BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS: HISTÓRIA SOCIAL DA CRIANÇA

Desde a antigüidade, os brinquedos e as brincadeiras estão presentes na vida das crianças. Conforme relato de Ariès (1981), “...graças ao diário do médico Heroard, podemos imaginar como era a vida de uma criança (...), como eram suas brincadeiras, e a que etapas de seu desenvolvimento fisico e mental cada uma delas respondia...” (p. 82), no Século XVII.

Um grande exemplo pesquisado por Ariès, é o caso de Delfim de França, o futuro Luís XIII, uma criança que recebia o mesmo tratamento dado às outras crianças, fossem legítimas ou bastardas. Segundo os registros do médico acima citado, na infância, Delfim com um ano e cinco meses, tocava violino (quando o violino ainda era um instrumento nobre – rebeca – que acompanhava as grandes festas da Corte) e cantava ao mesmo tempo, tocava tambor com toques diversificados, brincava com brinquedos conhecidos como o cata-vento, o cavalinho de pau e o pião, e jogava críquete ou golfe.

Aos dois anos, Delfim dançava todos os tipos de dança, ao som do violino, uma precocidade da dança e da música, muito presente na educação dos meninos desse tempo, o que chamaríamos, na sociedade atual, de criança-prodígio. Quando se recusava a comer era surrado. Aos dois anos e sete meses, embora cantasse e dançasse com os adultos, Delfim também brincava com seus brinquedos infantis como uma pequena carruagem cheia de bonecas, que ganhou de presente.

Aos três anos, Delfim ainda brincava com suas bonecas e outros brinquedos de sua preferência, recortava papel, gostava de ouvir histórias (fábulas) contadas pelos adultos e brincava de rimas destinadas ao público infantil. De quatro a seis anos, além de brincar com bonecas, Delfim já praticava jogos na companhia dos adultos como: cartas, xadrez, “... jogo de raquetes e inúmeros jogos de salão” (Ariès, 1981, p. 86). Quando não brincava com o soldados, brincava de bater palmas, de esconder, de mímica e de adivinhação com os pajens.

Gradativamente, Delfim ia sendo introduzido no universo dos adultos. Quando completou sete anos, Delfim deixou seus trajes de criança e foi entregue aos cuidados dos homens, que tentaram “fazê-lo abandonar os brinquedos da primeira infância, essencialmente as brincadeiras de bonecas: “Não deveis mais brincar com esses brinquedinhos (os brinquedos alemães), nem brincar de carreteiro: agora sois um menino grande, não sois mais criança”. Ele começa a aprender a montar a cavalo, a atirar e a caçar. Joga jogos de azar: (...)”. (Ariès, 1981, p. 87).

O Século XVII deixou várias marcas na história social da criança; uma delas foi o fato da criança ser levada a deixar de ser criança ao completar seu sétimo aniversário; no caso dos meninos, neste estágio, lhes eram delegadas responsabilidades de adultos, conforme fixava a “literatura moralista e pedagógica desse século”. Ao completar sete anos, conforme a situação de cada família, as crianças eram levadas para a escola ou para o trabalho. No caso de Delfim, embora não brincasse com a mesma freqüência de antes, menos com bonecas, se divertindo com os mesmos jogos na sua vivência com os adultos, ainda continuava sendo surrado como em sua infância. Tais registros deixam claro que não havia, por parte das crianças, a idéia de imitar os adultos, mas sim uma busca da representação do mundo real.

Estas foram as situações vividas pelas crianças, quando os adultos da sociedade arcaica ainda não tinham a mesma clareza que se tem nos dias atuais, sobre o significado de infância.

Na sociedade atual, de acordo com Arroyo (1994): “... a infância não existe como categoria estática, como algo sempre igual. A infância é algo que está em permanente construção”. Esta referência do autor objetiva clarear a concepção de infância no Século XX.

BIBLIOGRAFIA:

ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.

Bruxa da Mata
Enviado por Bruxa da Mata em 27/09/2009
Código do texto: T1834833
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.