A Autonomia Ameaçada

Livro: Bourdieu, Pierre; Contrafogos I; Ed. Jorge Zahar; 1ª Edição - 2001

A Autonomia Ameaçada

Bourdieu = Cita no seu livro As Regras da Arte a autonomia de paises ocidentais, não todos, mas um número considerável. São chamados microcosmos sociais, que Bourdieu chama de campo, campo social, campo literário, campo cientifico, em fim outros campos que compõe esse “microcosmo social”. Esse é o sentido da palavra autonomia. Bourdieu levanta a hipótese/ ou crítica, quanto ao desenvolvimento linear da cultura, (meio artístico e literário) orientado nos moldes hegeliano. Segundo Bourdieu esse avanço autônomo podia ser interrompido, quando instaurasse um regime ditatorial. Ex: censura a algum movimento artístico. Bourdieu chama atenção para os meios de comunicação que deixam o plano social e visa, sobretudo o plano econômico “tanto mensagens televisivas como livros, filmes, jogos global e indistintamente assimilado sob o nome, informação, seja considerado uma mercadoria qualquer é tratado como produto submetido ‘a lei do lucro’”.

É o “microcosmo” campo econômico fazendo uma parceria com o campo cultural. O diferenciado é o grupo orientado para a produção dos conteúdos. O diferenciando é o grupo orientado para a distribuição do produto. Ex: a fusão de dois grupos de comunicação nos Estados Unidos da América. Viacon e a CBS ou a Times Warner e a Internet América Online, (AOL). Bourdieu chama de “integração vertical” a distribuição comanda a produção. Quem distribui conhece o mercado e impõe sobre os meios de produção. É assim na indústria e passa a ser assim com a cultura. Toda produção cultural passa a ser produzido de acordo com o que o mercado exige. Os meios de comunicação trazem as mesmas coisas nos mesmos horários. Ex: os telejornais. É a concorrência interna (entre as redes de TV) que vai influenciar no gosto dos telespectadores. E são esses telespectadores que vão decidir o preço dos anúncios, o conteúdo das mensagens e propagandas. Ex: no horário do telejornal os anúncios são mais caros, principalmente se for horário nobre.

Bourdieu faz um alerta de que essa obsessão pelo lucro a curto prazo é uma “negação a cultura”. Bourdieu aponta também o consumo de produtos midiáticos (Mc Donald) “o consumo desse produto supõe menos capital cultural.” “É o chics”. Esse consumo mídiático e o gosto por modismo é mais freqüente entre os jovens é uma fusão do poder econômico com poder simbólico. Bourdieu cita ainda Gondrich “quando as condições ecológicas da arte” são destruídas a arte não tarda a morrer. Bourdieu lembra num breve relato do “sofrimento” dos pintores para conquistar seu espaço no campo da cultura, não aceitando que suas obras não fossem vistos como objetos lucrativos, ficam mais difíceis encontrar “microcosmos” sociais que quer difundir a cultura como cultura e como objeto lucrativo. Essa “emergência” de evolução se torna processo “involutivo”.

Perde o contato com o autor da obra e se fala com o engenheiro dono do projeto. Segundo Bourdieu, não tem técnico de futebol com características próprias falando por si só, existe um aparato de tecnologias que auxiliam no desfecho final. Se for mal é culpa do técnico, se for bem, é graças à tecnologia.

Bourdieu cita Jacques Rouband, que chama de “poesia sucrilho”. São produções culturais com a função de ambigüidade, enganar os críticos e os consumidores, graças a um efeito de alodoxia. Por isso que Bourdieu intitula esse tema de “A cultura está em perigo” essa massificação cultural perde o sentido e se torna meio de sobrevivência para as grandes mídias. Os filmes de Mary Moore não são como os filmes de hoje. A cultura está perdendo espaço para a “cultura”.

POR UM NOVO INTERNACIONALISMO

Bourdieu chama de internacionalismo o ato de se organizar em prol de um determinado interesse nacional ou transnacional. A palavra que é universal nesse termo é “globalization” que visa uma política internacional e/ou universal. O interesse das potencias sobre tudo as EUA, são como normas “um tem-que-ser”.

Universalizar a cultura seria mostrar para o mundo as “particularidades” de um povo, as tradições culturais e a lógica comercial se apropriam disso a fim de promover um “Laisser - faire”. É como se entregar a lógica do interesse e do desejo imediato convertidos em fontes de lucros (Bourdieu 1930).

É o campo econômico fazendo fusão com campo cultural, os produtores de cultura cineastas e/ou autores de best-sellers são corrompidos pelo campo econômico e tem que atender as exigências para obter lucros. Esse defende e com certa razão a universalização da cultura.

Aqueles que defendem a idéia de internacionalismo cultural. Bourdieu orienta que esse devem se mobilizar no momento em que as forças da economia tendem a submeter a produção e a difusão cultural “a lei do lucro imediato”, deve impor sobre essas potencias econômicas e culturalmente a universalização sob a mascara da “globalization”. Maiores ainda são as ameaças que as medidas neoliberais impõem sobre a cultura. Bourdieu menciona um Acordo Geral do Comércio aos Serviços (AGCS) ao aderir a (OMC) Organização Mundial do Comércio, trata se da abertura de todos os serviços às leis de livre comércio, incluindo a educação gratuita e a cultura. É abrir as portas do estado para o comércio em meios culturais, lazer, entretenimento, etc.

A intenção desse acordo deve se a dois efeitos: 1º é protegida contra a critica e a contestação pelo sigilo de que cercam aqueles que produzem, 2º é carregada de efeitos, as vezes propositais que passam desapercebidos e que não a menor chance de defesa da vitima. Bourdieu cita como exemplo as políticas de redução de gastos no domínio da saúde. Ação de mobilização que deve lutar pelos interesses das classes fica mais difícil. Essas mobilizações estão muito alem de seus direitos corporativos. Toda essa mobilização constitui um governo “invisível”, cujo poder é exercido pelos governos nacionais. Bourdieu chama de “Big Brother” interconectados. O governo decide tudo que o individuo faz, o que comer o que ler o que assistir ou não. Absolutismo dos grandes midiáticos que tendem concentrar todos os poderes econômicos, culturais e simbólicos. Todo esse absolutismo midiáticos contribui para a circulação da “doxa” intrusiva e insinuante do neoliberal. Surge as “máximas” “a economia está se globalizando, logo é preciso globalizar a nossa economia”. Bourdieu cita inúmeras doxas que são impostas por um envolvimento continuo e reforça aquilo que é em si evidente. São como livros de auto ajuda, aconselha o individuo a se dar bem nos seus negócios.

Essas doxas são usadas pelos intelectuais que dependem dessa submissão para sua existência à expectativa de mercado. Para Bourdieu a cultura nos moldes de produtores autônomos se torna tão frágil e ao mesmo tempo tão útil e preciosa. Os produtores “genuínos” e “formais” ao defender sua singularidade, estão defendendo valores mais universais. É a universalização seguindo o caminho oposto da universalização cuturo-industrial-midiático. A 1º tende defender suas origens mesmo estando à beira de falecer. A outra quer ganhar espaço no universo com ações tendenciosas ao meio social.

Ambas continuam tendo uma participação no campo econômico e no poder simbólico. Ex; tem prestigio quem tem uma obra rara na anti-sala da mansão.

P.S.Arantes.

Leia e opine. Sua opinião é muito importante para mim.

PSArantes
Enviado por PSArantes em 02/09/2009
Reeditado em 06/09/2009
Código do texto: T1789425