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O Clube do Filme – David Gilmour


     
Estive em Belo Horizonte esta semana. Trabalhando. Jurei: não vou comprar nem uma agulha, só comida. Jurei porque sabendo que ia comer em uma Praça de Alimentação, dentro de um Shopping, poderia cair em tentação. Pois é. Caí e quebrei a jura. Comprei três livros. Minhas estantes estão tendo mais livros lidos que não lidos. Assim é que comprei e imediatamente comecei a ler um deles: O Clube do Filme – Um pai. Um filho. Três filmes por semana.

     O autor não é o músico. O músico famoso é inglês, o escritor é canadense. Tentei achar alguma coisa sobre ele no Google.  Deve estar no fim das entradas, só achei pedindo pelo nome do livro. Então o que sei sobre ele é só o que está no livro. O que por sinal é bastante, já que o livro trata do relacionamento do autor com seu filho teen. 

        Jesse Gilmour vive com a mãe, uma atriz, em uma bela casa. Seus pais são separados,  mas são amigos. Maggie, a mãe, é uma mulher sábia: percebe que o filho precisa de uma presença masculina mais constante em sua vida. Então propõe uma troca- de casa. Ela vai viver no loft de David enquanto ele e sua nova mulher, Tina, vão para sua casa cuidar de David.

          Tanto a presença de Tina quanto a de Maggie são secundárias na história. Ali, o tempo todo, durante três anos, o que conta é o relacionamento dos dois.

      Jesse vai mal na escola. Muito mal mesmo. O pai, free lancer, anda com tempo livre porque os tempos estão ruins. Não tendo um trabalho a que se dedicar, entra de corpo e alma na tentativa de fazer Jesse melhorar na escola. Impossível. O menino odeia ir a escola. Então, em uma atitude ousada e fora dos padrões faz uma proposta ao filho: sair da escola. Mas com algumas condições: poucas - assistir a pelo menos três filmes por semana com ele e não se envolver com drogas. O filho topa na hora. Essa decisão foi tomada porque Jesse não gostava de nada, absolutamente nada a não ser ver filmes. David por sua vez também e além do mais, por alguns anos foi um resenhista de cinema para um canal de Televisão.

      E assim os dois começam um relacionamento mais estreito onde um vai aprendendo a conhecer o outro.David tem dúvidas sobre a eficácia de seu método? Sim. Muitas. Mas vão vivendo. E é espantoso perceber a intensidade do amor do pai pelo filho, o seu cuidado no uso das palavras para não magoar ou ferir o filho, a dor que sente quando vê o filho sofrendo. Até parece uma mãe.

       O livro começa assim: Outro dia, eu estava parado num sinal vermelho quando vi meu filho saindo do cinema. Ele estava com sua nova namorada. (...) ... naquele momento me peguei recordando, com uma nostalgia quase dolorosa, os três anos que ele e eu passamos, só nós dois, assistindo filmes e conversando na varanda de casa, um período mágico que um pai não costuma experimentar quando tem um filho adolescente.Agora já não vejo tanto quanto antes (e é assim que deve ser), mas aquele foi um período maravilhoso. Uma pausa feliz, para nós dois.

     O primeiro filme que viram foi Os Incompreendidos, de Truffaut, um filme de 1959. E daí por diante, a cada semana três filmes. Fazendo uma conta, assim por alto, 3x52x3 chego a conclusão que eles viram, caso tenham cumprido o acordo integralmente, uns quatrocentos e cinqüenta filmes. Mas a filmografia inserida no final não chega a tanto. Mesmo assim são muitos filmes. Mais de cem, tentei contar.Tem filmes de todos os tipos. Desde obras de arte a filmes de quinta categoria. 

        Gostei muito do livro. Penso que todos que gostam de ler e ao mesmo tempo amam o cinema vão gostar. Um livro bom para pais darem de presente aos seus filhos. Um livro bom de ler. A gente aprende muito com as reflexões cinematográficas do autor.
 
 
 
 
 

David Gilmour e seu filho - foto tirada do Google.

(Essa foto despertou minha fantasia. Fez com que eu imaginasse os dois, pai e filho se preparando para entrar no Templo do Amor - conforme descrito na crônica de Bernard Gontier, neste site)