Trem Noturno para Lisboa – Pascal Mercier
 
 
Entrei na Livraria e vi o livro. Como estava para tomar um vôo noturno para Lisboa achei que o livro viria a calhar. Então o peguei e dei uma olhada. Na capa, sobre fundo negro, Isabel Allende diz que foi um dos melhores livros que leu nos últimos tempos. Bom começo,    pensei. Na contracapa a sinopse. Nem precisei folhear. Levei. Pascal Mercier é o autor. Usa pseudônimo, não sei para que. É suíço, de Berna. Hoje vive em Berlim onde é professor de Filosofia.
 
Trem noturno para Lisboa fez tanto sucesso na Europa que passou a ser uma expressão utilizada para referir-se a alguém que pretende mudar de vida. Pois é isso que o livro é: uma guinada na vida do protagonista. Mas Raimund Gregorius não estava pensando em mudar de vida. Ele apenas mudou, de uma hora para outra. E foi assim tão de repente que nem mesmo ele acreditava no que tinha feito. Tudo começou em uma manhã em que ele estava indo para trabalhar. Era uma vida extremamente rotineira. Naquela manhã, chovia. Foi aí que ele viu a mulher na ponte que ia atravessar. A atitude dela o levou a pensar que iria saltar. Então o vento carregou seu guarda-chuva e derrubou sua pasta espalhando os cadernos pelo asfalto molhado. A mulher viu e se aproximou. E escreveu uma sequência de números na testa dele. Bom, não vale aqui escrever tudo o que aconteceu, mas foi bem aí, no começo do livro que ele decidiu tudo, embora não soubesse o que exatamente estava decidindo. Bem, vocês podem não acreditar, mas quando ele perguntou qual a língua materna dela e ela disse Português, foi aí que ele se perdeu mesmo: purtugueish. Uma melodia pura. Bem, para encurtar a conversa ele entrou em uma livraria espanhola e encontrou um livro em português que comprou imediatamente – Amadeu Inácio de Almeida Prado – Um ourives da Palavra. O livro de Mercier vai nos mostrar então Raimund lendo esse livro e viajando para Lisboa para conhecer e viver a vida que Amadeu Prado viveu. É uma longa viagem para dentro de si mesmo através da leitura de um livro em que o autor buscava também a si mesmo.
Achei muito interessante a técnica utilizada por Mercier, mas só de ler os dois primeiros capítulos compreendi   que não seria um livro para levar em minha viagem. Bastante grosso e reflexivo, não era o que eu planejava colocar em minha bagagem. Deixei-o de lado e na volta retomei a leitura que agora acabo. Não é uma leitura fácil, linear. Cada capítulo exigiu uma parada para reflexão. Suas páginas levantam questões filosóficas acerca da vida e da morte, da solidão do homem entre os homens, da busca pela essência da alma. Não é fácil, mas certamente é inesquecível.
 
Apesar de que, o livro tem algumas coisas bem esquisitas. O protagonista que, nunca antes tinha nem mesmo ouvido uma palavra em purtugeish de repente está lendo e traduzido os textos mais complexos. Além do mais como um homem profundamente tímido e sem graça como era consegue se relacionar tão bem com todos os portugueses que encontra sabendo-se ainda que os portugueses não são  lá tão abertos assim?Mas, não é isso que importa no livro e sim a luta pelo autoconhecimento.
 
O livro acabou sem acabar. No percurso da viagem Mund deixa laços que se pressupõe possam ser reatadas a qualquer momento. A impressão que tive é que o autor foi criando ganchos que pudessem ser retomados em outros momentos. Mas, sei lá...  quem pode garantir o que o outro pensa ou quer se nem sobre nós podemos garantir nada? Fernando Pessoa já disse uma vez que em nós há gente de muitas espécies, pensando e sentindo diferentemente. E é assim que continuará a ser enquanto não conseguirmos encontrar nossa verdadeira individualidade, a busca continua através não só de uma única vida, mas pela eternidade. (14/11/09)


 
 Resenhas muito pessoais/só para não esquecer.