Luz

Ponta Delgada, 16 de Março, de 2004

O sol surgiu logo de manhã, quando as pessoas se preparavam para irem para os seus empregos. Senti uma felicidade morna, apesar do frio, que ainda anda à roda das coisas.

E a palmeira esguedelhada iluminou-se. O tronco altíssimo da palmeira mãe tornou-se mais rugoso e mais castanho. Tudo ficou cheio de uma luz imensa.

O sol pulou para dentro do dia sorridente, como que a querer afastar o frio e esses laivos de Outono e de Inverno, que ainda pairam no ar. O sol pulou para dentro da minha alma limpa e feliz, mesmo quando eu estive muito próximo do espectro da morte novamente.

Pulou o sol e a vontade de rir e de ser criança, de cantar bem alto! Nem preciso saber o que se vai passar mais logo. Vivo para este momento de mais um encontro amoroso com os meus dedos inquietos e comprometidos com as asas enormes da vida. Das flores multicores, que todos os dias se pintam de tonalidades mais fortes, sei de cor todas as histórias adocicadas. E já trouxe para o dia da tua festa as frísias amarelo vivo. A casa ficou cercada pelo aroma forte e doce das frísias. Lembrava a Páscoa, quando Jesus Cristo sobe aos céus. Para mim a parte mais bela deste momento religioso!

Deliciosamente o meu regaço de mãe também se abre à Primavera fecunda e sempre renovável. O meu colo alonga-se para que os meus dois coelhos caibam. Enroscam-se como o caracol na sua casinhota. Eles são as minhas flores. As suas faces são corolas acetinadas.

Apaguei a luz do candeeiro. Há a luz do sol, entrando a jorros no quarto. Para quê mantê-la acesa? Era ofuscada pelos raios do astro rei.

Mas não apaguei as minhas mãos à claridade ofuscante das minhas sílabas cheias de vigor. Sei deste momento de rizomas e de raízes.

Aricaj
Enviado por Aricaj em 06/07/2006
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