Teologia, sexualidade e AIDS

TRASFERETTI, José; LIMA, L. R. Teologia, sexualidade e AIDS. Aparecida: Ed. Santuário, 2009.

Resumo:

Teologia, sexualidade e AIDS é uma obra voltada aos questionamentos acerca do pensamento e posição da Igreja Católica. O trabalho que ela desenvolve está diante da realidade dos soropositivos e a disseminação do vírus HIV. A obra apresenta a Teologia e Pastoral DST, a problemática da homossexualidade e da AIDS e do gênero.

No primeiro capítulo, os autores apresentam o trabalho que a Pastoral DST/AIDS desenvolve. É presidida por Dom Eugênio Rixem, representante da CNBB e é auxiliado em sua maioria, por leigos, e conta com um assessor nacional e um secretário executivo (religiosos franciscanos). A Pastoral tem como objetivo, assistir e acompanhar as pessoas atingidas pela AIDS. A Igreja Católica atua na Pastoral através das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora no Brasil, e não só atua como assumiu sua missão frente à epidemia da AIDS, na Assembléia anual de 2003 da CNBB.

Os religiosos que atuam na Pastoral, propõem uma nova leitura da sexualidade, no que se refere às implicações da epidemia da AIDS, introduzem transformações na estrutura de significados da cultura sexual. O que preocupa a Pastoral de DST/AIDS, é o aumento de infecção pelo HIV entre as mulheres casadas, atingidas pelos seus maridos. Estudos compreendem a vulnerabilidade das mulheres na sociedade brasileira, relacionando-a a concepções de sexualidade e gênero. A pobreza e a falta de informação e recursos têm ligação estreita com as infecções das mulheres.

Leva-se em conta em primeiro plano, no que se refere à homossexualidade relacionada à AIDS, a diversidade sexual. O que marca a interpretação do vírus HIV é a intensa atividade sexual praticada por homossexuais, no instante em que se relacionam suas causas ao comportamento dos doentes. No ano de 1982 foram diagnosticados os dois primeiros casos da doença no Brasil, em homossexuais, no município de São Paulo. “Câncer gay” foi o nome dado à doença assim que foi descoberta, quando foi criada uma rede de significados que associou a homossexualidade e a promiscuidade, como causas da doença. Ítalo Tranca apresenta um sentido alegórico unívoco, onde “o homossexualismo leva à infidelidade, à doença e à morte”. E isso, acontece diante da “ignorância” dos traços exóticos do desejo da cultura gay, transportos por homens homossexuais. Homens que fazem sexo com homens (HSH), sigla empregada pelo discurso médico-científico, que se refere ao estilo praticado pelos homossexuais, que é nome de um grupo de convivência do Cefran (Centro Franciscano de Luta contra a AIDS) que reúnem soropositivos homossexuais, aqui incluem-se católicos, evangélicos e um adepto à igreja GLS.

A epidemia da AIDS, não afeta somente os homossexuais, mas também outros grupos sociais, de modo específico. Segundo um relato, alguns heterossexuais a fim de satisfazerem desejos não encontrados no casamento, procuram bordéis e apóiam seus casamentos em razão dos filhos. A Pastoral da AIDS, diz que para se evitar a contaminação do vírus, é necessária uma conscientização da própria pessoa que “faz sexo” diante de sua vulnerabilidade e que o preservativo é um meio de prevenção. Contudo, afirmam novamente que a infidelidade conjugal é um problema significativo.

A estrutura e hierarquia da Igreja se mantêm fiéis ao pensamento de que o preservativo não é seguro, e o seu uso resulta ao incentivo ao sexo liberal. Isso questiona os valores da moral sexual da Igreja, que a CNBB procura salvaguardar.

Os autores também apresentam o tema sobre “gênero e AIDS”. Aqui é esclarecido que a transmissão da AIDS na sociedade brasileira, deve-se ao grupo heterossexual. As donas-de-casa e as domésticas de baixo poder aquisitivo tem sido alvo da contaminação, mesmo sendo fiéis aos seus esposos, e, isso, tem sido um desafio sintomático para a Igreja Católica. As infecções relacionadas à classe das mulheres apresentam tripla ameaça: no coito vaginal sem proteção com parceiros soropositivos; devido à desigualdade de gênero e pobreza e aumenta o risco de infecção de seus filhos durante o parto, gestação ou amamentação.

No que se refere à prevenção contra a AIDS dentro de casa, para que se haja um modo mais seguro no relacionamento sexual de marido e mulher, os religiosos da Pastoral de DST/AIDS, promovem uma conscientização visando o “diálogo, a fidelidade e a transparência”. Sobre a relação da mulher e do homem na Igreja, Heilborn se manifesta afirmando que é impossível, na intenção de delinear um universo igualitário entre homens e mulheres, abolir as diferenças que se constroem entre os sexos. Para a Igreja, segundo os autores, reporta-se ao relato do mito da criação, onde a mulher foi criada da mesma carne que o homem, oferecendo-lhe ajuda. Os dois são chamados à estar um ao lado do outro, e a observar a liberdade individua, proporcionando o respeito mútuo, para que não relativizem a estrutura cotidiana do casal gerando uma infecção do vírus HIV contraído fora de casa.