo desfavorecida nessa briga, a população, representada aqui como audiência participativa nos intercâmbios simbólicos televisivos, apresenta um interesse vital pela proximidade do fato, da notícia, ou seja, para ela – população – a prioridade de interesse se concentra em seu entorno ao invés das informações ocorridas em outro continente, por exemplo. Nesse sentido, desenvolve-se o telejornalismo regional, assunto que é discutido e apresentado no quarto, quinto e sexto capítulo.

O autor destaca em seu livro que um dos principais impedimentos em resgatar a história do telejornalismo regional foi a ausência de documentos. Para contornar essa dificuldade, foi escolhido o processo da “história oral”, que conforme define o historiador José Carlos Sebe Bom Meihy (1996) é um processo de tempo presente e é reconhecida como história viva.

A TV Morena foi a única empresa criada antes da divisão do estado, no ano de 1965. Somente na década de 80 é que as outras redes televisivas iniciaram as atividades, respectivamente, pela TV Campo Grande (1980), TV Educativa (1984), TV MS (1987) e por fim, a TV Guanandi (1989). Como se tratava de um “negócio” novo, o desconhecimento e o improviso foram marcas registradas no início das exibições regionais. Outras mídias e suportes serviram de referência e auxiliaram no cotidiano o funcionamento das emissoras de um forma geral.

Fatores ligados ao desenvolvimento tecnológico (como o vídeo tape) foram essenciais para facilitar o trabalho e possibilitar mais qualidade no conteúdo produzido e exibido. A entrada de profissionais formados na área de comunicação e engenharia também impulsionaram a qualidade das emissoras, representando a contemporaneidade das emissoras e, portanto, maior responsabilidade.