A Educação na Cidade - Paulo Freire

A Educação na Cidade é um livro diferente dentre os que Paulo Freire publicou. Seu diferencial está no formato, pois se trata de uma compilação de entrevistas concedidas por ele por ocasião de sua administração na Secretaria de Educação do Município de São Paulo.

Desta forma, o livro torna-se um testemunho de tudo o que Paulo Freire pregou antes, todas as bandeiras que levantou sobre a educação libertadora progressista, pois mostra, com suas palavras, de que maneira pretendia pôr em prática as teorias que por tantos anos defendeu e pelas quais lutou.

Observando as características reais de uma grande metrópole como São Paulo, a qual teve seu sistema de ensino sucateado na administração anterior, Paulo discorre sobre temas comuns ao dia-a-dia de qualquer grande cidade, e percebe também as limitações que a educação enfrenta no processo de transformação da sociedade.

Sendo assim, o autor não conceitua a educação como a cura para todos os males sociais. No entanto, enxergando os limites até onde poderia ir, delimitou muito bem suas metas e não trabalhou com promessas vazias. Paulo Freire ambicionava coisas simples, mas que na sua compreensão fazem grande diferença para o sucesso do processo educacional. Assim, respondeu perguntas sobre evasão escolar, infraestrutura, capacitação de docentes e reformulação do currículo entre outros temas, do modo “freiriano” de enxergar a educação, ou seja, a maneira progressista de administrar.

De um modo geral, o livro trata das aspirações do autor em relação à sua própria administração, os objetivos que pretendia atingir e sua visão sobre os problemas enfrentados por São Paulo durante a prefeitura de Luíza Erundina. Mais do que isso, veio ratificar o progressivismo já defendido em suas outras obras, o ideal de uma escola pública popular, mais justa e democrática, formada a partir da opinião de todos os envolvidos, tendo particular atenção aos anseios daqueles que estão embaixo, sustentando a pirâmide social - as classes menos favorecidas.

A marca pessoal de Paulo Freire é o equilíbrio entre o idealismo e uma profunda compreensão da realidade. Por sonhar com tantos avanços, não deixava de enxergar uma janela quebrada, um teto que caía, uma criança descalça. Fazia a ponte entre um ideal pelo qual vivia e as necessidades mais urgentes daqueles que sofrem. Um sapato, um agasalho, um olhar de incentivo. È destas coisas aparentemente pequenas que Paulo Freire falava tão abertamente, e que humanizam a visão de quem o lê.

Se Paulo Freire conseguiu atingir todas as suas metas enquanto na Secretaria Municipal de Educação, certamente que não. Existe na política todo um sistema de interesses e burocracia para o qual quatro anos de administração não são suficientes, e nem mesmo oito. O que se dá é apenas o pontapé inicial a projetos que, geralmente, são abandonados pela administração posterior.

Apesar disso, pessoas como Paulo Freire em São Paulo, Darcy Ribeiro e Brizola no Rio de Janeiro deixam marcas. As marcas que ficam estão na mente das pessoas com quem eles trabalharam e cuja percepção social influenciaram. E estas pessoas se encarregam de continuar lutando pelos mesmos ideais que foram a bandeira de suas vidas: a justiça social como uma causa.

E este é, portanto, o verdadeiro trabalho de um revolucionário: independente das mudanças imediatas que se consegue fazer, a transformação interior que suas teorias provocam. Paulo Freire passou, mas ainda está aqui, através das verdades que ensinou, Por isso nos confundimos ao escrever sobre ele, não sabemos qual o tempo verbal mais adequado: Paulo Freire foi, ou Paulo Freire é? Para os educadores comprometidos deste país, ele é - e ainda por muito tempo será . Enquanto existirem diferenças sociais ele estará presente.